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Cultivares e recomendações de manejo do trigo são apresentados em eventos no Cerrado

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Photo: Breno Lobato

Breno Lobato - Cultivares no dia de campo da Coopa-DF

Cultivares no dia de campo da Coopa-DF

Cultura em expansão no Cerrado do Brasil Central, o trigo tem sido objeto de pesquisas da Embrapa há mais de 40 anos, com a geração de cultivares adaptadas às condições do bioma e de recomendações de manejo do sistema de produção para garantir a produtividade dos trigais e a qualidade dos grãos. Os resultados com trigo irrigado foram apresentados em dois dias de campo: no dia 29/08, na Coopa-DF, no Distrito Federal; no dia 03/09, na Coopadap, em São Gotardo/MG.

O pesquisador Júlio Albrecht, da Embrapa Cerrados (DF), lembrou que no início deste ano os produtores tinham boa expectativa quanto ao plantio do trigo na região. “Infelizmente, para o trigo sequeiro (safrinha) houve falta de umidade do solo porque parou de chover muito cedo, e muitos tiveram frustração de safra. Além disso, o ataque de brusone foi muito significativo, em alguns casos houve até perdas totais nas lavouras”, lembrou. Já para o trigo irrigado o ano foi favorável, com temperaturas noturnas baixas e temperaturas diurnas adequadas, que permitiram o bom desenvolvimento das plantas. O ataque da brusone, principal doença que acomete a cultura na região, não foi significativo, segundo Albrecht. “Produtividades acima de 120 sc/ha com a BRS 264 têm sido comuns este ano”.

Ele estima, no entanto, que a produção total na região em 2024 deverá ser um pouco menor em relação à do ano anterior, quando cerca de 900 mil t foram colhidas. “Neste ano, devem ser colhidas em torno de 800 mil t em função das perdas na safrinha”, projetou, acrescentando que o Cerrado do Brasil Central é muito promissor na triticultura, com potencial de mais de 1 milhão ha para o plantio do trigo irrigado e de 2 milhões a 2,5 milhões ha para o trigo sequeiro.

Produtividade e qualidade de grãos são diferenciais das cultivares BRS

O pesquisador apresentou as principais características das cultivares de trigo irrigado BRS 264, BRS 254 e BRS 394, além do trigo sequeiro BRS 404.

Lançada em 2006, a BRS 264 permanece no mercado devido à elevada qualidade industrial e à grande aceitação pelos moinhos, além de ser o trigo mais produtivo e precoce (110 dias) no Cerrado do Brasil Central e um dos materiais mais plantados na região. Em 2021, o produtor Paulo Bonato, de Cristalina (GO), obteve 160,5 sc/ha com a cultivar em uma área de 50 ha, quebrando o recorde mundial de produtividade média diária.

Apesar de recomendada para o sistema irrigado, pode ser plantada em sistema de sequeiro em regiões como o Sul de Minas Gerais, com produtividades de 60 a 80 sc/ha. Além da precocidade, que representa economia de água e energia para o triticultor, Albrecht destacou a qualidade industrial da cultivar, cuja estabilidade da farinha é acima de 24 minutos e a força de glúten (W) acima de 250.

“Os moinhos da região têm uma grande preferência na compra de grãos dessa cultivar devido à excelente qualidade industrial para panificação. O rendimento industrial de grãos é um dos mais elevados do mercado – os moinhos conseguem extrair até 66,5% (a 14% de umidade) do grão para a produção de farinha, obtendo maior rentabilidade.

 

Em ensaio com 11 cultivares de trigo irrigado realizado pela Fundação Bahia em Luís Eduardo Magalhães (BA) em 2021, a BRS 264 foi a mais produtiva (101,28 sc/ha) e a mais precoce, mesmo com aplicação de nitrogênio em dose menor (140 kg/ha) que as demais (180 kg/ha).

Contemporânea da BRS 264, a BRS 254 tem produtividade média de 120 sc/ha, sendo que o produtor Paulo Bonato chegou a alcançar, em 2017, 139,8 sc/ha com a cultivar. Apresenta ciclo precoce a médio e é classificada como trigo melhorador, com estabilidade de farinha acima de 25 minutos e W acima de 300 x 10-4 J. As plantas têm grãos mais duros e toleram melhor as chuvas na colheita.

Mais recente, a BRS 394 também apresenta alta produtividade (130 sc/ha em sistema irrigado e 70 sc/ha na safrinha) e ciclo precoce. Por ter a espiga mais aberta que a BRS 264, permite maior eficiência no uso de defensivos para controle da brusone. É classificada na região como trigo melhorador devido à elevada estabilidade (acima de 25 minutos), além de apresentar elevado rendimento de farinha (62,5% a 14% de umidade).

Desenvolvida para o sistema de sequeiro (safrinha), a cultivar BRS 404 se destaca pela tolerância à seca e ao calor. “Mas muita gente também planta esse trigo em sistema irrigado, principalmente sob pivôs mais antigos, que não têm uma boa capacidade de irrigação para altas produtividades, ou quando há insuficiência de água para irrigação. A cultivar pode produzir 100 a 110 sc/há com excelente qualidade”, explicou o pesquisador. Sob sistema de sequeiro, apresenta produtividade média de 70 sc/ha e ciclo precoce. Classificada como trigo pão, a cultivar tem força de glúten de 320 x 10-4 J e estabilidade de farinha acima de 14 minutos.

Em ensaio conduzido pela Coopa-DF em 2021 com oito cultivares de trigo safrinha, a BRS 404 foi a mais produtiva (59,47 sc/ha) e a com o maior peso hectolítrico (PH) (84), medida associada ao rendimento de farinha. “Os materiais haviam sido plantados no final de março, quando já tínhamos perdido boa parte das chuvas, e ela colheu quase 60 sc/ha com no máximo 100 mm (de chuva), tamanha a tolerância à seca e ao calor”, comentou Albrecht.

A cultivar obteve produtividade recorde (71,15 sc/ha) em outro ensaio da cooperativa, realizado em 2023 com 12 cultivares de trigo sequeiro. “No ano passado, as chuvas foram melhor distribuídas e a safrinha foi boa, com média de 45 a 50 sc/ha, ao contrário deste ano, em que os produtores tiveram perdas significativas”, disse o pesquisador, acrescentando que em 2024 a BRS 404 foi das poucas cultivares que alcançou PH acima de 78.

“A safra de 2024 foi muita adversa para o trigo sequeiro, mas a cultivar manteve a qualidade de grãos. Os produtores conseguiram colher, numa condição de extrema seca, 20 a 30 sc/ha. A maioria dos materiais que observamos não alcançou o PH 78, que é o mínimo aceito pelos moinhos para a produção de farinha para pão.

Recomendações de manejo da cultura para uma alta produtividade

O pesquisador Jorge Chagas, da Embrapa Trigo (RS), apresentou recomendações gerais para o manejo das cultivares de trigo irrigado da Embrapa na região.

O primeiro passo é o planejamento, que deve considerar a situação do sistema de rotação ou sucessão de culturas de modo que o pivô de irrigação esteja liberado na época ideal da semeadura do trigo; a aquisição de insumos como herbicidas e regulador de crescimento; a escolha da cultivar mais adequada ao sistema e aos objetivos (maior rendimento e qualidade de grãos, maior tolerância a doenças, maior tolerância ao acamamento, entre outros) e a aquisição das sementes; o maquinário, já que a semeadora permite a uniformização da lavoura, contribuindo para a eficiência de uso do redutor de crescimento; e as possibilidades de comercialização.

O período de 5 a 20 de maio é a época ideal de semeadura do trigo irrigado na região, janela de tempo que permite o maior potencial de rendimento e de qualidade de grãos. “Se o produtor plantar um pouco antes, pode ter problemas com manchas foliares no início do cultivo. O desenvolvimento das plantas vai acelerar e o ciclo será encurtado. E se ele plantar após o dia 20, haverá o risco de temperaturas elevadas durante o enchimento dos grãos e chuvas na colheita”, alertou Chagas.

A semeadura pode ser feita a lanço ou, preferencialmente, em linha, pois além da maior eficiência no uso de fertilizantes, da menor quantidade de sementes necessárias e da uniformidade da lavoura, o uso da semeadora garante a profundidade do plantio. “Isso é importante para a ancoragem da planta. No plantio a lanço, pode haver problemas de acamamento porque as sementes superficiais não têm ancoragem. À medida que ocorre o enchimento de grãos, o trigo vai acamando”, explicou o pesquisador.

Ele mostrou resultados de ensaios sobre a densidade de semeadura em áreas de parceiros em Cristalina e Unaí (MG), que determinaram a população ideal de plantas das cultivares da Embrapa. “Plantios com densidades mais elevadas que a dose recomendada têm maior predisposição ao acamamento”, disse.

Quanto ao manejo da adubação, o pesquisador destacou recomendações para a adubação de manutenção, de fósforo, potássio, boro, zinco e correções com calcário e gesso agrícola. Também indicou aplicar pelo menos 20 a 40 kg/ha de nitrogênio na semeadura. Já na adubação de cobertura, indicada para cada cultivar, deve-se aplicar o nitrogênio do plantio até 15 dias após a germinação – aplicações depois desse período não melhoram a qualidade de grãos das cultivares da Embrapa. Chagas ainda acrescentou que o excesso de nitrogênio em áreas férteis pode levar ao acamamento das plantas.

O regulador de crescimento, usado para redução do porte e o fortalecimento da planta, o que reduz o acamamento, deve ser utilizado conforme a recomendação do fabricante: geralmente aplicação única de 0,5 L/ha no primeiro nó visível. Segundo o pesquisador, o regulador de crescimento deve ser aplicado nos horários de temperatura mais amena e com pouco vento. “Também é importante ter a densidade de semeadura e a dose de nitrogênio adequadas, a uniformidade da lavoura e a correta identificação do primeiro nó, além de não irrigar por dois ou três dias para que a planta absorva bem o produto”, acrescentou.

Por fim, Chagas mostrou que está disponível na página da Embrapa Cerrados o programa gratuito Monitoramento de Irrigação para acompanhamento da demanda hídrica das lavouras com cultivares da Embrapa. No caso do trigo, basta selecionar “Culturas Anuais”, “Trigo Embrapa 22” para a BRS 254 ou “Trigo Embrapa 42” para a BRS 394 e a BRS 264 e o tipo de solo, informando a data de emergência das plantas.

Em São Gotardo, o destaque foi a apresentação de um trabalho para avaliação de solos na região, já que o trigo se beneficia da rotação de culturas como as hortaliças, aproveitando a adubação das hortaliças para reduzir custos de produção no trigo, enquanto o trigo quebra o ciclo de pragas e doenças nas hortaliças. “O sistema de produção precisa ser ajustado a cada realidade do Cerrado, onde o trigo nem sempre representa a principal cultura de importância econômica, mas assume o papel de maior importância agronômica nos diversos sistemas em uso na região centro-oeste do Brasil”, explica o engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo, Bruno Lemos.

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