O solo é um elemento essencial para a produção de alimentos e para a manutenção da vida no planeta. Este ano, resultados de pesquisas para recuperação e conservação deste recurso natural são tema da participação da Embrapa na Expoacre, principal evento agropecuário do estado, realizado no período de 25 de julho a 2 de agosto. O público poderá conhecer mais sobre práticas de manejo adequadas e as tecnologias desenvolvidas para garantir qualidade aos solos e boa produtividade agrícola e pecuária.

De acordo com o analista Bruno Imbroisi, presidente da comissão da Embrapa na Feira, o tema foi escolhido como uma forma de dar visibilidade à importância deste recurso e em alinhamento ao Ano Internacional dos Solos. O Acre está situado em uma área que foi bastante afetada pela formação das cordilheiras dos Andes e isto influenciou diretamente a constituição dos tipos de solos existes no estado. "A partir de uma abordagem geral sobre a formação dos solos no mundo e de sua importância para a produção de alimentos e para a vida no planeta, procuramos mostrar como as pesquisas vêm contribuindo para o melhor uso do solo e conservação deste recurso, considerando as especificidades locais", explica Imbroisi.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o solo abriga 25% da biodiversidade do planeta. As diversas formas de vida que habitam o seu interior, assim como a matéria orgânica depositada sob a sua superfície estão entre os principais indicadores de fertilidade deste recurso, influenciando diretamente nos níveis de qualidade deste recurso.

O pesquisador da Embrapa, Rogério Resende, explica que a matéria orgânica é a principal fonte de energia para a maior parte dos seus microorganismos e de nutrientes inorgânicos para as plantas. "A maior parte do nitrogênio do solo, recurso que ajuda na sua fertilidade, vem da sua decomposição, mas o percentual desse material varia de acordo com a classe, uso e práticas de manejo adotadas. Um solo utilizado com plantio direto apresenta maior teor de matéria orgânica, em relação ao solo com plantio convencional, o que mostra a necessidade de adoção de práticas conservacionistas", diz.

Alternativas tecnológicas

Existem muitas maneiras de conservar o solo, mas é importante que o agricultor conheça as características do solo de sua propriedade para adotar técnicas adequadas de conservação. Realizar uma boa análise da área que deseja utiliza na atividade produtiva é o primeiro passo. No estande da Unidade, agricultores, técnicos da extensão rural e outros profissionais interessados poderão conhecer sobre o processo de análise de solos, por meio da simulação do processo e saber quais nutrientes e adubos são necessários para enriquecê-los e melhorar a produção agrícola.

As alternativas tecnológicas apresentadas pela Embrapa visam a conciliar conservação do solo com aumento da produção tanto na agricultura como na atividade pecuária. Um conjunto de totens espalhados pelo estande possibilita ao visitante conhecer os usos e benefícios das tecnologias para recuperação de áreas de pastagens degradadas, com destaque para a consorciação de gramíneas e leguminosas forrageiras recomendadas para o Acre, os sistemas de calagem e adubação para reposição de perdas de nutrientes e manutenção da capacidade produtiva do solo e os métodos de reforma de pastagens com alta infestação de capim navalha – problema comum na região.

Entre as tecnologias para a agricultura destacam-se o manejo conservacionista do solo, o sistema de plantio direto, os sistemas agroflorestais (SAF´s) e a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF). Estes sistemas funcionam como alternativas ao uso do fogo na agricultura e possibilitam a rotação de culturas, com o plantio sucessivo em uma mesma área, potencializando a produção e promovendo o uso racional da terra. O conjunto de tecnologias está disponível em forma de paineis temáticos produzidos com recursos infográficos, que apresentam informações detalhadas sobre como os produtores rurais podem utilizar cada sistema para melhorar as atividades agrícolas e pecuárias.

No espaço da Embrapa também é possível aprender como se faz um sistema de compostagem e um minhocário. Ainda há um espaço com tipos variados de fertilizantes, curiosidades e estruturas que representam os tipos de solos da região.

Palestras

Além das novidades apresentadas no estande, a empresa também participa da programação geral da Feira com palestras de pesquisadores sobre pecuária, fruticultura e café. O ciclo de palestras acontece de 27 de julho a 1º de agosto, no campus do agronegócio e é organizado pela Secretaria de Agricultura (Seap) em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa.

Curso

A Embrapa leva ainda para a Expoacre o Nutec Móvel, Núcleo Móvel de Transferência de Tecnoloagias, carreta adaptada com cozinha para realização de capacitações. Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/AC) e Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária (Seap), será oferecido o curso "Produção de derivados do leite", entre os dias 28 de julho e 1º de agosto, das 8h às 17h. Participam da capacitação jovens produtores, filhos de agricultores da comunidade Nova Aldeia (Rio Branco) e Ramal Novo Horizonte (município de senador Guiomard).

O objetivo do curso, de acordo com Rômulo Brando, técnico da Seap e coordenador da área de agronegócio da Feira, é proporcionar conhecimentos sobre boas práticas na produção de leite e derivados e agregar capacidade agroindustrial aos agricultores que fornecem leite aos laticínios da região. "Aprender novas práticas de produção, com os cuidados necessários, é importante para garantir qualidade ao produto e abrir novos mercados", afirma.

Solos do Acre

A ONU decretou 2015 como o Ano Internacional dos Solos e espera que a iniciativa sirva para mobilizar a sociedade para a importância dos solos como parte fundamental do meio ambiente e os perigos que envolvem a degradação desta camada da terra em todo o mundo. Dentre as suas diversas funções, o solo responde, direta ou indiretamente, por 95% da produção mundial de alimentos.

Na Amazônia, de acordo com o engenheiro agrônomo Nilson Bardales, especialista em solos e bolsista da Embrapa Acre, a busca de indicadores de qualidade do solo na Amazônia tem sido uma tônica para as pesquisas, cujos resultados auxiliam no entendimento dos ecossistemas e das alterações causadas pelo uso agrícola, principalmente os indicadores físicos, químicos e biológicos do solo.

De acordo com dados do Zoneamento Ecológico e Econômico do Acre (ZEE) os solos predominantes no estado são da classe dos Argissolos, Cambissolos e Luvissolos, correspondentes a aproximadamente 85% dos solos acrianos. Os Argissolos localizam-se na região Leste e Oeste e os Cambissolos se concentram na região central, principalmente nos municípios e Tarauacá e Feijó.

Segundo Nilson Bardales, os solos que apresentam melhor potencial para uso mais intensivo, principalmente com mecanização, são os Latossolos, uma vez que ocorrem em áreas de relevo plano, são profundos e bem drenados, mas necessitam de correção devido à sua baixa fertilidade natural. No Acre, este tipo de solo tem pouca expressividade (em torno de 4%) na composição pedológica do Acre.

"A natureza diferenciada dos solos do Acre em relação aos solos de outras localidades amazônicas, devido à sua proximidade com a Cordilheira do Andes, requer a seleção e adoção de indicadores com base em critérios que se apresentem suscetíveis (sensíveis) às mudanças de uso e manejo do solo, sejam de fácil determinação e de baixo custo", afirma Bardales.