Alternativas para potencializar citricultura amazonense são apresentadas em Dia de Campo
Alternativas para potencializar citricultura amazonense são apresentadas em Dia de Campo
Photo: Felipe Rosa
Milheto, em primeiro plano, foi apresentado em Dia de Campo como uma das alternativas de cobertura de solo
Mais de cem pessoas participaram, nesta quarta-feira (12/08), do Dia de Campo Coberturas Vegetais e Novos Porta-Enxertos na Citricultura do Amazonas, realizado em Iranduba, por meio de uma parceria entre Embrapa, Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Durante cerca de quatro horas e em dois locais – Fazenda Santa Rosa e Campo Experimental do Caldeirão – representantes, pesquisadores e analistas das instituições promotoras do evento falaram sobre alternativas importantes que podem aumentar a produtividade e a sustentabilidade da citricultura amazonense, como o uso de coberturas vegetais e de novos porta-enxertos.
Durante a primeira etapa do Dia de Campo, o pesquisador José Eduardo Borges de Carvalho e o analista Cícero Cartaxo de Lucena, ambos da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas/BA), apresentaram os experimentos que estão sendo conduzidos na Fazenda Santa Rosa, com o manejo de diferentes coberturas vegetais – como milheto, braquiárias, feijão-de-porco e calopogônio – nas entrelinhas dos plantios de citros, como forma de controle de plantas daninhas. A técnica reduz os custos e o uso de herbicidas ao longo do ano entre 30% e 40%, promove a cobertura e preservação do solo e o aumento da produtividade dos pomares.
A prática também reduz número de operações com roçadeiras para o controle do mato e o trânsito exagerado de máquinas nos pomares, o que pode causar a compactação do solo. "Além disso, no caso do uso de leguminosas, como o feijão-de-porco, elas realizam a fixação biológica de nitrogênio, e no caso das braquiárias, elas têm a capacidade de ciclagem de potássio e têm grande aptidão para acúmulo de biomassa no solo (palhada)", destacou Lucena, que é líder do projeto Transferência de tecnologias de cobertura vegetal na cultura dos citros e sua contribuição para agricultura conservacionista, trabalho que está alinhado com as diretrizes do Plano da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC).
Conforme Lucena, o custo para plantio e manejo da cobertura de solo também é mais barato do que o manejo convencional, realizado somente com herbicidas. "Fizemos uma projeção de cinco anos e notamos que o uso de herbicidas custa ao produtor cerca de R$ 3450,00, uma média de R$ 690,00 por ano. Enquanto isso, o manejo da cobertura com feijão-de-porco ao longo dos cinco anos custa R$ 2972,50; com braquiária custa R$ 1918,50; com calopogônio custa R$ 1699,50. E estamos falando sobre as vantagens econômicas do manejo da cobertura. Os benefícios ambientais são ainda maiores", disse o analista da Embrapa.
O agricultor de Iranduba, Jolney Sell, presente no evento, destacou a importância que as pesquisas com cobertura vegetal têm para os produtores rurais. "Quando vemos um trabalho assim ficamos felizes, porque faz bem para o meio ambiente, é mais barato e não prejudica a saúde do trabalhador, que tem de estar todo o dia no campo para produzir", disse.
Novos porta-enxertos
Os pesquisadores Cláudio Luiz Leone Azevedo (Embrapa Mandioca e Fruticultura) e Terezinha Batista Garcia (Embrapa Amazônia Ocidental) apresentaram os experimentos que estão sendo feitos com novos porta-enxertos para a citricultura amazonense. O objetivo é oferecer ao Estado alternativas ao porta-enxerto limão-cravo, que hoje é utilizado na maioria dos pomares locais. Os materiais, que foram trabalhados nos últimos 20 anos pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, têm características importantes, como tolerância a pragas e doenças e alguns são ananicantes – o que permite aumentar o número de plantas por área, a qualidade dos frutos e a produtividade, diminuir custos de produção e evitar a abertura de novas áreas para estabelecimento de novos pomares.
Dentre os porta-enxertos testados nas condições do Amazonas estão a tangerina Sunki Tropical, o limoeiro cravo Santa Cruz e os citrandarins Índio, Riverside e San Diego. "A grande novidade para o Amazonas são os porta-enxertos ananicantes, o que permite adensar mais os plantios. Ou seja, o porte da planta é menor e é possível aumentar o número de plantas na mesma área. Não é preciso expandir e abrir novas áreas de floresta. Além disso, os custos para colher em uma planta de dois metros é muito menor do que em uma planta de 3,5 metros, que é o que ocorre no Amazonas: as plantas crescem muito devido às características de solo e clima", destacou Leone.
Período crítico
Durante o Dia de Campo, o professor da Ufam, José Ferreira da Silva, falou sobre o período crítico de interferência de plantas infestantes na citricultura do Amazonas. Nos estudos realizados por sua equipe com a cultura da laranja, foi identificado que no período de outubro a maio é crucial realizar o controle do mato. "Realizamos esse trabalho durante dois anos e percebemos que de outubro a maio é o período crítico, quando existe grande competição entre as plantas infestantes e a laranjeira. Caso não seja feito o controle, pode haver redução de até 75% da produção", disse.
Citricultura no Amazonas
A citricultura amazonense é estratégica no abastecimento do crescente mercado local e contribui para a redução dos preços desses alimentos, que têm seus valores acrescidos devido às longas distâncias existentes entre Manaus e os principais polos produtores de citros. A atividade citrícola na região é favorecida pelas condições climáticas adequadas para a produção ao longo do ano, com excelente regime de pluviosidade.
Abertura do evento
Durante a abertura do evento, o chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, Luiz Marcelo Brum Rossi, destacou a importância do trabalho com citricultura que as instituições estão realizando em parceria. "Esse momento do Dia de Campo é fundamental para mostrar esse trabalho, essa pesquisa para o produtor. Porque o produtor precisa ver no campo como essas tecnologias podem de fato melhorar a produtividade, melhorar a qualidade dos produtos. Esperamos que o trabalho continue avançando e que os produtores adotem essas tecnologias, porque isso vai garantir produção sustentável para o Estado", ressaltou.
Conforme o engenheiro agrônomo do Idam, Luiz Herval, a citricultura tem um grande potencial, mas precisa solucionar alguns problemas ainda para avançar. "Sabemos que a gomose é um grande problema, que às vezes até inviabiliza pomares novos no Amazonas. Então esse trabalho de seleção de novos porta-enxertos vem ajudar muito nesse processo", destacou Herval ao lembrar o esforço que o Estado tem feito para impedir que novas doenças entrem no Estado, como o HLB (Huanglongbing) que até hoje não foi registrada no Amazonas.
O Dia de Campo foi uma atividade do projeto Pesquisa e Transferência de Tecnologias para o Desenvolvimento da Citricultura no Estado do Amazonas. O evento – coordenado pelos pesquisadores da Embrapa, Marcos Garcia e Terezinha Garcia – contou com apoio da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf) e patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Felipe Rosa (14406/RS)
Embrapa Amazônia Ocidental
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