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II Workshop AISA apresenta avanços em gestão hídrica e conservação de solos em cinco bacias hidrográficas

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Photo: Edina Moresco

Edina Moresco - Annete Bonnet apresentou resultados em relação à cobertura vegetal das margens dos rios e nascentes

Annete Bonnet apresentou resultados em relação à cobertura vegetal das margens dos rios e nascentes

 

Nos dias 8 e 9 de abril, representantes de várias instituições reuniram-se na usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, para apresentar os resultados científicos de seus projetos, em caráter preliminar, no II Workshop AISA-Ação Integrada de Solo e Água. O AISA é uma parceria entre a Itaipu - por meio do Programa Itaipu Mais que Energia, IDR-Paraná, Embrapa (Florestas, Soja, Agropecuária e Solos), Esalq/USP e Faped. Autoridades estaduais, técnicos de cooperativas e gestores da Embrapa e do IDR-PR acompanharam o evento. Da Embrapa Florestas, estiveram Marcelo Francia Arco-Verde, chefe geral, Osmir Lavoranti, chefe de pesquisa, e Edina Moresco, de Transferência de Tecnologia.

“Pretendeu-se com esta reunião que os referidos resultados possam ser organizados e aprofundados após amplo debate, para que em futuro muito próximo possam ser transferidos para a cadeia produtiva do Estado, credenciando ainda mais a busca da sustentabilidade do meio rural paranaense”, afirmou o pesquisador Gustavo Curcio. Os pesquisadores Annete Bonnet e Gustavo Curcio exibiram os resultados de mapas temáticos interativos envolvendo solos e vegetação fluvial em escalas de semidetalhe (1:25.000) e detalhe (1:10.000), respectivamente. Além disso, discutiram a caracterização e a distribuição dos solos e a vegetação nas paisagens do Paraná, tendo como cerne o ordenamento hidrológico como uma das principais funcionalidades ecológicas.

Marcelo Francia Arco-Verde representou a Embrapa, e enfatizou, em sua fala, a visão de longo prazo da Itaipu em relação aos recursos naturais, ao reconhecer a interdependência entre água, solo e vegetação para o bem comum e o benefício da produção agropecuária. “As práticas agrícolas associadas à modelagem hidrológica, considerando o solo, a água, a biodiversidade e os benefícios econômicos para os produtores de agricultura familiar são fundamentais para que tenhamos na agricultura uma tecnologia conservacionista”, afirmou. Arco-Verde celebrou a parceria entre diversas instituições, vislumbrando resultados significativos e impensáveis para o desenvolvimento econômico e a viabilidade dos sistemas de produção. Ele também ressaltou a importância de práticas agrícolas conservacionistas, como os já conhecidos terraceamento e plantio direto.

Além disso, o chefe geral destacou as contribuições das unidades da Embrapa envolvidas no Projeto AISA, Embrapa Solos, a Embrapa Soja e a Embrapa Agropecuária Oeste, além da Embrapa Florestas. Foram citados o mapeamento digital de solos e estudos hídricos, as práticas agropecuárias sustentáveis voltadas para mudanças climáticas, o monitoramento da qualidade do solo e diagnósticos para viabilidade econômica, e a integração de vegetação e geologia para conservação de solos e proteção de florestas nativas, visando ao aumento da disponibilidade hídrica e o ordenamento hidrológico da paisagem. “Esse conjunto de ações das Embrapas criou o método Embrapa, que permite um ordenamento hidrológico eficaz”, finalizou.

Destaques da pesquisa

Em sua apresentação, o pesquisador da Embrapa Florestas Gustavo Curcio abordou a características hidropedológicas, principalmente infiltração e permeabilidade saturada em classes de solos, que foram realizadas em pedosequências (sequência de diferentes solos) no projeto AISA. Com os mais de 10 mil pontos amostrados (PronaSolos e Projeto AISA), foram desenvolvidos mapas interativos que permitem a análise detalhada de várias regiões do Estado. "Confeccionamos mapas de aptidão para essas áreas e caracterizamos o passo a passo da floresta com os solos de lavoura, que é a nossa área de foco do projeto e daí fizemos as interações", explicou Curcio.

O pesquisador falou da importância de se caracterizar o efeito geomorfológico na transmissividade hidrológica superficial, ou seja, como a geomorfologia das regiões influencia na movimentação horizontal da água dos lençóis freáticos para a superfície e áreas adjacentes, causando assoreamento e erosões. “De posse dos perfis de elevação de terreno combinados às classes de solo, nós conseguimos pensar em transmissividade hidrológica e eleger as zonas críticas, que vão ser mais impactadas com erosão, vossoroca e soterramentos. Essa fundamentação precisa estar no dia a dia dos técnicos com o produtor rural”, disse.

A pesquisadora chamou a atenção para a necessidade urgente de repensar o manejo das paisagens e dos solos, ressaltando que o Paraná possui as condições necessárias para implementar um ordenamento hidrológico eficaz, que possa garantir a continuidade dos recursos hídricos na região. “Conhecemos quase nada ainda a respeito de água associada a sistemas de produção. Um transecto na rampa convexa retilínea pode ser convertido também em perfil de elevação e começar a fazer esse ordenamento hidrológico de paisagem, elegendo zonas que vão ter transmissividade para nascentes ou para rios e ver como fazer a proposição de manejo. Nós não pensamos nisso”, afirma.

“Nosso papel transcende a técnica. Temos que fazer ordenamentos técnicos e com respaldo jurídico promover políticas públicas de apoio a mudanças do sistema de produção para não comprometer funcionalidades hidrológicas. Uma das propostas seria um mecanismo de compensação prática para produtores rurais que adotarem boas práticas de conservação e recuperação do solo, com base na medição do carbono estocado. “Poderíamos pensar em gabaritar o produtor por teor de carbono por grupamento altimétrico, dando acesso à distinção de classes. Produtores que estão com carbono igual ou acima do que se esperaria e outros com carbono que estão abaixo, colocar incentivos para subirem ou compensar quem já está acima. É uma questão de discussão para meritar ou demeritar o manejo”, aponta.

Annete Bonnet, pesquisadora da Embrapa Florestas, em sua apresentação explicou como foi feito o mapeamento da vegetação das florestas fluviais (que acompanham as margens de rios). Este trabalho teve uma etapa preliminar em escritório, em uma escala de 1:10.000, nas cinco bacias hidrográficas (Paraná I, Paraná II, Paraná III, Piquiri e Ivaí), que compreendem a hidrelétrica de Itaipu. Na ida a campo foram avaliadas as características, incluindo aspectos e condições de degradação destas florestas.

A metodologia empregada na investigação consistiu em ir a campo e realizar as amostragens em parcelas de vegetação, onde foram levantadas um total de540 parcelas em diferentes ambientes, como beiras de rios e cabeceiras de drenagem. Essa abordagem permitiu encontrar quase 300 espécies de árvores. “Neste território sabemos qual a posição destas espécies na paisagem, qual a classe de solo e qual o regime hídrico do solo elas crescem”. Isso permite entender melhor a diversidade da flora e a relação da vegetação com a geomorfologia e os solos na região.

A pesquisa revelou condições preocupantes em relação à cobertura vegetal das margens dos rios e nascentes. Bonnet mencionou que "em uma das áreas analisadas, 72% das nascentes apresentam cobertura parcial de vegetação. Já os rios de 5ª ordem (de maior vazão) têm 70% de cobertura e os de 1ª ordem têm 48%. Essa é a condição, a classe de cobertura parcial é a mais comum e indicam a necessidade urgente de políticas públicas de estímulo à recomposição das áreas degradadas”, alerta. A preservação destas florestas é essencial, pois elas desempenham funções vitais, como abrigo à biodiversidade, e proteção contra a erosão, contribuindo assim para a saúde do ecossistema.

A pesquisadora também abordou fatores que degradam a floresta, como a presença excessiva de cipós (lianas), que sombreiam o ambiente, pesam os galhos e quebram as árvores e, portanto, precisam ser alvo de manejo. O efeito de borda causado pelo contato da floresta com o sistema produtivo, que isola a área e a deixa nas bordas do fragmento também foi citado como causadores do empobrecimento da floresta, além do corte de árvores e da compactação do solo pelo pisoteio do gado em áreas de nascentes. A pesquisadora frisou a importância de haver maior proteção nas regiões de relevo com alta declividade, para a conservação a água. Annete Bonnet alertou sobre a urgência de se conservar os rios de primeira ordem e encerrou falando das consequências da transmissividade elevada dentro da floresta, causando erosão, assoreamento, soterramento de rios e assoreamento de planícies.

 

Manuela Bergamim (MTb 1951-ES)
Embrapa Florestas

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