13/11/24 |   Research, Development and Innovation

Biotecnologia para o enfrentamento de doenças é tema de palestra para jovens pesquisadores

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Photo: DMAguiar

DMAguiar - A bióloga Lenita Ramires, pesquisadora da Embrapa (Campo Grande-MS), associa a biossegurança ao risco zoonótico, ressaltando que 65% das doenças emergentes em humanos, hoje, têm origem zoonótica.

A bióloga Lenita Ramires, pesquisadora da Embrapa (Campo Grande-MS), associa a biossegurança ao risco zoonótico, ressaltando que 65% das doenças emergentes em humanos, hoje, têm origem zoonótica.

O avanço tecnológico trouxe muitos benefícios para as áreas de Ciências Agrárias e Biológicas, como a tecnologia do DNA recombinante e a edição gênica por CRISPR e, nesse cenário, que se faz necessário entender o papel da biossegurança. Inserida no contexto de saúde única, conectando saúde humana, animal, vegetal e ambiental, a biossegurança é aliada no enfrentamento de doenças. 

A bióloga Lenita Ramires, pesquisadora da Embrapa (Campo Grande-MS), associa assim a biossegurança ao risco zoonótico, ressaltando que 65% das doenças emergentes em humanos, hoje, têm origem zoonótica. Isso exige organização e planejamento, a partir da análise e prevenção de riscos, pois ao se reconhecer um perigo é possível classificá-lo como risco em uma simples manipulação. 

“Fazer o que for possível, nesses casos, é melhor do que nenhuma tentativa”, posiciona. Com o devido treinamento e qualificação da equipe, esse possível é amplificado, segundo ela. Além de capacitação, infraestrutura adequada, disponibilidade de equipamentos de proteção individual (EPI), manutenção de ambiente e materiais, logística e transporte, resistência cultural e adesão, normas e regulamentação e controle em campo são pontos críticos para a biossegurança que devem ser acompanhados. 

Quando tais fatores são atendidos há sucesso, como o Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-PNEFA) que tem a vacinação sistemática, o monitoramento e a vigilância, a educação e a capacitação, e o controle de fronteiras e fiscalização como estratégias de biossegurança para a erradicação em zonas livres de vacinação, fortalecendo a exportação brasileira, por consequência. 

Adicionalmente, há inovações e soluções chegando. Ramires cita a automatização, as cabines de biossegurança de última geração assim como os EPIs, a biodescontaminação e outras variedades de desinfetantes, a inteligência artificial (IA) para análise preditiva de riscos, os laboratórios móveis de contenção biológica, os softwares de rastreamento de amostras e inventário, e a realidade virtual aumentada. 

“A biossegurança é uma abordagem estratégica e integrada para analisar e gerenciar os riscos relevantes para a vida e a saúde humana, animal e vegetal e os riscos associados para o meio ambiente”, define a especialista em biologia molecular, que aponta a Lei nº 11.105, de 2005, a Lei de Biossegurança, um marco inicial para a Ciência brasileira nesse âmbito. A Lei estabelece as normas de segurança e fiscalização para as atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGMs).

Jornada Científica 
“Os desafios e as soluções em biossegurança na medicina veterinária: inovação e enfrentamento de doenças” foi tema da palestra proferida por Lenita Ramires, durante a V Mostra Regional de Ciências Agrárias, promovida pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Famez/UFMS) e Embrapa, na última semana. A primeira que a Embrapa Gado de Corte participou com a sua Jornada Científica e levou 43 resumos. 

Entre eles, o trabalho de iniciação científica de Guilherme Loff, Yasmin Said, Mariane Vilela, Luíce Gomes e Andréa Raposo, intitulado “Análises iniciais da transferibilidade do marcador molecular SCAR p779/p780 entre espécies do gênero Urochloa”, foi destaque na apresentação oral. 

Na categoria pôsteres, o “Uso de bactérias promotoras de crescimento em megathyrsus maximus”, de Bruna Vieira, Mateus Santos, Liana Jank, Mariângela Hungria e Alexandre Dias foi destaque na área ‘Agronomia e Engenharia Florestal’. Já na ‘Multidisciplinar’, foi a pesquisa sobre “Avaliação da modulação do perfil de resposta imune humoral para desenvolvimento de uma vacina contra cisticercose bovina”, de Júlia dos Santos Silva, Lenita Ramires, Paula Suniga, Jessica Moriya, Juliana Rieger, Guilherme Sousa, Eronides Marques e Flábio Ribeiro. 

Comissão Organizada da V Mostra Regional de Ciências Agrárias

A mudança no formato do evento está também na concepção e modelagem do mesmo. Pedro Paulo Pires, coordenador da Jornada 2024, comenta que a iniciativa desmistifica o conceito que se tem a respeito da Embrapa e como atuar em parceria com ela. Além disso, a interação entre estudantes, pesquisadores e professores traz ganho mútuo, acrescenta Andréa Raposo, vice-coordenadora. Os pesquisadores da Embrapa ratificam que levar os trabalhos da entidade para fora de seus portões abre infinitas possibilidades. 

Na observação de Gelson Difante, coordenador da pós-graduação em Ciência Animal da UFMS e integrante da coordenação da Mostra, já há articulações entre os especialistas das instituições, ocorrida durante os dias da Mostra, para futuros projetos, inclusive com intercâmbio de bolsistas. Atitude igualmente comentada por Pires e Raposo. Difante atua com os pesquisadores Denise Montagner, Alexandre Araújo e Rodrigo Gomes da Embrapa; enquanto Pires colabora, intensamente, com o mestrado profissional em Pecuária de Precisão da universidade. 
 
A parceria elevou o número de resumos apresentados. Em anos anteriores, a Mostra recebia ao redor de 50 trabalhos, conforme revela o diretor da Famez, Carlos Augusto Ramos. Em 2024, quase 200. Para Difante, Pires e Raposo, os alunos veem as duas organizações como uma janela de oportunidade, seja para estágio como para discussões enriquecedoras, capazes de incrementar estudos em andamento. 

“É uma experiência única esse desafio de apresentar trabalhos, ser avaliado por professores, que têm convívio mais próximo, mas também por pesquisadores da Embrapa. Isso enriquece e desafia, traz motivação. Acredito, inclusive, que aqueles que não se apresentaram se sentirão estimulados a participar nas próximas edições”, aposta o professor Difante. A animação dos jovens e a competência foram pontos notados na qualidade dos papers.

Avaliador dos trabalhos, Márcio Sanches considera toda essa troca fundamental para a Ciência. O fitopatologista da Embrapa vê nessa interação multidisciplinar uma saída diante de tantos desafios, que vão exigir investigações em rede para superá-los. “Não é só importante, é imprescindível se quisermos avançar”, afirma.

Depoimentos
“É a minha primeira Jornada. Apresentamos alguns resultados na SBZ e agora na Jornada. Achei esse formato interessante, porque os pesquisadores da Embrapa estão aqui e os professores da UFMS também para avaliarem nossos trabalhos. Temos contribuições diferentes! De visões! Sempre tem algo que poderei complementar e isso nos ajuda a chegar em outras conclusões.” Laura Machado, bolsista de pós-graduação, mestrado. Atua com Gilberto Menezes e Rodrigo Gomes na influência do microclima em relação ao consumo de água dos animais da raça Nelore. 

“É uma forma de trocar conhecimentos, porque muitas vezes a gente faz projetos e fica com alguns questionamentos. Então, quando se faz uma interação, como essa, a troca facilita a interpretação de dados, de resultados, de tudo.” Odair Fênix, doutorado em Medicina Veterinária na UFMS e professor na UEMS. Pesquisa a influência do tamanho do folículo sobre a qualidade de embrião produzido in vitro.

“Ser desafiado dessa forma é uma oportunidade, além de mostrar o nosso trabalho e aprender também. É um aprendizado que vem tanto da Federal quanto da Embrapa. Vimos trabalhos que podem nos ajudar, como um sobre diferimento. É possível agregar.” Vítor Carrelo (estágio graduação) e Mariane Firmino (bolsista de pós-gradução, mestrado). Atuam com Denise Montagner e Alexandre Romeiro em estudos sobre a estrutura de Brachiaria decumbens pastejada por bovinos de corte durante o período seco, no bioma Cerrado.

“Encaro com responsabilidade esta tarefa de ser avaliador. A gente está passando orientações aos alunos, opinando e criticando o trabalho deles, mas ao mesmo tempo contribuindo com sua formação, aguçando o espírito crítico. Dessa forma, eles podem refletir melhor sobre sua pesquisa, buscar novas metodologias e novos caminhos para as questões científicas. Conforme a gente vai sendo avaliado, a gente vai pegando experiência, crescendo, melhorando nossa postura como apresentador e amadurecendo como cientista”. Márcio Sanches, pesquisador da Embrapa, em sua 3ª Jornada.

Fotos aqui (por Rodrigo Alva e Suelma Bonatto). 

Dalízia Aguiar (MTb 28/03/14/MS)
Embrapa Gado de Corte

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