Pesquisadores buscam novos conhecimentos sobre bambu na Colômbia
Pesquisadores buscam novos conhecimentos sobre bambu na Colômbia
No continente sul-americano a Colômbia é o país que mais se destaca no cultivo, manejo, processamento e aplicação do bambu. Para conhecer experiências colombianas com essa gramínea e ampliar conhecimentos sobre a espécie, pesquisadores e técnicos de diversos estados brasileiros participaram de missão técnica ao Departamento de Risaralda, no final de maio. O intercâmbio faz parte das ações previstas no Memorando de Entendimento firmado entre os governos do Brasil e China para a cooperação bilateral em tecnologia e inovação para desenvolvimento dessa cultura nos dois países.
Esta é a segunda viagem para troca de conhecimentos e experiências realizada no âmbito do acordo de cooperação. Em novembro de 2014 pesquisadores e empresários chineses vieram ao Brasil para conhecer iniciativas com o bambu e discutir futuras parcerias com instituições de pesquisa e fomento a essa cadeia produtiva. Além de cumprir agenda institucional em Brasília (DF), São Paulo (SP) e Rio Branco (AC), a missão chinesa visitou áreas de bambuzais nativos no município de Xapuri (AC), para avaliar as potencialidades dos cultivos da região.
Na Colômbia a agenda de trabalho, coordenada por representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), incluiu visitas a instituições de ensino e pesquisa, entre elas a Universidade Tecnológica de Pereira (UCP), considerada referência em estudos com bambu, para conhecer métodos de propagação e as múltiplas aplicações da planta. O grupo visitou ainda propriedades rurais para acompanhar práticas de manejo de populações nativas e cultivos plantados, além de indústrias de beneficiamento, para conhecer técnicas de tratamento e processamento do bambu.
Também integraram a comitiva brasileira pesquisadores da Embrapa Acre (Rio Branco) e da Embrapa Recursos Genéticos (Brasília/BSB), além de membros da Associação Brasileira de Produtores de Bambu e representantes de instituições governamentais, incluindo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac).
Espécies semelhantes
De acordo com o pesquisador Elias Miranda, responsável pelos estudos com bambu na Embrapa Acre, além do elevado nível tecnológico envolvendo o manejo e processamento do bambu na Colômbia, grande parte dos cultivos nativos daquele país pertence ao gênero Guadua, com espécies semelhantes às existentes no Brasil. Esse bambu é largamente utilizado no artesanato, paisagismo e movelaria, entre outras áreas, com destaque para o emprego na arquitetura e construção civil, aspecto que interessa bastante ao Brasil. Essa semelhança facilita a troca de conhecimentos com ênfase na expertise e demandas de cada país.
A agenda integrada possibilitou a interação e compartilhamento de experiências tanto entre os pesquisadores brasileiros, no âmbito da missão, e com pesquisadores colombianos que desenvolvem pesquisas com bambu. "Buscamos conhecer experiências de estudo e aplicações diversas, incluindo desde edificações como pontes, casas e outras estruturas, até a utilização como matéria-prima para produção de carvão ativado, produto com elevada capacidade de filtrar impurezas e reter poluentes, bastante empregado no tratamento de água", explica Miranda.
Entre os especialistas colombianos que receberam a equipe brasileira está o arquiteto Simón Velez, pioneiro em construções com bambu, com projetos desenvolvidos em diversos países, inclusive no Sul da Bahía, e a bióloga Ximena Londonõ, considerada a maior referência em estudos sobre taxinomia de bambus tropicais, envolvendo a identificação, descrição e classificação de espécies.
Os visitantes conheceram a maior coleção de bambus da Colômbia, conservada em uma área rural de propriedade de Londonõ. O acervo inspira trabalhos de pesquisa e serve de apoio a atividades acadêmicas orientadas pela especialista, que deverá vir ao Brasil este ano para compartilhar conhecimentos sobre a planta com pesquisadores de diversos estados. Miranda ressalta que as experiências de pesquisa e a tradição no uso do bambu como matéria prima podem servir de base para o nosso trabalho, pegando carona em tecnologias que se mostram eficientes na Colômbia.
Para o gestor de projetos do Sebrae no Acre, Aldemar Maciel, por ser uma planta de rápido crescimento, o bambu é uma alternativa mais sustentável que outras espécies, mas é necessário fortalecer a pesquisa científica para aproveitar este recurso. "Algumas árvores levam de 20 a 30 anos para crescer, enquanto o bambu se desenvolve plenamente em seis a oito anos. Diante da demanda crescente por madeira e da necessidade de preservar o meio ambiente, o bambu surge como possibilidade viável para substituir essa matéria prima e isto exige aprimorar conhecimentos para possibilitar o uso da espécie".
Resultados
Segundo Amaral, o Acre integrou a missão como um estado do Brasil que tem grande potencial de desenvolver a cadeia do bambu por meio da exploração sustentável porque detém extensas áreas ocupadas com este recurso natural. Entre os resultados práticos da viagem estão desdobramentos que vão permitir potencializar ações voltadas para o fortalecimento da cadeia produtiva do bambu, envolvendo ações nas áreas de incidência da planta.
Um desses resultados é a definição dos termos de um Memorando de Entendimento para cooperação mútua entre Brasil e Colômbia para o compartilhamento de conhecimentos tecnológicos envolvendo o bambu, com previsão de assinatura ainda este ano. Do lado brasileiro o acordo será coordenado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e do lado da Colômbia o Ministério da Agricultura. A cooperação envolve temas prioritários para a cadeia produtiva do bambu como o desenvolvimento de tecnologias para processamento da madeira.
Como resultado mais imediato para o contexto acreano, instituições governamentais e entidades do terceiro setor devem se reunir, ainda este mês, para definir ações de curto, médio e longo prazos para continuidade do projeto de expansão da cultura do bambu e consolidação dessa cadeia produtiva como alternativa de emprego e renda no Acre. No aspecto comercial, a implantação de uma indústria de processamento de bambu, no município de Xapuri, por um grupo de empresários brasileiros e americanos, com apoio do governo local, promete incrementar as atividades com essa planta. O empreendimento em fase inicial, exige atuação nos diversos aspectos dessa cadeia, desde a produção de mudas, cultivo, manejo, e extração, até o tratamento e processamento da madeira.
Do lado da pesquisa, explica Amaral, uma das estratégias de atuação é a parceria entre unidades de diferentes regiões, que também desenvolvem pesquisas com bambu, como forma de potencializar conhecimentos e esforços. A proposta é construir um arranjo para integrar essas pesquisas, aproximar pesquisadores e despertar o interesse de novos parceiros para a temática, além de agregar novos componentes às pesquisas, dentre os quais a incorporação dessa cultura a sistemas de integração lavoura-pecuária. "Isso possibilitaria uma ação conjunta entre diferentes estados, com ganhos para a Ciência, para a cadeia produtiva do bambu e para o agricultor familiar", enfatiza.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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