Estima-se que exista um déficit de cerca de 21 milhões de hectares de vegetação nativa em Áreas de Proteção Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), no Brasil. Vários dos dispositivos legais da Lei de Proteção da Vegetação Nativa citam a possibilidade do uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs). No entanto, diferentes fatores socioeconômicos afetam a adoção de sistemas agroflorestais por agricultores. Entre eles o principal é a disponibilidade de mão de obra, pois os sistemas agroflorestais exigem muito trabalho e requerem gerenciamento minucioso. A agricultura moderna, baseada no elevado uso de capital e em pouca mão de obra, é uma realidade longínqua para aproximadamente 50% dos agricultores da América Latina, os quais continuam a trabalhar, exclusivamente, com equipamentos manuais, sendo que destes entre 15% e 30% possuem apenas equipamentos com tração animal. Tal disparidade cria uma enorme diferença de produtividade, da ordem de 2.000 vezes, quando sistemas tecnificados são comparados com aqueles que usam exclusivamente ferramentas manuais.

Em vista disso o projeto tem como objetivo geral a promoção da restauração florestal produtiva de áreas de Reserva Legal na agricultura familiar por meio de sistemas agroflorestais que otimizem o uso da mão de obra. O projeto terá como base a pesquisa-ação, na qual o diálogo entre o pesquisador e agricultores é parte fundamental da estratégia de solução de um problema detectado. Para tanto, diferentes fases da pesquisa serão realizadas em agricultores parceiros da rede de Unidades Experimentais Participativas em SAFs no Território Zona Sul do Rio Grande do Sul. Ao final, serão entregues os seguintes ativos: 1) sistema de implantação do componente arbóreo de SAFs via semeadura direta em aleias com mudas e mix de sementes de espécies de árvores e para adubação verde (muvuca de sementes); 2) conjunto de processos agroecológicos de manejo para controle de plantas espontâneas, focado na redução do uso da mão de obra e penosidade do trabalho; 3) conjunto de práticas agroecológicas para o cultivo intercalar de hortaliças e grãos em sistemas agroflorestais, visando a geração de renda e a segurança alimentar dos agricultores familiares; e, 4) plano de manejo de podas em sistemas agroflorestais, para otimizar a mão de obra e a melhoria do rendimento de produtos alimentares, energéticos, madeireiros e outros subprodutos.