01/01/15 |   Plant production

Uso do plástico na agricultura protegida

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Photo: Henrique Carvalho

Henrique Carvalho - Cultivo protegido

Cultivo protegido

Agricultura protegida e plasticultura são a mesma coisa? Nas regiões tropicais, como o Brasil, sim. O cultivo sob ambiente protegido surgiu no norte da Europa, com as orangeries, construídas por grandes casas aristocráticas com o objetivo de ter, no clima frio setentrional, disponibilidade das doces frutas tropicais ou subtropicais, como as laranjas, que deram nome às estruturas. Eram feitas de vidro que, ao capturar a radiação infravermelha no interior das estruturas, criavam o efeito estufa e permitiam calor suficiente para se cultivar. Isso deu origem à ainda hoje florescente agricultura protegida de países como a Holanda.

O advento do polietileno de baixa densidade substituindo o vidro possibilitou, por sua vez, o surgimento e a adoção crescente da agricultura em ambiente protegido nos trópicos. O plástico ainda permite a criação do efeito estufa, mas em menor grau do que o vidro. Nas regiões mais quentes e úmidas do mundo, a agricultura protegida é realizada por outras razões que simplesmente a proteção contra o frio. Aqui, o objetivo é proteger as culturas, principalmente hortaliças e ornamentais, da chuva, do vento, da luminosidade excessiva, e das pragas e doenças.

Em grande parte do Brasil, a chuva em excesso é grande inimiga da produção de hortaliças. É necessário lembrar que nesse tipo de produção, o que conta não é apenas a quantidade produzida, mas também a qualidade, inclusive visual, do que se produz. As intempéries, assim como artrópodes, microrganismos e outros organismos indesejados, podem afetar negativamente a qualidade física e organoléptica das hortaliças.

Tanto em estruturas protegidas quanto em campo aberto, a utilização de mulches plásticos tem aumentado. O objetivo principal é o controle de plantas invasoras - com a cada vez mais intensa urbanização da população brasileira, faltam pessoas para trabalhar no campo e soluções que demandem pouca mão de obra têm ganhado popularidade. A cobertura plástica sobre o solo impede o crescimento das espécies invasoras ao impedirem a luz do sol e, ao mesmo tempo em que diminui a necessidade de mão de obra, previnem o uso de herbicidas. Vale ressaltar ainda que essas coberturas podem auxiliar na economia de água, diminuir as variações de temperatura e até mesmo ajudar a controlar insetos-praga, visto que plásticos de cor branca parecem confundir os insetos e impedir que cheguem às plantas cultivadas.

Fertirrigação

Além das coberturas, a utilização de plásticos na produção de hortaliças e flores sob ambiente protegido tem sido abundante também nos materiais de irrigação – canos, bombas injetoras e dosadoras, tubos gotejadores, microaspersores, entre outros. A utilização generalizada de técnicas de irrigação localizada, como gotejamento e microaspersão, é hoje possível pela utilização de materiais plásticos. Chama-se localizada porque a aplicação da água é feita muito próxima às raízes da cultura, aumentando a eficiência da irrigação, reduzindo as perdas e levando a uma imensa economia de água. A agricultura é grande consumidora de água e, em algumas regiões, tem competido com o uso urbano por esse recurso. Tecnologias que aumentem a eficiência no uso da água se tornarão cada vez mais demandadas.

Além da aplicação de fertilizantes convencionais ao solo, em algumas culturas, principalmente hortaliças, a adubação de plantio pode ser complementada pela aplicação de fertilizantes solúveis dissolvidos na água de irrigação - esta técnica chama-se fertirrigação. No cultivo em substrato, também chamado de semi-hidropônico, a totalidade das adubações pode ser feita via fertirrigação, sem necessidade de uma adubação de plantio.

Uma das vantagens óbvias da fertirrigação é a possibilidade de se subdividir a adubação ao longo do ciclo da cultura visando potencializar a utilização dos nutrientes pelas espécies agrícolas ao disponibilizá-los no momento mais adequado. Por momento adequado, refiro-me à cronometragem de acordo com as necessidades fisiológicas da espécie.

A aplicação de fertilizantes solúveis junto à água de irrigação visa, então, prover os nutrientes certos, nas quantidades corretas, o mais próximo possível ao estádio fisiológico em que o nutriente é mais necessário. Isto só é possível se houver disponibilidade de informação quanto à curva ou marcha de absorção de nutrientes da espécie cultivada em questão, nem sempre disponível para as condições brasileiras.

Em comparação com a adubação convencional, a fertirrigação permite ajustes finos de acordo com as fases de desenvolvimento das plantas, melhorando a eficiência no uso de fertilizantes ao minimizar as perdas. Se o método de irrigação utilizado for localizado, como o gotejamento, a economia de fertilizantes pode ser vantajosamente associada à economia de água.

Menor impacto ambiental

Apesar de todas as vantagens que um material adaptável como o plástico confere, é inegável que há um impacto ambiental em seu uso e principalmente em seu descarte. A preocupação se torna mais e mais relevante tendo-se em vista que, na agricultura protegida, utilizam-se materiais plásticos praticamente do plantio à colheita e que a área ocupada por este tipo de agricultura tende a crescer, com as estimativas para o Brasil já se aproximando dos 25 mil hectares.

Há necessidade de mais pesquisas quanto à utilização de plásticos ambientalmente mais amigáveis, com maior facilidade de biodegradação, com menos contaminantes, orgânicos e inorgânicos, talvez feitos a partir de materiais alternativos, como a cana-de-açúcar. A tendência da agricultura é crescer, principalmente ao redor de grandes centros urbanos. Essa tendência hoje é vista com esperança, pois pode significar uma redução das grandes perdas, principalmente de hortaliças, já que diminuirão as distâncias entre os locais de produção e os de consumo. Obviamente, essa maior aproximação não deve criar mais um problema ambiental para o meio urbano na forma de toneladas de plástico a serem descartadas.

Ítalo Moraes Rocha Guedes
(Chefe-Adjunto de P&D da Embrapa Hortaliças)
Embrapa Hortaliças

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