17/06/15 |   Geotechnology

Plantios de cana-de-açúcar crescem em áreas de citricultura em São Paulo

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Photo: Projeto CarbCana / Embrapa

Projeto CarbCana / Embrapa -

Mapeamento realizado com base em imagens de satélite registradas nos  anos de 1988 e de 2014 mostra a expansão da cana-de-açúcar e a diminuição das áreas ocupadas pela citricultura numa das regiões mais importantes para a produção de suco de laranja do País. Em 26 anos, parte da região norte e o nordeste do Estado de São Paulo viu dobrar a área cultivada com cana-de-açúcar, passando de 1 milhão para 2,2 milhões de hectares, enquanto  áreas dedicadas à citricultura reduziram-se quase pela metade, de 488,6 mil para 281,2 mil hectares.

O levantamento realizado pela Embrapa Monitoramento por Satélite abrangeu 125 municípios, que ocupam uma área em torno de 52 mil km2 e fazem parte das Bacias dos rios Mogi-Guaçu e Pardo. A mudança de perfil na produção agropecuária transformou regiões que antes se caracterizavam como cinturões citrícolas, com impactos sociais,  econômicos e ambientais. São Paulo é o maior produtor de citros do País, com 72,7% de participação na produção nacional e uma área estimada em 501,8 mil hectares, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Porém, só na safra 2013 foram erradicados 36,7 mil hectares no estado, sendo que 70% dessa área foi substituída por cana-de-açúcar. 

De acordo com dados da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA), um total de 5.250 propriedades deixou de produzir citros no estado entre o primeiro semestre de 2012 e o final de 2014 reduzindo o parque citrícola paulista em 35 milhões de árvores (citros). Das propriedades que deixaram de produzir citros, 90% são propriedades de pequeno porte, com menos de 15 mil plantas.

O Município de Bebedouro é um exemplo. A cidade chegou a receber o título de Capital Nacional da Laranja, mas nos últimos anos a citricultura foi sendo substituída gradativamente pelos canaviais. Dados de 1988, mapeados pela Embrapa, mostram que a cultura do citros ocupava naquele ano cerca de 40 mil hectares do município. Já em 2014, essa área foi reduzida para 13,2 mil hectares, enquanto a área cultivada com a cana passou para 39,9 mil hectares. O município tem 70 mil hectares e, hoje, quase 60% de seu território é cultivado com cana-de-açúcar. A citricultura tornou-se uma atividade secundária.

"Com essa mudança, a indústria ligada à citricultura, por consequência, também perdeu força, fechando suas portas e encerrando as atividades no município. No caso da cana-de-açúcar, apesar da cultura ser bastante valorizada, não há usinas instaladas em Bebedouro e o município sofreu com a redução na arrecadação de impostos, já que a produção é comercializada para usinas de outros municípios vizinhos", explica o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Carlos Cesar Ronquim, responsável pelo estudo.

Além de Bebedouro, foram levantadas informações com produtores rurais e representantes da indústria de suco de laranja nos municípios de Colina, Itápolis e Olímpia. São casos em que grandes áreas citrícolas foram tomadas pelos canaviais, que hoje ocupam 50% ou mais do território desses municípios.

Motivos

A baixa lucratividade no setor é um dos principais motivos para a substituição do citros pela cana. Questões como a diminuição da demanda internacional por suco de laranja e a baixa remuneração ao produtor desestimularam pequenos e médios produtores a renovar seus pomares, levando muitos a abandonarem o setor. Além da baixa remuneração, os produtores vêm enfrentando sérios problemas fitossanitários com a doença denominada greening, que surgiu há mais ou menos 10 anos e dificulta a condução normal da cultura, provoca perdas e eleva ainda mais o custo da produção.

Entre os municípios estudados, também foi possível verificar que a área cultivada se divide quase que exclusivamente entre a cana-de-açúcar e a citricultura. "Não ocorreu uma diversificação na produção agropecuária. Antigas áreas dedicadas à produção de culturas anuais e pastagem foram primeiro tomadas pela citricultura e agora pela cana-de-açúcar, ficando a economia do município dependente do desempenho do setor sucroenergético", afirma Ronquim.

Outro lado

O estudo coordenado pela Embrapa Monitoramento por Satélite também analisou outros quatro municípios em que o processo de expansão da cana-de-açúcar vem ocorrendo de forma diferente. Em Casa Branca, Conchal, Mogi Guaçu e Mogi Mirim, uma microrregião mais a sudeste no Estado de São Paulo, a área cultivada com citros cresceu, mesmo com as dificuldades no setor. Nesses municípios, os produtores conseguiram manter a rentabilidade lançando mão de outras estratégias de comercialização do produto e também com a diversificação agrícola na propriedade.

"Quando os preços se tornam inviáveis ou há queda na demanda por parte das indústrias, os produtores comercializam os frutos in natura. São municípios localizados próximos a grandes centros de comercialização, como as regiões metropolitanas de Campinas e São Paulo, o que facilita o transporte e possibilita menores custos", explica o pesquisador da Embrapa. 

O cultivo irrigado de grãos e olerícolas e os reflorestamentos comerciais ainda são presentes na microrregião e também permitiram aos proprietários rurais obter uma boa rentabilidade na propriedade. "Essa realidade enfraqueceu a pressão pela mudança de uso da terra e a expansão da cana", conclui.

Ele afirma, porém, que ainda serão necessários alguns anos para avaliar se a continuidade da baixa lucratividade no setor citrícola não acabará provocando a diminuição da área citrícola também nesses municípios.

CarbCana

O mapeamento realizado pela Embrapa Monitoramento por Satélite é um dos resultados gerados pelo projeto CarbCana, pesquisa que visa avaliar a expansão da cana-de-açúcar numa das principais regiões produtoras do País, o nordeste do Estado de São Paulo. 

Geotecnologias, como as imagens de satélite, são utilizadas para mapear a mudança de uso e cobertura das terras na região, onde áreas expressivas de pastagens, citros, café e grãos estão cedendo espaço para a cana, e avaliar os impactos sociais, econômicos e ambientais decorrentes. Entre as consequências ambientais, a pesquisa dá ênfase às variações na temperatura e no microclima da região e à análise das alterações no estoque de carbono do solo, importante para estudos sobre mudanças climáticas e sobre a emissão de gases de efeito estufa pela atividade agropecuária. O estudo da Embrapa está tendo continuidade com a avaliação dos impactos da expansão da cana-de-açúcar sobre áreas cultivadas com café, pastagem e culturas anuais.

Informações sobre o projeto de pesquisa estão disponíveis em: www.cnpm.embrapa.br/projetos/carbcana/

 

Graziella Galinari (MTb 3863/PR)
Embrapa Monitoramento por Satélite

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