1. Contextualização

A safra 2024-2025 da castanha-da-amazônia ( Bertholletia excelsa) está em curso em um cenário desafiador. Condições climáticas extremas, impostas pelo fenômeno El Niño que ocorreu entre agosto de 2023 e maio de 2024, resultaram em uma das secas mais severas das últimas décadas na Amazônia. A prolongada estiagem e as altas temperaturas registradas em 2023, especialmente na época de floração da castanheira, afetaram a formação dos frutos para essa safra 2024-2025, resultando na falta do produto em todas as regiões da Amazônia. O aumento na temperatura do ar compromete o relógio circadiano das abelhas polinizadores e também pode causar alteração na fisiologia das grandes árvores com abortamento de flores e frutos pequenos.

O fenômeno climático extremo nesses dois últimos anos comprometeu a oferta atual de matéria-prima, mas é fundamental esclarecer que esse fator foi atípico e não representa uma ameaça permanente à atividade extrativista. Eventos similares ocorreram em anos anteriores, como em 2016-2017, quando a região enfrentou uma queda generalizada na produção de castanha-da-amazônia devido aos dois anos consecutivos de El Niño (2015 e 2016). No entanto, logo após o ano da drástica queda na produção, os anos subsequentes foram seguidos por uma rápida recuperação produtiva, devido a presença de um outro fenômeno climático que traz umidade para região amazônica, prolongando o período chuvoso, denominado de La Niña. Esse fenômeno já está sendo observado nas chuvas que iniciaram em 2024.

2. Continuidade da Produção e Tendências para a Próxima Safra

Apesar da redução na disponibilidade da castanha-da-amazônia em 2025, pesquisadores da Embrapa e da Rede Kamukaia apontam que, assim como ocorreu em 2017-2018, há uma forte possibilidade de recuperação da produção já na safra 2025-2026. Esse fenômeno ocorre Nota Técnica Safra 2024-2025 Castanha-da-amazônia porque, após um período de estresse climático severo, as castanheiras tendem a compensar com maior floração e frutificação nos ciclos seguintes. Além disso, as castanheiras e o solo ficam com uma maior reserva de nutrientes, que não foram drenados devido à baixa produção de frutos, para abastecer as próximas safras.

Diante desse cenário, é essencial que a cadeia produtiva mantenha sua estrutura operacional e que a castanha-da-amazônia continue sendo utilizada nos processos industriais. A retirada do insumo das linhas de produção pode causar desajustes de mercado e dificultar o retorno da estabilidade nas próximas safras. Além disso, a permanência da castanha nos produtos industrializados reforça a previsibilidade para consumidores e parceiros comerciais, evitando oscilações de demanda que podem comprometer o setor no longo prazo.

3. Recomendações para a Cadeia Produtiva

Diante do cenário de escassez momentânea, a Embrapa recomenda a adoção de estratégias de mitigação para garantir a estabilidade do setor:
● Manutenção das Linhas de Produção: a permanência da castanha-da-amazônia nos produtos industrializados é essencial para evitar descontinuidades no mercado. A experiência de anos anteriores demonstra que a recuperação produtiva pode ocorrer em curto e médio prazo, tornando inviável a substituição do insumo por alternativas que possam comprometer sua valorização futura.
● Gestão Estratégica de Estoques: empresas que trabalham com processamento e exportação devem considerar uma gestão eficiente dos estoques disponíveis para atender à demanda sem comprometer a oferta no mercado interno e externo.
● Flexibilização de Contratos e Negociações: recomenda-se o diálogo entre fornecedores e indústrias para ajustes contratuais que considerem a conjuntura atual, garantindo a continuidade das parcerias comerciais sem prejuízos para nenhum dos elos da cadeia produtiva.
● Apoio ao Financiamento e Cumprimento de Contratos: produtores e empresas que dependem de crédito e financiamento podem utilizar esta nota técnica como documento de referência para demonstrar que a quebra de produção que ocorreu em toda a Amazônia é um evento pontual. A perspectiva de recuperação na próxima safra justifica a necessidade de manutenção de investimentos e linhas de crédito para o setor, bem como a extensão de prazos ou ajustes em pagamentos de  financiamentos em vigor.
● Informação Transparente ao Mercado: é fundamental que os agentes da cadeia produtiva, incluindo associações de produtores, cooperativas, agroindústrias e exportadores, comuniquem de forma clara ao mercado que a castanha-da-amazônia eguirá disponível nas próximas safras, ainda que neste ano esteja em volume reduzido, para evitar especulações e oscilações bruscas de preços.

4. Conclusão

A Embrapa reforça que a quebra na safra 2024-2025 da castanha-da-amazônia é resultado de um evento climático extremo e não compromete a sustentabilidade da atividade extrativista. A expectativa de recuperação na próxima safra exige planejamento e cooperação entre produtores, beneficiadores e indústrias para evitar decisões precipitadas que possam impactar negativamente o setor no longo prazo.
A manutenção da castanha-da-amazônia no mercado, mesmo em um cenário de pouca oferta, é essencial para garantir a estabilidade econômica das comunidades produtoras, a manutenção dos impactos sociais e ambientais positivos da atividade, a segurança da cadeia produtiva e a valorização desse produto icônico da sociobiodiversidade amazônica.

LÚCIA HELENA DE OLIVEIRA WADT
Chefe-Geral
Embrapa Rondônia

PATRÍCIA DA COSTA
Pesquisadora
Embrapa Meio Ambiente

MARCELINO CARNEIRO GUEDES
Pesquisador
Embrapa Amapá

CAROLINA VOLKMER DE CASTILHO
Pesquisadora
Embrapa Roraima

SILVIA DE CARVALHO CAMPOS BOTELHO
Pesquisadora
Embrapa Agrossilvipastoril

LUCIETTA GUERREIRO MARTORANO
Pesquisadora
Embrapa Amazônia Oriental

CLEISA BRASIL DA CUNHA CARTAXO
Pesquisadora
Embrapa Acre

MARIA FERNANDA BERLINGIERI DURIGAN
Pesquisadora
Embrapa Instrumentação Agropecuária

RAIMUNDO COSME DE OLLIVEIRA JÚNIOR
Pesquisador
Embrapa Amazônia Oriental

LUCIMARA APARECIDA FORATO
Pesquisadora
Embrapa Roraima