13/01/25 |

Artigo: Bioinsumos e combustíveis do futuro fortalecem a transição energética

Enter multiple e-mails separated by comma.

Além dos benefícios ambientais, a regulamentação dos bioinsumos e dos biocombustíveis avançados traz possibilidades de impactos econômicos significativos para o país.

No centro das discussões globais sobre mudanças climáticas e sustentabilidade, a transição energética se apresenta como um dos grandes desafios do século 21. O Brasil, com sua vocação agrícola e liderança em bioenergia, tem uma oportunidade única de liderar essa transformação, especialmente com os avanços recentes em marcos regulatórios fundamentais para os setores agrícola e energético.

Além dos benefícios ambientais, a regulamentação dos bioinsumos e dos biocombustíveis avançados traz possibilidades de impactos econômicos significativos para o país. A adoção de bioinsumos reduz a dependência de fertilizantes e defensivos químicos importados, propiciando economia para o produtor rural e aumentando a competitividade do agronegócio brasileiro nos mercados internacionais.

A cadeia produtiva de biocombustíveis, ao integrar soluções de baixo carbono, estimula a diversificação no campo e a criação de empregos qualificados, desde a pesquisa científica até a produção agrícola e industrial. A evolução do etanol de milho, por exemplo, destaca-se como um marco na diversificação energética, unindo impactos nas dimensões ambiental e econômica, com substancial agregação de valor à produção.

A produção de etanol de cereais contribui não só para a redução de emissões, mas também gera coprodutos valiosos como o DDGS, utilizado na formulação de rações animais. Essa integração aumenta a eficiência alimentar e reduz custos na pecuária, exemplificando como soluções agroenergéticas podem diversificar negócios e impulsionar a sustentabilidade de maneira sinérgica em múltiplas dimensões.

No caso do biometano, o Brasil possui potencial para produzir até 84,6 bilhões de Nm³/ano a partir de resíduos agroindustriais, o que supera em mais de duas vezes a oferta nacional de gás natural registrada em 2022. Essa alternativa não apenas reduz custos energéticos, mas também promove a economia circular, aproveitando resíduos que antes eram descartados, muitas vezes com impactos ambientais danosos.

No setor agrícola, a substituição de fertilizantes químicos por bioinsumos pode gerar uma economia anual de até US$ 5,1 bilhões, especialmente em culturas como milho, arroz e trigo. Além disso, essa prática contribui para a redução de emissões de gases de efeito estufa e a melhoria da saúde do solo, promovendo a sustentabilidade, a produtividade nas lavouras e a imagem dos produtos agrícolas brasileiros.

Embora a produção global de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) ainda seja limitada, estudos indicam que seu desenvolvimento e escalonamento podem reduzir em até 80% as emissões de gases de efeito estufa do setor aéreo, um dos mais desafiadores para descarbonizar. Essa tecnologia representa uma oportunidade única para o Brasil consolidar sua liderança em soluções avançadas de energia sustentável, contribuindo de forma decisiva para a transição energética em setores estratégicos da economia global.

Mas não devemos esquecer que a transição energética e a sustentabilidade da agricultura dependem diretamente de avanços científicos e tecnológicos que transformem desafios em oportunidades. No Brasil, a Embrapa, as universidades e o setor privado têm desempenhado um papel central no desenvolvimento de soluções inovadoras para bioinsumos e biocombustíveis de baixa emissão de carbono.

Além dos enormes avanços na produção de etanol e biodiesel, as tecnologias inovadoras para produção de biometano, a partir de resíduos agroindustriais e usos avançados de óleos vegetais para biocombustíveis líquidos, também contribuem para cadeias produtivas mais eficientes e sustentáveis. Adicionalmente, a pesquisa em bioinsumos, como inoculantes biológicos para fixação de nitrogênio, disponibilização de fósforo e controle de pragas, tem demonstrado impactos significativos na redução de custos agrícolas e na melhoria da produtividade, além de minimizar o impacto ambiental.

A Embrapa tem buscado também desenvolver fontes alternativas de biomassa energética, essenciais para fazer frente à crescente demanda de forma diversificada e sustentável.  Exemplos são a tropicalização da canola, que adapta esta oleaginosa às condições do Cerrado brasileiro; e a domesticação da macaúba, uma palmeira nativa com alto potencial para a produção sustentável de óleos e outras fontes de biomassa, esforços liderados pela Embrapa Agroenergia, em Brasília.

O futuro do setor energético poderá se beneficiar significativamente de avanços de base biológica, com maior aproveitamento de recursos renováveis e sustentáveis. Essa convergência, porém, exige superar desafios nos campos da inovação tecnológica, de políticas públicas eficazes e da coordenação entre diferentes atores. Com sua vasta base agrícola e experiência em bioenergia, o Brasil ocupa uma posição única para liderar esse processo, aproveitando sua vantagem estratégica para impulsionar soluções de grande impacto na transição energética.

 

Por Bruno Galveas Laviola e Maurício Antonio Lopes
Pesquisadores da Embrapa Agroenergia

Artigo publicado em 12 de janeiro de 2025 no Correio Braziliense

Embrapa Agroenergia

Press inquiries

Further information on the topic
Citizen Attention Service (SAC)
www.embrapa.br/contact-us/sac/