Como manejar percevejos na cultura da soja
Como manejar percevejos na cultura da soja
O solo é um dos fatores determinantes da produção. O clima também. Outro fator são as tecnologias: cultivares mais adequadas, manejo nutricional e o manejo fitossanitário.
Produtividade com recorde nacional de 149 sacos de soja. Questão de estresse bióticos e abióticos influenciam no campo para não se obter essa produtividade recorde. Para isso, é preciso desenvolver estratégias de manejo para proteção da cultura e que ela desenvolva seu potencial.
“Manejo Integrado de Pragas (MIP) é o bom senso técnico (ferramentas adequadas), econômico (fazer aplicação somente se for vantajosa), ecológico (usar o ambiente a favor) e social (preservar a saúde do ser humano).”
MIP da Soja é muito fácil. Porém, deve-se usar as ferramentas do MIP de forma equilibrada, utilizando-se todas as táticas de controle.
Tem as pragas iniciais, como coró e elasmo; as de superfície, como tamanduá e os caramujos; depois vêm os desfolhadores, a exemplo das lagartas e vaquinhas; finalmente, as brocas e os percevejos.
Isso e mais detalhes foram abordados pelo pesquisador e entomologista Crébio José Ávila, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) para técnicos da Jotabasso, no dia 8 de julho. O curso fez parte do evento virtual “Manejo Integrado de Pragas em Soja e Milho” realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Embrapa Milho e Sorgo e Jotabasso nos dias 6 e 8 de julho. O moderador foi o pesquisador Rodrigo Arroyo Garcia, da Embrapa Agropecuária Oeste
Percevejo da soja
Os princípios básicos do MIP-Percevejos são: a aplicação do controle conservativo na cultura (dessecação, primeira pulverização, produtos seletivos); reconhecimento das espécies e seus inimigos naturais. “Isso tudo repercute no controle biológico”, diz Ávila. E continua com os princípios falando da importância da amostragem correta de percevejos nas lavouras; da aplicação dos níveis de controle da Pesquisa. “É um instrumento para redução de custo ou de perdas na produção”, diz o pesquisador. Por último, a escolha da tecnologia correta para o manejo do percevejo.
A amostragem com pano de batida (1,40m x 1,00m) é realizada colocando-se o pano na fileira de soja, batendo apenas uma fileira. Depois, conta-se os percevejos que estão nessa fileira. “Para que serve a amostragem de percevejo? Para tomada de decisão: Eu vou controlar ou não o percevejo? Está no momento ou não está? Qual o produto mais adequado? Tem muitas ninfas e poucos adultos? É um instrumento para redução de custos e perdas da produtividade”, explicou Ávila. O que se recomenda atualmente é que se bata uma fileira somente. “Além disso, é muito importante que tenha uma equipe treinada para se fazer a amostragem do percevejo”.
Percevejo marrom (Euchistus heros): em terceiro instar, já tem que ser considerado na amostragem. Percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii): o adulto é bem típico, com uma tarja escura no dorso. Percevejo verde (Nezara viridula): tem postura de ovos hexagonal. Percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus): possui chifres pontudos e tem a barriga verde.
A evolução do percevejo na soja começa em R1 com início da colonização e o início da reprodução acontece entre R2 e R3. “Se não controlar, ele vai aumentando tendo seu pico em R7”, alerta o pesquisador. Depois, começa a cair a população por dispersão e vai para outras culturas, como milho e algodão.
Os ovos do percevejo marrom começam a aparecer em R2.
O percevejo verde-pequeno é o mais danoso dos percevejos, porque ele tem o dobro em tamanho do estilete, com poder grande de penetração na vagem da soja e causar dano. O ataque do percevejo entre R5.1 e R5.3 é o mais sensível, onde acontece o abortamento de grãos e afeta a qualidade dos grãos e o rendimento. O ataque a partir de R6. a R7 causa perda de peso ou deterioração.
Fazer a aplicação de inseticida somente baseado nas amostragens que se faz na cultura e não colocar em carona com fungicida. Na “ausência de monitoramento”, a primeira aplicação é realizada sem a presença de percevejos. A segunda aplicação pode ser tardia com alta população.
Segundo Ávila, “devemos nos preocupar sempre com o manejo de percevejos, da semeadura a R7”. Já a preocupação com o controle de percevejos deve ser a partir de R2 a R3.
Quanto ao efeito do percevejo barriga-verde na soja, a ocorrência de D. melacanthus nos estádios V2 ou R5.1 da soja não reduz o estande nem o rendimento de grãos da cultura; “todavia, infestações deste percevejo no estádio R5.1 da soja reduz o potencial germinativo e o vigor das sementes bem como aumentada porcentagem de sementes picadas e inviabilizadas”.
O melhor horário para se fazer pulverização é entre 11h e 14h, quando os percevejos marrons estão na parte superior da planta. Atualmente a recomendação de inseticidas para percevejos é acefato, clorpirifós e as mistruras neonicotinóides + piretróides ou neocotinóides e fosforados. O modo de exposição dos percevejos aos inseticidas traz resultados positivos quando associados o contato direto (durante a pulverização da soja); o contato tarsal (caminhamento sobre planta após a pulverização); e o contato por Ingestão (sucção nas vagens). Estes três modos de exposição se complementam para um bom controle dos percevejos.
A importância do sal de cozinha (0,5%) na calda do inseticida, no manejo do percevejo é que ele tem efeito arrestante no inseto, aumentando assim a eficiência do manejo. A dose de inseticida se mantém a mesma.
Outro aspecto levantado por Ávila é o “manejo no cedo”. “Atrasa a colonização do percevejo na lavoura de soja”. Também serve para monitorar a sua evolução na cultura da soja, “ao encontrar na soja o percevejo diapausante sem ovos e ninfas”, e realizar aplicações de inseticidas entre R2 a R6 que retarda a colonização da praga na soja.
Em sua palestra, Ávila também falou sobre a distribuição horizontal (espacial) de percevejos nas lavouras de soja. “Geralmente tem ocorrência agregada nas lavouras; algumas áreas têm percevejos e outras não; com isso há a possibilidade do Controle Localizado (químico ou biológico) e obter uma melhor eficiência no controle do percevejo; com a preservação da qualidade do grão/semente; Porém é necessário a amostragem geoespacial de percevejos na soja; para gerar mapas de ocorrências de percevejos na soja”, pontuou.
O pesquisador chamou a atenção para a cultivar de soja tolerante a percevejos que contém a tecnologia Block: BRS 543RR. Seu nível de controle é de 4 percevejos/m de fileira de soja em vez de 2. “São materiais de alta produtividade e o produtor possui maior flexibilidade para planejar o controle, bem como a possibilidade de associar a outras táticas, como controle químico e controle biológico”, explicou as vantagens. O controle biológico nos percevejos é feito pelo Telenomus podisii. Sua liberação pode ser feita manualmente, por motos, tratores ou drones.
Ele ainda mostrou exemplos de MIP de percevejos conduzidos na região de Dourados/MS.
Sílvia Zoche Borges (DRT-MG 08223)
Embrapa Agropecuária Oeste
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