Equipe estuda qualidade da água no âmbito de bacias agrícolas
Equipe estuda qualidade da água no âmbito de bacias agrícolas
Monitorar e estudar bacias hidrográficas têm sido o objetivo de várias ações de pesquisas da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e da Embrapa como um todo, juntamente com as instituições parceiras. Um panorama sobre o progresso dessas pesquisas hidrobiogeoquímicas, com metodologias, resultados preliminares e potenciais para direcionar a agricultura e o manejo de bacias à sustentabilidade foi apresentado em recente seminário em Jaguariúna.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Ricardo Figueiredo apresentou alguns resultados sobre esses monitoramentos e suas implicações, em termos de sustentabilidade na agricultura, ou seja, algumas ações que estão sendo conduzidas, apoiadas por estes estudos, ou mesmo outras, que possam vir a ser implantadas tanto no âmbito dos produtores, quanto no das políticas públicas, aproveitando estes resultados e conhecimentos ou mesmo outros que ainda serão produzidos.
A Embrapa possui uma rede de pesquisa - Agrohidro, que trata das relações dos recursos hídricos na agricultura. "Temos bacias estudadas em todos os biomas brasileiros. Alguns estudos mais específicos tratam, por exemplo, dos benefícios do preparo de área para plantio por meio do corte-e-trituração da capoeira no contexto da agricultura da agricultura familiar na Amazônia onde o uso do fogo ainda é um desafio, inclusive na agropecuária empresarial", diz Figueiredo, coordenador do Projeto Componente 3 - Monitoramento e caracterização quali-quantitativa dos recursos hídricos e sua relação com o uso da terra em bacias experimentais nos diferentes biomas brasileiros.
O pesquisador também ressalta a importância de iniciativas de políticas públicas para pagamento de serviços ambientais hídricos, como isso pode ser monitorado e apoiado, no que se refere a apresentar alguns indicadores que possam confirmar ou não a melhoria da qualidade da água a partir da implantação desse pagamento.
Conforme o pesquisador, "para avaliar as mudanças na hidroquímica fluvial devido a fatores relacionados a atividades no meio rural, é preciso considerar que esta é determinada por fatores naturais (clima, geologia, geomorfologia, solos, vegetação e metabolismo aquático) e por outras fontes poluidoras - industria, esgoto urbano, entre outros".
As taxas de infiltração e o conteúdo de água dos solos são afetados pela textura e porosidade do solo. A água infiltra mais rapidamente em solos com alto teor de areia do que com alto teor de argila. As argilas retêm mais água, devido ao seu alto potencial matricial, conferindo aos solos argilosos certa impermeabilidade e aumentando as taxas de escoamento superficial.
Outro exemplo citado por Figueiredo situa-se no Bioma Amazônia, onde são monitoradas as Bacias do Mojui, Branco e do Tenente Amaral, com as mudanças do uso da terra de 2001 a 2010, em área grande com produção de soja. Além do uso intensivo de fertilizantes e mineralização dos restos culturais de plantios de grãos, o elevado índice pluviométrico contribui para maiores fluxos de nitrato para os rios no período chuvoso.
Na sub- bacia do Rio Japaratuba, em Sergipe, com área de 310 km2 e características de clima agreste, litoral úmido e mata atlântica localizada nos Tabuleiros costeiros/baixada litorânea com uso agrícola - pastagem e cana-de-açúcar, foi constatada poluição proveniente de fertilizantes e esgotos domésticos, com valores acima da Resolução Conama 357/05. Já no Bioma Mata Atlântica, Bacia do Pinhal, SC, verificou-se nitrato e P total influenciados pela produção animal intensiva.
Também no Bioma Mata Atlântica, na Bacia do Jaguari/Camanducaia (SP), os resultados preliminares mostram diminuição da qualidade da água, de montante para jusante no Jaguari e no Camanducaia. Valores de condutividade elétrica (CE) e sólidos totais dissolvidos (STD) crescem em pontos situados em áreas urbanizadas no Jaguari, o que sugere poluentes de fontes pontuais domésticas e industriais. O mesmo padrão é seguido pela temperatura, o que pode ser explicado também pela falta de cobertura florestal.
As microbacias em áreas de cabeceira apresentam as melhores condições em seus córregos, com valores baixos de CE e STD e valores altos, próximos da saturação de oxigênio dissolvido (OD).
Um dos pontos de amostragem situa-se em uma microbacia em área agrícola com uso preponderante em pastagens e outro ponto monitorado, em uma microbacia, em área com matas naturais e reflorestamento, ocorrendo nesta última uma melhor qualidade da água fluvial.
Tais resultados preliminares foram obtidos no Projeto BACAJA, no qual Figueiredo também participa. Nessa iniciativa, a equipe de pesquisa analisa os efeitos do uso da terra sobre aspectos quali-quantitativos dos recursos hídricos em áreas de cabeceira das bacias dos rios Camanducaia e Jaguari. Especificamente em áreas selecionadas como a bacia do Ribeirão das Posses, Extrema, MG, o projeto organiza uma base de dados para aplicação dos modelos AgES-W e SWAT, em parceria com a Agricultural Research Service/United States Department of Agriculture (ARS/USDA), com a participação do pesquisador visitante pelo Programa Ciências Sem Fronteiras do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Timothy Green. Assim como o SWAT, mais conhecido, o AgES-W é uma ferramenta computacional para geração de modelo hidrológico ajustado para aplicação em bacias agrícolas, englobando inclusive a dinâmica de nitrogênio e sua relação com a qualidade das águas fluviais.
O modelo gerado proporcionará a simulação de cenários para avaliar fluxos de água, sedimentos e nitrogênio, inicialmente, e poderá servir de base para políticas públicas no manejo das bacias estudadas e para avaliar sustentabilidade dos sistemas de produção com potencial para direcionar a agricultura e o manejo de bacias à sustentabilidade.
Bacias Jaguariúna
A Embrapa participa da Unidade Gestora do Programa Bacias Jaguariúna e da coordenação das ações de monitoramento hidrológico, a ser realizado por uma Unidade Coordenadora de Execução. O Programa é uma parceria iniciada em 2013 entre Prefeitura Municipal de Jaguariúna, Ambev, The Nature Conservancy (TNC), Associação Mata Ciliar, Embrapa Meio Ambiente e posteriormente a Agência das Bacias PCJ, com o objetivo de criar um modelo de conservação e recuperação de mananciais, que possa ser replicado em outras localidades.
No primeiro momento, o projeto concentra suas ações em uma área piloto, onde está localizada a captação de água para o abastecimento do município, porção da bacia Hidrográfica do rio Jaguari, que por sua vez é responsável pelo abastecimento de aproximadamente 95% da população de Jaguariúna.
O monitoramento constará de avaliações da precipitação e também de medidas nos cursos d'água nas propriedades rurais participantes, onde serão monitorados os parâmetros vazão, temperatura, condutividade elétrica, turbidez, pH, ORP (potencial de oxi-redução), oxigênio dissolvido, nitrato, amônio e fosfato. Servirá de base para avaliar resultado de PSA, que direciona sistemas de produção para a sustentabilidade.
Como aplicabilidade das pesquisas hidrobiogeoquímicas realizadas pelas equipes envolvidas nos projetos destacados, gerou-se também a recomendação de PSA para a "agricultura familiar sem queima" na Amazônia oriental, quando comparada a roças queimadas e agronegócio da produção animal e de grãos.
Por fim, destaca-se o Projeto Solo Vivo, que avalia a qualidade da gestão das terras no contexto do plantio direto em seis diferentes regiões no centro-oeste, sudeste e sul brasileiro. Para isso estão sendo instaladas em 12 microbacias estações automáticas para medição hidrosedimentológica (vazão, turbidez, condutividade e temperatura) e de parâmetros climáticos (chuva e temperatura), além de umidade do solo. Os dados coletados nessas estações são enviados por telemetria, agilizando-se o acesso e tratamento dos dados, assim como a detecção de eventuais necessidades de manutenção dos equipamentos. "Nossa ação direta, como Embrapa Meio Ambiente, é na região de Paranapanema em área com plantio direto na palha e irrigação por aspersão".
Os resultados nas seis diferentes regiões, que incluem avaliações das propriedades do solos serão comparadas com método de avaliação expedito adotado pela empresa Itaipu Binacional, com a participação dos produtores, que utiliza abordagem simples por observação visual, assim como por questionários, visando sua validação e/ou aperfeiçoamento.
Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente
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