Metodologia mostra probabilidade de regiões serem desmatadas na Amazônia e na Mata Atlântica
Metodologia mostra probabilidade de regiões serem desmatadas na Amazônia e na Mata Atlântica
Pela primeira vez, pesquisadores utilizaram na Amazônia e na Mata Atlântica uma metodologia de monitoramento de desmatamento baseada em risco. O estudo, desenvolvido pela Embrapa no âmbito do projeto Rural Sustentável, avaliou 20 municípios na região amazônica - dez em Mato Grosso e dez no Pará - e 39 municípios na Mata Atlântica, na Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. O ano de referência para o aferimento da ferramenta foi o de 2016.
A metodologia, chamada de Indicador de Hectares Baseado em Risco, foi desenvolvida por pesquisadores britânicos e leva em consideração aspectos quantitativos e qualitativos. Utiliza indicadores como a proximidade de estradas, a predisposição da área para uso agropecuário, a cobertura vegetal e as riquezas minerais para calcular o risco que determinada região tem de ser desmatada.
Método identifica áreas com maior risco de desmatamento
As informações geradas ajudam a identificar áreas com maior risco de desmatamento, caso nenhuma intervenção humana seja realizada, possibilitando que ações de controle, preservação e fiscalização possam ser feitas. Além disso, com essa metodologia é possível fazer uma predição da área que será desmatada, bem como monitorar o desmatamento evitado.
“Mais do que mostrar números, essa metodologia prioriza áreas onde políticas públicas podem ser melhor direcionadas em relação a outras. Os governos estaduais e até federal, que têm recursos limitados, podem direcionar programas contra o desmatamento, ações de reflorestamento, de estímulo às florestas plantadas, ou mesmo de agricultura de baixo carbono a áreas específicas identificadas nos relatórios”, analisa a pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária (SP) Laurimar Vendrusculo.
Atuando na Embrapa Agrossilvipastoril (MT), a pesquisadora foi uma das coordenadoras da frente responsável pelo levantamento referente à Amazônia. O trabalho foi desenvolvido pela equipe do Laboratório de Geotecnologia Agroambiental (Sigeo). A avaliação das áreas da Mata Atlântica foi coordenada pela pesquisadora Margareth Simões e sua equipe no Laboratório de Geoinformação da Embrapa Solos, no Rio de Janeiro (RJ).
“Outros trabalhos já foram feitos na Amazônia, mas com essa avaliação econométrica, acredito que seja o primeiro. Isso nos deu uma ideia de que esses fatores são importantes, mas ao mesmo tempo são desafiadores, pois precisamos inserir essas verdades regionais, entendendo melhor o histórico desse processo de desmatamento na Amazônia”, analisa Laurimar.
Fatores de risco
O grande diferencial do Indicador de Hectares Baseado em Risco é que ele leva em conta os principais fatores que afetam o desmatamento. Para cada área são atribuídos níveis diferentes de risco baseados em cada um desses fatores.
“Uma área com relevo e solo propícios para a agricultura e pecuária, localizada perto de uma rodovia e com potencial de exploração mineral, terá um risco muito maior de ser desmatada que uma próxima a uma área de preservação, com difícil acesso e com relevo acidentado, por exemplo” explica Margareth.
Dessa forma, é feita uma estimativa da perda florestal esperada de cada local por meio do método ACEU (acessível, cultivável, extraível, desprotegido, na sigla em inglês). Para cada um desses critérios é atribuído um valor, que ao fim gera uma escala distribuída em cinco classes de risco de desmatamento: muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo.
A metodologia do Indicador de Hectares Baseado em Risco considera que as áreas de risco muito baixo têm uma perda florestal esperada de 10% de sua área total em 20 anos. O valor sobe para 30% para as áreas de baixo risco, 50% para áreas de risco médio, 70% para áreas de alto risco e 90% para as áreas de risco muito alto.
Com base nessas informações, de acordo com a pesquisadora da Embrapa Solos, é calculada a expectativa de desmatamento para determinada região em 20 anos. Comparando-se esses números com o desmatamento real, observado a partir de imagens de satélite da ferramenta Forest Loss da base Global Forest Change, chega-se ao desmatamento evitado.
De acordo com os pesquisadores, o modelo pode ser aplicado em todo o País, porém, mais relevante do que analisar dados globais, é observar os recortes regionais. “O mais importante é entender a dinâmica municipal. Por que as regiões se comportam econômica, socialmente e culturalmente de forma não similar? Cada uma tem uma história, uma tendência, uma vocação”, explica Laurimar.
Outra vantagem do uso desse modelo é a possibilidade de acompanhamento contínuo para buscar entender melhor os fatores que levam ao desmatamento. “Cidades que desmataram muito em 2016 não são as mesmas que desmataram muito em 2017. Ou seja, algo está acontecendo. Isso precisa ser estudado, para entender esse processo e tentar encontrar fatores similares que possibilitem modelar isso para o futuro”, avalia a pesquisadora.
Já Margareth Simões destaca que uma das maiores vantagens dessa metodologia é a utilização de dados de domínio público, em sua maioria. Isso significa que eles não trazem custos significativos ao desenvolvimento do estudo.
Desmatamento evitado na Amazônia
Nos dez municípios mato-grossenses avaliados pelo projeto Rural Sustentável foi aferido um desmatamento menor do que o previsto pelo modelo para o ano de 2016. De acordo com a pesquisa, o desmatamento evitado foi de 58.573 hectares, ou seja, 40% apenas dos 143 mil ha que eram esperados para aquele ano.
Proporcionalmente, Alta Floresta foi o município que mais evitou o desmatamento, sendo que apenas 25% do total previsto se confirmou. Querência, por sua vez, foi o que mais desmatou proporcionalmente, ultrapassando em 54%, ou 9.453 ha, a previsão do modelo.
O que chama a atenção, no caso de Querência, é que o desmatamento foi maior do que o previsto em áreas classificadas como de baixo risco. De acordo com Laurimar Vendrusculo, esse é um exemplo de situação em que o uso da metodologia indica uma necessidade de atenção maior para entender os motivos que causam aquele desmatamento onde não havia essa expectativa.
No estado do Pará, os dados mostraram que houve maior desmatamento do que era previsto para nove dos dez municípios analisados. Enquanto esperava-se a perda de 122 mil hectares, foi confirmado em 2016 um excedente na perda da cobertura florestal de 185 mil hectares. Em números absolutos, Paragominas foi onde houve maior perda, porém Ipixuna do Pará foi aquele que teve maior discrepância, com o desmatamento confirmado sendo quatro vezes maior do que o esperado. Santana do Araguaia foi o único dos dez municípios paraenses a apresentar desmatamento evitado positivo, com 8.581 ha salvos, 59% do que era esperado.
Desmatamento evitado na Mata Atlântica
Em relação aos 39 municípios avaliados nos estados da Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, a quantidade de Perda Florestal Evitada, com algumas exceções, aumentou. Isso significa que a perda de floresta medida foi menor do que aquela esperada pelos cálculos obtidos pela metodologia. Destaque para a cidade de Araçuaí (MG), onde a perda esperada era de 1.377 ha em 2016, sendo registrada perda efetiva de 277 ha, em 2017.
De maneira geral, a perda florestal avaliada na área de Mata Atlântica diminuiu em 2017, em comparação a 2016, de 23.317 ha para 15.523 ha. Dessa forma, a quantidade de Perda Florestal Evitada aumentou de 16.282 ha, em 2016, para 47.509 ha, em 2017.
Os municípios com maior redução de perda florestal, ou seja, os que mais evitaram desmatamento em 2017, foram encontrados em Minas Gerais: Teófilo Otoni, Setubinha e Novo Oriente de Minas. Entretanto, nesse estado também encontram-se os municipios com maior perda florestal em 2016, variando de 4.400 ha a 1.900 ha.
Entre os quatro estados analisados, o maior desmatamento foi registrado na Bahia, com 4.925 ha, seguido por Minas Gerais, com 3.903 ha, Rio Grande do Sul, com 2.547 ha, e Paraná, com 1.910 ha. Porém, em todos eles a expectativa de perda florestal era maior: 6.050 ha para a Bahia, 8.163 ha para Minas Gerais, 10.190 ha para o Paraná e 10.506 ha para o Rio Grande do Sul.
O Paraná, onde foi registrado o menor desmatamento, era o estado que apresentava a segunda maior expectativa de perda florestal do estudo. Destaque para o município de Primeiro de Maio (PR), que apresentou uma perda florestal de 6,56 ha e tinha expectativa de perda de 495 ha, ou seja, menos de 1,5% da sua expectativa de perda foi efetivada.
Projeto Rural Sustentável
A primeira fase do Projeto Rural Sustentável teve como objetivos principais a redução da emissão de gases de efeito estufa e da pobreza rural, a partir da adoção de tecnologias de produção agrícola de baixo carbono, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e a Recuperação de Pastagens Degradadas. O projeto também buscou melhorar a gestão da terra e das florestas nos biomas Amazônia e Mata Atlântica, por meio da adoção de tecnologias alinhadas ao Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), em propriedades rurais dos estados da Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará e Rondônia.
Financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Governo Britânico (Defra), por meio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o projeto contou com apoio técnico do Banco do Brasil e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A Embrapa foi a responsável pela gestão das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento, sob a coordenação-geral do pesquisador Renato Rodrigues, e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) pelas ações de logística, transferência e comunicação em 70 municípios dos sete estados envolvidos.
A pesquisadora Margareth Simões declara que o Projeto Rural Sustentável é um bom exemplo de aplicação de dados e estudos para evitar a perda de florestas, devido à sua atuação local envolvendo os agricultores na aplicação de práticas sustentáveis. De acordo com ela, ações nesse sentido mostram aos produtores que é possível adotar tecnologias avançadas e conservacionistas em suas propriedades, por razões ambientais e econômicas. “Entretanto, as evidências desse impacto só podem ser fornecidas por uma avaliação de médio e longo prazo, para que o monitoramento de projetos de gerenciamento de florestas nativas, usando imagens de satélite, seja suficiente para observar e avaliar uma área florestal sólida”, avalia.
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