13/06/19 |   Technology Transfer

Projeto Integrado da Amazônia apoia oficinas em comunidade indígena do Acre

Enter multiple e-mails separated by comma.

Photo: Diva Gonçalves

Diva Gonçalves - Celular será utlizado para comunicação comunitária

Celular será utlizado para comunicação comunitária

Moradores da Terra Indígena Puyanawa, localizada no município de Mâncio Lima, na região do Juruá (AC), atualizaram conhecimentos sobre uso de mídias sociais e aproveitamento da mandioca e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), durante oficinas de comunicação comunitária e de incentivo à alimentação saudável realizadas de 3 a 6 de junho. As capacitações fazem parte das ações do projeto “Etnoconhecimento, agrobiodiversidade e serviços ecossistêmicos entre os Puyanawa”, e Projeto Integrado da Amazônia, executados com recursos da Embrapa e Fundo Amazônia, e tiveram como finalidades melhorar as práticas de comunicação e a segurança alimentar nas aldeias.

Desde 2017 a Embrapa executa ações de pesquisa, transferência de tecnologias e comunicação na Terra Indígena Puyanawa, com apoio da Fundação Nacional do Indio (Funai), para fortalecimento da agricultura, fruticultura e da cultura desse povo. Entre os enfoques dos estudos está o levantamento e identificação de PANC, trabalho que conta com a parceria da Universidade Federal do Acre (Ufac) e já revelou a existência de mais de 80 espécies. Outra prioridade do projeto é o apoio à adoção de novas estratégias de comunicação nas práticas de socialização e interação indígena.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, Moacir Haverroth, coordenador dos trabalhos com povos indígenas no Acre, a oficina de comunicação buscou capacitar jovens indígenas para o uso de mídias digitais, como o Facebook, com o intuito de registrar e divulgar as atividades, as belezas, eventos, artesanato, costumes e práticas tradicionais em geral realizadas nas aldeias. “Além de dar visibilidade e fortalecer a cultura Puyanawa, a comunicação popular a partir do olhar dos próprios habitantes das aldeias, ajuda a fortalecer a identidade indígena e permitirá reivindicar melhorias para a comunidade”, diz.

Já a oficina de alimentação permitiu proporcionar novos sabores, com foco na promoção da saúde, por meio do consumo de alimentos saudáveis existentes nas aldeias e ainda poucos utilizados na culinária indígena. “O consumo de PANC possibilita valorizar produtos tradicionais, ampliar a diversidade e melhorar a qualidade nutricional dos alimentos consumidos nas aldeias, preservando hábitos da cultura alimentar indígena. A ideia é que os pratos preparados durante a atividade sejam consumidos no cotidiano das famílias e oferecidos aos visitantes em festas tradicionais como o Festival da Mandioca (Atsá), principal evento da Terra Indígena Puyanawa”, destaca o pesquisador.

Práticas com o celular

Participaram da oficina de comunicação comunitária 30 estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ixubay Rabui Puyanawa.  Realizada nos dias 4 e 5 de junho, a atividade possibilitou a troca de conhecimentos sobre produção de textos informativos, fotografia e uso do Facebook por meio do celular com jovens ativistas da comunicação popular, moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras, Unidade de Conservação localizada no município Pardo de Minas (MG), no Alto do Rio Pardo (MG).

“A comunicação popular é uma forma de envolver a juventude em questões da comunidade. Produzir seus próprios materiais de divulgação e ser protagonistas dessa comunicação estimula o engajamento em prol de questões coletivas e da valorização das tradições locais. Na minha comunidade essas práticas têm dado muito certo e acredito que na Terra Indígena Puyanawa nãos será diferente. É gratificante ver jovens com tanto talento e motivados a contar suas próprias histórias. Nessa troca de experiência todos nós aprendemos”, afirma o ativista Valdir Dias, um dos mediadores da atividade.

A oficina também faz parte dos objetivos do projeto Amazocon, componente do projeto Integrado da Amazônia, que visa, entre outros objetivos, desenvolver e implementar estratégias de comunicação em apoio as ações de transferência de conhecimentos e tecnologia para fortalecimento da produção familiar em comunidades tradicionais da Amazônia. “Como nas aldeias o computador ainda é pouco utilizado, reforçamos as práticas comunicacionais por meio do celular. Há uma diversidade de temas que podem ser abordados e compartilhados com o mundo, via redes sociais e os participantes da oficina poderão atuar também como multiplicadores de conhecimentos na formação de novos comunicadores nas aldeias”, afirma o analista Fabiano Estanislau, responsável pela atividade.

A estudante Ênila de lima Nogueira utiliza o Facebook, Whatsapp e Instagram, mas considera essencial adquirir novos conhecimentos. “Estou aprendendo sobre como utilizar melhor essas ferramentas, mas principalmente sobre fotografia. Olhar o mundo à nossa volta pelas lentes de uma câmera amplia nossa percepção e permite perceber coisas que antes a gente não via. A partir desse olhar próprio e particular sobre nós mesmos vamos poder mostrar nossa realidade e não como outras pessoas pensam que somos”, afirma.

Mandioca e PANC

A oficina de incentivo à alimentação saudável reuniu 20 indígenas na Arena de Eventos da Terra Indígena, no dia 6 de junho, que colocaram a mão na “massa” e prepararam 16 pratos salgados e doces, à base de mandioca, produto tradicional da alimentação do povo Puyanawa. Para atribuir sabores diferenciados e tornar os pratos mais nutritivos também utilizaram diferentes plantas alimentícias, incluindo o espinafre da Amazônia (também conhecido como orelha-de-macaco), importante fonte de proteína, e folhas de laranjeira e limão cravo.

Segundo a professora da Ufac, Eline Messias, ministrante da oficina, as PANC envolvem uma grande variedade de sementes, castanhas, raízes, folhas e frutos presentes na agrobiodiversidade da Amazônia e outras regiões. Por serem fonte de vitaminas e outros nutrientes benéficos à saúde humana, muitas plantas disponíveis nas aldeias, cultivadas ou de ocorrência natural, podem ser incorporadas à culinária indígena para tornar a alimentação mais nutritivas e ajudar a prevenir doenças. Apesar da abundância desses alimentos naturais, há uma tendência de consumo de produtos industrializados nas comunidades indígenas, especialmente naquelas mais próximas dos centros urbanos, como a Terra Indígena Puyanawa.

“Buscamos mostrar alternativas de consumo da mandioca, associando o uso de espécies de PANC, por meio de receitas de fácil preparo como saladas, refogados e sucos, para incentivar hábitos alimentares mais saudáveis entre as famílias. Além disso, enfatizamos aspectos como a higiene na manipulação dos alimentos, importância nutricional dos ingredientes, apresentação, degustação e informações sobre a comercialização de pratos à base de mandioca e PANC”, destaca a nutricionista.

O que mais chamou a atenção do artesão Gedê Bastos foi o empanado de mandioca, elaborado com a raiz ralada, cebolinha verde, pimenta do reino, ervas e outros temperos, e o suco de limão com orelha-de-macaco. “Provei, aprovei e com certeza vou preparar essas e outras receitas em casa e também oferecer na minha barraca durante o Festival Atsá. São fáceis de fazer, podem ser incrementados com outros ingredientes e servidos nas principais refeições ou como lanche. É importante ampliar a oferta de alimentos também para os nossos visitantes”.

Para a dona de casa Decília de Lima Souza a oficina trouxe muitas novidades culinárias, mas a maior surpresa foi o suco de mandioca. “Antes a gente só consumia a mandioca cozida e em forma de farinha. Agora sei que posso preparar muitos alimentos saborosos e ainda incrementar com produtos que tenho no quintal de casa. Não imaginava que aqui na comunidade havia alimentos tão nutritivos e versáteis”, comenta.

Projeto Integrado da Amazônia

A oficina, prevista no projeto como ação do Programa Embrapa & Escola, também está vinculada aos objetivos do projeto Integrado da Amazônia, iniciativa que visa, entre outros objetivos, fortalecer a produção sustentável em comunidades tradicionais da região. Composto por 19 projetos, aprovados no âmbito do Fundo Amazônia, iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, o Projeto Integrado da Amazônia atua nos diferentes estados amazônicos, por meio das Unidades da Embrapa.

Geridos por meio da Fundação Eliseu Alves (FEA), os projetos contemplam ações de pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologias e intercâmbio de conhecimentos com foco na redução do desmatamento, recuperação de áreas degradadas e uso sustentável dos recursos naturais do bioma Amazônia. Além disso, um projeto específico (Amazocon) executa ações de comunicação transversais aos diferentes projetos, voltadas para a divulgação das atividades em andamento e resultados alcançados.

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

Press inquiries

Phone number: (68) 3212-3250

Further information on the topic
Citizen Attention Service (SAC)
www.embrapa.br/contact-us/sac/