10/11/15 |   Biodiversity

Parceria entre Embrapa e Givaudan buscará essências aromáticas no Cerrado

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Photo: Arquivo Embrapa

Arquivo Embrapa -
A Embrapa e a multinacional de essências Givaudan assinaram um contrato de cooperação técnica com o objetivo de identificar novos ingredientes e óleos essenciais a partir de plantas aromáticas do bioma Cerrado. A parceria prevê a coleta e caracterização química e olfativa dessas plantas para identificar espécies com aplicação potencial na indústria de fragrâncias e cosméticos e abrir novas oportunidades de produção agrícola. O objetivo é agregar valor à diversidade vegetal desse bioma e contribuir para sua valorização e preservação.
 
A parceria com a Embrapa é resultado do projeto "Espécies Aromáticas do Cerrado", coordenado pelo pesquisador Humberto Bizzo, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), que conta com a participação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e da Embrapa Cerrados (DF).
 
Segundo Bizzo, o projeto de pesquisa está sendo desenvolvido em duas etapas. A primeira, executada de 2012 a 2014, foi voltada à coleta de espécies aromáticas do bioma Cerrado. A parceria com a Givaudan do Brasil será determinante para a segunda etapa do projeto, de 2015 a 2017, com a realização de novas coletas e o início da avaliação olfativa de mais de cem amostras coletadas.
 
A caracterização química dos óleos essenciais extraídos das espécies aromáticas foi desenvolvida por ele e sua equipe na Embrapa Agroindústria de Alimentos na primeira fase do projeto. Nessa segunda fase, além da identificação de potencial uso para perfumes e cosméticos, espera-se também identificar as atividades biológicas das substâncias extraídas e o potencial de aplicação em outras áreas como as indústrias de alimentos e farmacêutica.
 
Bizzo lembra ainda que os óleos e frações voláteis extraídos das plantas estão guardados e à disposição das demais Unidades da Embrapa para futuros estudos. A prospecção e a avaliação de bioativos já é parte das atividades de pesquisa de diversas Unidades da Embrapa. A Embrapa Acre, por exemplo, está pesquisando a utilização de óleos essenciais de plantas da região Amazônica para controlar uma praga da laranja. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também fazem parte do projeto e vão testar as atividades biológicas dos óleos essenciais contra fungos e bactérias com potencial patogênico a humanos.
 
Como parte da cooperação técnica, duas representantes da Givaudan, a perfumista sênior, Marion Costero, e a gerente de Tecnologia e Ingredientes de Fragâncias, Virginie Barbesant, estiveram na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. As profissionais deram início à investigação olfativa das espécies coletadas com o pesquisador Roberto Vieira, coordenador das atividades do projeto em Brasília.
 
Nessa etapa da cooperação, está sendo iniciada a avaliação olfativa das espécies aromáticas que fazem parte do projeto da Embrapa. A paleta dos perfumistas conta com aproximadamente três mil ingredientes. Por isso, identificar novas substâncias diferenciadas não é uma tarefa fácil.
 
Somadas a essa ainda existem outras dificuldades pela frente, como por exemplo, identificar formas de propagação e cultivo das espécies aromáticas, avaliar toxicidade do óleo e encontrar parceiros para produzir e extraí-los em larga escala. 
 
"Trata-se de um enorme desafio", ressaltam Marion e Virginie, garantindo que mesmo assim estão bastante animadas com a possibilidade de identificação de novos óleos nunca antes descobertos. "Como o Cerrado é um enorme manancial genético muito pouco conhecido até o momento, e pelos resultados de nossas primeiras análises com as amostras da Embrapa, o projeto se mostra promissor para o futuro", afirmam.
 
Essência do Cerrado na perfumaria mundial
 
Segundo Marion, a investigação de óleos essenciais e novos ingredientes para uso na perfumaria mundial é importante também para a região da coleta, já que valoriza a biodiversidade local e colabora para a sua preservação. Ela explica que, até o momento, não há nenhum ingrediente do Cerrado na paleta da perfumaria mundial. "A inserção de uma matéria-prima deste bioma será determinante para divulgá-lo não só no Brasil, como também no exterior", ressalta a perfumista. Paleta é o termo empregado em perfumaria para representar o conjunto de matérias-primas comerciais que podem ser combinadas pelo perfumista para a criação dos perfumes, numa analogia com os pintores, que combinam as tintas em suas paletas, criando novas cores e elaborando sua pintura.
 
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro em área, ocupando cerca de 24% do território brasileiro. Ocorre, predominantemente, no Planalto Central, com uma flora de cerca de 12 mil espécies, muitas delas endêmicas. É reconhecido como a região de savanas mais rica em vida no planeta. Mas, infelizmente, principalmente em decorrência da forma de expansão agrícola do Brasil, este bioma já perdeu mais da metade da vegetação original. "Por isso, este bioma é hoje um dos hotspots em termos de conservação internacional", ressalta.
 
Além disso, como lembra Marion, é uma região pouco conhecida internacionalmente e até mesmo no Brasil porque, segundo ela, o potencial de uso de suas espécies nativas é muito pouco explorado. A especialista disse que o bioma aparenta ser muito rico em óleos essenciais, o que é favorecido, provavelmente, pela predominância do clima seco. "As espécies nativas do Cerrado podem conter cheiros de interesse para a indústria de perfumaria, com características olfativas peculiares," acredita Virginie.
 
Destaque mundial para o Cerrado
 
A parceria entre as duas instituições, na visão da perfumista, pode beneficiar muito a valorização do bioma Cerrado no mundo todo, já que reúne experiências de duas empresas que atuam em áreas diferentes, mas cujos expertises podem ser muito positivos quando integrados. 
 
"A Embrapa detém enorme conhecimento sobre este e os outros biomas brasileiros e sobre as formas de cultivo das espécies aromáticas, por isso essa parceria é tão importante para nós," declara Virginie. Por enquanto, segundo ela, os trabalhos ainda estão em uma fase bem incipiente, mas no futuro, depois da confirmação do potencial dos óleos essenciais para fragrâncias, será necessário multiplicá-las e cultivá-las em larga escala. "Nesse momento, o know-how da Embrapa será de extrema relevância", reafirma.
 
Pesquisa sustentável
 
Virginie e Marion fazem questão de ressaltar que todo o trabalho é realizado com a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e em bases sustentáveis, integrando aspectos sociais e ambientais. "Sempre procuramos trabalhar em parceria com as populações e comunidades locais, de forma a gerar renda, emprego e preservar as suas diversidades vegetais", enfatizam.
 
A identificação de novos ingredientes de interesse para a indústria de perfumes em áreas ameaçadas, como o Cerrado, é uma das prioridades da Givaudan. "O impacto da descoberta de novas matérias-primas será muito positivo para o desenvolvimento social e econômico das comunidades locais, o que também contribui para aumentar o seu orgulho como detentores daquela biodiversidade. Além disso, ajuda na conscientização da população em geral sobre a necessidade de preservá-la", relata Marion.
 
Considerada a maior fornecedora mundial de essências para indústria cosmética, a Givaudan mantém ações de pesquisa e inovação em fragâncias, organizadas em três principais áreas: finas, produtos de consumo e ingredientes, com o objetivo de desenvolver e criar perfumes para colônias, produtos cosméticos e de higiene pessoal.
 
A empresa já está no Brasil há 66 anos, com sede em São Paulo, e tem como uma de suas prioridades a valorização da biodiversidade brasileira. Essa tendência nacional é reflexo de um programa global, conduzido pela empresa denominado Givaudan Innovative Naturals (GIN), que identifica cadeias de matérias-primas ameaçadas no mundo todo para desenvolver parcerias que beneficiem as biodiversidades locais e também as populações e comunidades, gerando renda e inserção social.
 
O Brasil tem uma importante posição no comércio de essências. É o quarto maior produtor mundial e o primeiro em óleos essenciais cítricos.
 
Simpósio internacional
 
Na semana de 10 a 13 de novembro, todos os especialistas que participam do projeto, incluindo Givaudan, Embrapa, universidades envolvidas e outras instituições do Brasil e do exterior, estarão reunidos no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde participam do 8º Simpósio Brasileiro de Óleos Essenciais (SBOE). 
 
O evento, presidido pelo pesquisador Humberto Bizzo, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, vai reunir representantes de 11 países: Brasil, Itália, Austrália, Estados Unidos, México, Uruguai, Colômbia, Argentina, França, Turquia e Áustria, para trocar informações e experiências em áreas relacionadas às pesquisas com óleos essenciais. 
 
O VIII SBOE acontece paralelamente ao Simpósio Internacional de Óleos Essenciais (ISEO), o evento científico mais tradicional nessa área, que ocorre na Europa anualmente desde 1969. 
 

Fernanda Diniz (4685/89/df)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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