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07/10/24 |   Low Carbon Agriculture  Preventive Breeding

Correção da acidez no solo é importante para o cultivo da cana-de-açúcar

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Photo: Murilo Marinho

Murilo Marinho - Redução de área e volume radicular de cana-de-açúcar em solo com elevados teores de alumínio (A), comparativamente a solo sem a presença de alumínio em altos teores (B).

Redução de área e volume radicular de cana-de-açúcar em solo com elevados teores de alumínio (A), comparativamente a solo sem a presença de alumínio em altos teores (B).

O manejo da acidez do solo é fundamental para garantir a produtividade e sustentabilidade no cultivo da cana-de-açúcar, uma das principais culturas agrícolas do Brasil. A utilização de corretivos, como os calcário agrícolas, e também de gesso conduz a diversos benefícios para a cultura da cana, a relativo baixo custo. O manejo adequado da acidez do solo durante a renovação ou implantação do canavial deve incluir a aplicação de calcário em doses suficientes para correção dos primeiros 30 a 40 cm, em seguida, o gesso, que é recomendado para camadas mais profundas, de forma construir a fertilidade no perfil do solo. Em solos tropicais naturalmente ácidos, a correção da acidez é vital para evitar baixas produtividades e garantir a sustentabilidade do sistema produtivo.

De acordo com o pesquisador Cristiano Andrade, da Embrapa Meio Ambiente, autor do capítulo 9 do livro Inovação e Desenvolvimento em Cana-de-Açúcar - Manejo, Nutrição, Bioinsumos, explica que, com eventos de seca mais prolongados e frequentes devido as mudanças climáticas globais, a construção do perfil do solo com o manejo da acidez e fornecimento de cálcio é medida de adaptação importante para evitar perdas de safra ou baixas produtividades.

A cana-de-açúcar é uma cultura que apresenta boa tolerância à variação de pH, entre 4,0 e 8,3, mas quando o solo é excessivamente ácido, o rendimento é seriamente comprometido. O manejo da acidez não apenas permite melhor eficiência no uso de nutrientes, como também otimiza a absorção de água pelas plantas. Para isso, o monitoramento contínuo da acidez do solo é necessário após cada ciclo de colheita, para que se possa realizar novas correções quando necessário.

A formação do solo em regiões tropicais, como é o caso da maioria das áreas de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil, é caracterizada por intenso intemperismo químico, o que agrava a acidificação natural. A ação das chuvas nessas regiões intensifica a lixiviação de nutrientes essenciais e aumenta a presença de íons como hidrogênio e alumínio tóxico, que são prejudiciais às plantas. A atividade agrícola, incluindo o uso de fertilizantes nitrogenados, também contribui para a acidificação do solo.

O alumínio tóxico é um dos maiores problemas em solos ácidos, pois interfere diretamente no desenvolvimento das raízes, inibindo seu crescimento e comprometendo a absorção de nutrientes e água pelas plantas. Em solos com pH inferior a 5,5, o excesso de alumínio e o bloqueio de cargas para retenção de nutrientes afetam negativamente o desenvolvimento das plantas. A correção desse problema envolve o uso de calcário, que eleva o pH do solo e neutraliza alumínio tóxico. Além disso, a aplicação de calcário fornece cálcio e magnésio, nutrientes fundamentais para a cana-de-açúcar. 

Andrade explica que o cálcio desempenha papel importante na mitigação dos efeitos tóxicos do alumínio, sendo essencial para o crescimento e alongamento celular das raízes. O magnésio, por sua vez, é simplesmente o elemento central na molécula de clorofila, responsável pela fotossíntese. A observação dos níveis de cálcio e magnésico no solo são parâmetros auxiliares no manejo da acidez e na construção da fertilidade no perfil do solo.

“Existem diferentes métodos para determinar a necessidade de calagem no solo, sendo cada um com suas vantagens e limitações, conforme as características dos solos e das culturas. Entre os métodos mais comuns estão a saturação por bases, a neutralização do alumínio trocável e a elevação dos teores de cálcio e magnésio no solo”, disse Andrade.

O método de saturação por bases é amplamente utilizado em solos tropicais, enquanto o método de neutralização do alumínio é mais indicado para solos com alta toxicidade desse elemento. Já o método SMP, mais difundido no Sul do Brasil, é utilizado principalmente para solos de maior acidez.

Em regiões como o Cerrado e o Nordeste, onde os solos são naturalmente ácidos e ricos em alumínio, a recomendação de calagem é baseada na neutralização desse elemento, além da elevação dos teores de cálcio e magnésio. 


O papel do gesso agrícola no manejo da acidez

O gesso, que não é um corretivo de acidez do solo, mas melhora as condições para o crescimento radicular das plantas, é complementar à calagem. Sua elevada solubilidade permite que seus efeitos ocorram abaixo da camada de incorporação dos calcários, reduzindo o alumínio tóxico onde a ação do corretivo de acidez é restrita. Além disso, o gesso leva cálcio em profundidade no perfil do solo, estimulando o crescimento de raiz nessas camadas, fundamental para a superação de veranicos, sem perda de vigor ou comprometimento da produção.

“O uso de gesso, esclarece o pesquisador, aplicado de forma complementar (não em substituição) à ação do calcário, tem mostrado resultados expressivos na melhoria da produtividade da cana-de-açúcar. Em solos arenosos, comuns no Nordeste do Brasil e em áreas de expansão mais recente da cultura, o uso de gesso de forma parcelada evita a lixiviação de nutrientes como magnésio e potássio, o que contribui para uma maior eficiência do fertilizante”.

O monitoramento contínuo da acidez do solo e dos teores de cálcio, magnésio e alumínio são cruciais para a manutenção da fertilidade e produtividade dos canaviais. A recomendação é que a correção da acidez seja realizada com antecedência de 120 dias ao plantio, garantindo assim a eficiência dos corretivos aplicados e evitando problemas relacionados à falta de umidade durante o período seco, comum nas áreas de cultivo de cana.

“A aplicação de corretivos, seja calcário ou gesso, deve ser feita de maneira criteriosa e de acordo com as necessidades específicas de cada área agrícola. Em canaviais, especialmente durante a implantação ou renovação, a incorporação do calcário a uma profundidade de 30 a 40 cm é recomendada, sendo que a aplicação em etapas pode ser necessária para grandes volumes de corretivos”, destaca o pesquisador.

“A escolha dos corretivos, levando em consideração fatores como granulometria e poder relativo de neutralização total, também é fundamental para garantir a eficiência do manejo da acidez”, explica Fernando Freire, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e secretário-executivo da Fundação Apolonio Salles de Desenvolvimento Educacional de Recife, PE


Sustentabilidade e perspectivas para o futuro

A correção da acidez do solo é uma prática que não apenas melhora a produtividade da cana-de-açúcar, mas também contribui para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. É importante destacar que embora os calcários sejam recomendados para aplicação há muito tempo no Brasil, ainda estamos aquém daquilo que deveríamos aplicar, o que resulta em patamares de produtividade subótimos, maiores riscos de suscetibilidade à seca e perda de eficiência no uso dos nutrientes aplicados via fertilizantes. O uso de gesso agrícola é complementar à calagem, pois atua em profundidade no perfil do solo onde a ação do calcário é limitada. 

Espera-se que o uso combinado de calcário e gesso, fundamentado em monitoramento da fertilidade dos solos e em critérios técnicos de aplicação, continue a impulsionar a produtividade da cana-de-açúcar, garantindo a competitividade do Brasil no mercado mundial de açúcar e etanol. Com práticas adequadas de manejo da acidez, os produtores podem alcançar maiores rendimentos e, ao mesmo tempo, preservar a saúde dos solos tropicais para as futuras gerações.

Esse trabalho é de Cristiano Andrade, Fernando Freire, Fabio Silva, da Embrapa Agricultura Digital, Thomaz Rein, da Embrapa Cerrados, está no cap. 9 do livro Inovacao e desenvolvimento em cana-de-açúcar - manejo, nutricao, bioinsumos, recomendacao de corretivos e fertilizantes, Universidade Federal Rural de Pernambuco, editores técnicos Fábio César da Silva e Fernando José Freire.

Cristina Tordin (MTB 28499/SP)
Embrapa Meio Ambiente

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