16/07/19 |   Plant production  Low Carbon Agriculture

Sistema de plantio direto na lavoura de mandioca é mais sustentável e rentável

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Photo: Ildos Parizotto

Ildos Parizotto -

Pesquisa mostra que o plantio direto, feito sobre a palhada da cultura anterior, é capaz de aumentar produtividade da mandioca em até 50%, além de elevar a qualidade do solo. Também chamado de plantio mínimo ou plantio reduzido, o sistema de plantio direto (SPD) é utilizado em grandes culturas de grãos, como milho, soja e trigo.

No Centro-Sul do Brasil, região de grande importância na produção brasileira de mandioca e que concentra 80% das indústrias brasileiras produtoras de fécula, o SPD tem sido testado com sucesso na cultura. Conhecida pela sua versatilidade e rusticidade, a mandioca também tem como característica esgotar rapidamente o solo quando não bem manejado, por isso, o SPD foi testado como alternativa para resolver o problema.

O trabalho foi desenvolvido por equipes da Embrapa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), que observaram que a adoção de sistemas conservacionistas de produção poderia trazer vários benefícios para toda a cadeia produtiva, desde a redução de cerca de 90% das perdas de solo, diminuição de custos de preparo da área até a melhoria da qualidade do solo e da produtividade.

Entre os resultados alcançados, foi lançada uma variedade adequada ao plantio direto, a BRS CS01, que está em franca expansão na região, e outra cultivar está prestes a ser introduzida no mercado.

O plantio direto com mandioca

Basicamente, o plantio direto é um sistema que envolve o não revolvimento do solo, como acontece no sistema convencional. Ou seja, a implantação da cultura é realizada diretamente sobre uma palhada dessecada. “Não revolvendo o solo, existe maior preservação da matéria orgânica, diminui-se o risco de erosão, têm-se custos menores e a cultura fica em um ambiente melhor, com temperatura mais amena e maior manutenção da umidade”, explica o pesquisador Marco Rangel, lotado no campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura na Embrapa Soja, em Londrina (PR). O cientista frisa que essas vantagens têm potencial para agregar valor aos produtos processados, uma vez que os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à sustentabilidade do meio ambiente.

O desafio da adaptação

A ideia de adaptar o SPD à cultura surgiu porque a maior parte da mandioca do Centro-Sul está plantada sobre um solo de arenito, bastante suscetível à erosão. “O que se faz comumente aqui é ‘tombar’ a pastagem e fazer várias operações de preparação do solo, de modo que ele fica muito mais sujeito à erosão, o que não podemos aceitar mais. A mandioca entrou na região para promover a reforma da pastagem”, destaca Rangel.

O solo chamado Arenito do Oeste é ainda mais suscetível à erosão por causa da falta de estrutura e da chuva comum na região, salienta o engenheiro-agrônomo Emerson Fey, professor da Unioeste no campus de Marechal Cândido Rondon e parceiro de das pesquisas da Embrapa no Centro-Sul. “A grande vantagem do plantio direto é a proteção do solo. O impacto da gota de chuva é menor e não se perde água”, explica.

Estudo pioneiro 

Experiente no sistema de plantio direto para soja e milho, Fey inovou ao apresentar, em 2010, sua tese de doutorado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sobre o tema “Aperfeiçoamento de um mecanismo sulcador para plantio direto de mandioca”, em que desenvolveu uma haste sulcadora com pequeno número de componentes, com processo de fabricação simples, de baixo custo e com bom funcionamento. “A produtividade obtida com a cultura da mandioca em preparo convencional e em Sistema Plantio Direto foi semelhante, evidenciando que essa técnica pode ser utilizada para o cultivo sem comprometer a produtividade e ainda melhorando a sustentabilidade”, afirma o agrônomo.
Segundo Rangel, nas regiões onde existe rotação de culturas anuais foi mais fácil adaptar o plantio direto. “Isso aconteceu porque já existia um preparo anterior do solo. Porém, nas regiões de pastagem, com o solo já empobrecido, tivemos de ajustar o sistema para que a mandioca viesse a produzir da mesma forma que no convencional. Com os parceiros, desenvolvemos as variedades e uma máquina plantadora e chegamos a um conjunto de fatores que tornou possível o uso do plantio direto”, informa o pesquisador da Embrapa.

Nos preparos conservacionistas mantém-se pelo menos 30% do solo coberto com palha após o plantio utilizando equipamentos como escarificadores ou subsoladores que rompem o solo sem inverter as camadas, como ocorre com os arados de aivecas, de discos e grades.

 “Normalmente, o produtor já usa a plantadora específica para mandioca, que deposita as manivas no sulco de plantio em condições adequadas para a brotação e o desenvolvimento das plantas. Com algumas adaptações nessa plantadora, com o sulcador e o disco para cortar a palhada, o plantio direto já fica viabilizado. Conforme a escala, o produtor também pode fazer manualmente”, assegura o pesquisador.

Cuidados e adaptações do plantio direto

A depender do tipo de palha, da região e do clima, fazem-se alguns ajustes. “Logicamente, é preciso um certo tempo para se ganhar estabilidade, verificar a dinâmica de nutrientes, a resposta das raízes etc. A produtividade não vai aumentar no primeiro ano e o produtor tem de estar ciente que podem ser necessárias adaptações. O excesso de palhada de braquiária na linha de plantio, por exemplo, pode atrapalhar o início da produção. A solução seria, então, remover um pouco dessa palhada”, detalha.

Condições e locais 

No Centro-Sul do País, o cultivo de mandioca em plantio direto pode ser feito desde metade de maio até o fim de agosto nos locais onde a temperatura média é mais alta, e de agosto até outubro, quando é mais baixa. Em relação à estabilidade térmica do solo, experimentos demonstraram que, com o SPD, a regulação média de frio vai de 17,6o C para 18,3o C e quente, de 38,5o C a 30,3o C, considerada bastante positiva para a mandioca, uma vez que reduz a amplitude térmica.

Em áreas em que já é feita rotação de culturas, pode-se usar palhada de qualquer cultura: milho, soja, aveia preta ou trigo. “Já está praticamente concluído o desenvolvimento do plantio direto sobre pastagens, que também são bastante extensas na região noroeste do Paraná”, informa Rangel. A apropriação do SPD na Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é considerada uma boa oportunidade pelo pesquisador.

O cientista alerta para alguns cuidados prévios antes de aderir ao SPD. “O produtor tem de estar preparado para enfrentar esse ambiente diferente, principalmente com relação ao solo. As partes física e química desse solo devem estar bem adequadas”, recomenda Rangel alertando para a importância do uso de uma plantadora adaptada e de variedades adequadas, uma vez que nem todas se adaptam bem ao plantio direto.  “O programa de melhoramento genético da mandioca da Embrapa trabalha fortemente para identificar genótipos que tenham comportamento superior e, ao mesmo tempo, estável dentro desse sistema.  “Acreditamos que esse sistema possa trazer benefícios a toda a mandiocultura”, aposta o cientista.

O que dizem os produtores


Sigmar Herpich, da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca (Atimop), é um dos entusiastas do sistema. “Nós já temos o plantio direto para outras culturas principais aqui na nossa região, como soja e milho. Sobre a palhada do milho safrinha, principalmente, aveia ou trigo se faz o plantio direto de mandioca, que tem várias vantagens em relação ao convencional, especialmente na conservação de solo. A variedade BRS CS01 se apresentou muito eficaz nesse sistema de plantio. Isso é muito gratificante para os agricultores e, consequentemente, para nós que representamos a indústria”, frisa.

Victor Vendramin, de Paranavaí (PR), é um dos produtores parceiros das pesquisas desde 2016. “A primeira diferença, vista de imediato, é a conservação da umidade pela cobertura de palha. Nós estamos desenvolvendo esse plantio direto em palhada de pastagem, no caso, Braquiária brizantha, basicamente com o solo do preparo convencional, no qual a terra é revolvida”, explica.

Segundo o produtor, no sistema convencional, mesmo que a chuva aconteça depois de ter mexido no solo, a umidade dura por cerca de sete dias em média, ficando apta para plantio de cinco a sete dias. Em plantio direto, com a cobertura da palha, essa umidade dura de 20 a 30 dias. Por isso, há um aumento de, pelo menos, três vezes no tempo para realizar o plantio.

Além do aumento da janela de plantio, Vendramin salienta a conservação de carbono no solo. “Evitando revolver o solo, você tem conservação de carbono, que é bem difícil de constituir, e a agregação das partículas de solo, porque em solo arenoso é muito difícil ter essa melhoria. O plantio direto deixa o solo mais fofo, mais agregado e com maior teor de matéria orgânica”, relata.

O produtor conta que não houve uma diminuição da produtividade com a adoção do sistema e que espera essa melhoria com o uso das variedades da Embrapa. “Acredito que, quando essas variedades contarem com quantidade de manivas suficientes para escala comercial, a preocupação em relação à produtividade será sanada”, salienta.

Ao deixar de investir em mais operações de preparo de solo, o produtor notou redução de custos, o que deve se refletir em lucro maior. “O custo do óleo diesel, das máquinas e do operador diminuiu, assim como a depreciação e manutenção dos equipamentos. Se tiver equipamento próprio, a economia é de R$ 1.752,20/alqueire, mas se o serviço for terceirizado, o valor fica em R$ 2.350,00/alqueire”, informa.
 
 

Léa Cunha (MTb 1633/BA)
Embrapa Mandioca e Fruticultura

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