Pós-colheita

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autores

Ebenézer de Oliveira Silva - Embrapa Agroindústria Tropical

Heloisa Almeida Cunha Filgueira Pinéde - Consultor autônomo

Ricardo Elesbao Alves - Embrapa Alimentos e Territórios

Carlos Farley Herbster Moura - Embrapa Agroindústria Tropical

 

Atributos de Qualidade

O Brasil ainda é o único país que possui tecnologia, experiência e hábito de consumo do pedúnculo do cajueiro, seja in natura, seja transformado em bebidas e alimentos, o que representa uma oportunidade a mais para a diversificação do negócio caju, cujo foco continua sendo a exportação de castanha.

Para uniformizar as operações comerciais do caju, recomenda-se tomar como referência os requisitos mínimos para as frutas frescas, de acordo com os quais os pedúnculos devem apresentar-se frescos, firmes, sadios e limpos. Quando se trata de caju para o mercado de fruta fresca, embora a castanha não seja consumida, deve apresentar-se íntegra e firmemente aderida ao pedúnculo, sem sinais de danos.

Além dos requisitos mínimos de qualidade, que são comuns para todas as frutas frescas, o mercado exige uniformidade do produto. Pedúnculos de formas, cores e tamanhos diferentes na mesma caixa não são aceitáveis nas operações comerciais.
A tendência identificada no mercado brasileiro para pedúnculo de cajueiro é a de dar preferência a cajus de coloração vermelha ou avermelhada que, em geral, é associada com a idéia de fruta mais madura. A cor é uma característica que depende do mercado pretendido. No caso do mercado europeu, por exemplo, o consumidor francês prefere frutas vermelhas, enquanto que, em outros países, a preferência é por frutas de cor amarela.

A qualidade para consumo está relacionada ainda com firmeza, pouco travo, doce e pouco ácido e formato piriforme (em forma de pêra). Com relação ao peso, cajus com pedúnculos entre 100g e 140g têm valor de mercado mais alto.



Fatores Pré-colheita (Antes da Colheita) Que Afetam a Qualidade

As técnicas empregadas na colheita e após a colheita visam apenas preservar a qualidade dos frutos, não sendo capazes de melhorá-la. Assim, a qualidade e o comportamento pós-colheita dos frutos dependem, em grande parte, de fatores pré-colheita aos quais é submetida a cultura.

Os fatores pré-colheita que influenciam na qualidade e no comportamento pós-colheita dos frutos podem ser ambientais e culturais. Os fatores ambientais incluem temperatura, umidade relativa do ar, luz, textura do solo, vento, altitude e chuva. Os fatores culturais são: adubos, produtos químicos utilizados em pulverizações, irrigação, entre outros. Além desses, para a formação de um plantio comercial que garanta boa produtividade e qualidade, é fundamental a seleção do material adequado de propagação. Durante o período de chuva, há o risco de o caju ser menos saboroso, porque, devido à elevada umidade relativa do ambiente, há uma menor sensação do gosto doce no caju. Tanto o teor de açúcares quanto o de ácidos ficam mais baixos se o teor de água do caju for aumentado.Além disso, durante as chuvas, os cajus ficam mais sujeitos a manchas provocadas pelo atrito com folhas, galhos e frutos. A alta umidade do ambiente também favorece o desenvolvimento de manchas no caju. O plantio a partir de sementes acarreta plantas com diferentes tamanhos, diferença na produção e peso das castanhas, na qualidade, na cor e no peso do caju. Hoje, o produtor pode escolher as mudas de clones de cajueiro em função dos objetivos do plantio, ou seja, produção de castanhas, pedúnculo ou ambos. O principal fator a ser considerado na escolha do clone a ser plantado é a qualidade da castanha e do pedúnculo que satisfaça às necessidades do mercado consumidor pretendido. As características desejáveis de um clone para a produção de caju de mesa são: plantas baixas para facilitar a colheita, caju com coloração variando de vermelho a laranja, formato de pêra, peso entre 80g e 140g, elevada firmeza, sabor doce, baixo travo e baixa acidez.

Além de maior produtividade, o pequeno tamanho do cajueiro anão precoce favorece o maior aproveitamento do caju, pela colheita direta. A queda dos cajus prejudica o aproveitamento industrial do pedúnculo, assim como o inviabiliza para o consumo fresco.
Por apresentar menor variabilidade nas características físicas e de qualidade do pedúnculo e da castanha, os pedúnculos do cajueiro anão precoce têm facilitado as operações de seleção e classificação após a colheita.

Os efeitos dos nutrientes na qualidade das frutas dependem de muitos fatores. A importância desses efeitos tem aumentado, paralelamente, com a crescente necessidade de melhorar a qualidade das frutas, enfatizando a necessidade de adubos aplicados de maneira orientada. Como a qualidade pós-colheita está intimamente ligada à quantidade de adubo aplicada, uma adubação mais técnica favorecerá a melhora na qualidade dos frutos, levando-se em consideração as características de cada local de cultivo. O cajueiro, sob irrigação, pode produzir até doze vezes mais do que em condição não irrigada, além de, prolongar o período de colheita por cerca de cinco meses.



Desenvolvimento do Caju

O desenvolvimento completo do caju (castanha + pedúnculo) ocorre em aproximadamente 50 dias, podendo variar de 44 a 72 dias.



Travo

A sensação de travo, quando se prova o caju fresco, é provocada por uma propriedade de alguns frutos, denominada adstringência. Não só no caju, mas quando qualquer fruto amadurece, o travo é menos percebido, seja por modificações químicas em certos compostos, seja pelo aumento no teor de açúcar, que diminui a sensação. Em geral, não é possível identificar, apenas pela aparência, se um caju é travoso ou não.



Cor

A diferença de cor entre os cajus é um atributo do tipo ou do clone, que não dá indicação sobre outras características do caju. Tanto os cajus amarelos quanto os vermelhos podem ser muito saborosos.



Composição

É importante lembrar que existe uma tendência no mercado brasileiro de preferência por cajus de coloração vermelha ou avermelhada, pois essa cor geralmente é associada a cajus mais maduros. A qualidade do caju para consumo fresco está relacionada também com acidez, teor de vitamina C e açúcar.



Danos pelo Frio

Quando o caju é armazenado em temperatura abaixo de sua faixa ideal, o pedúnculo pode desenvolver alteração da cor - de avermelhada ou alaranjada - para tonalidades pardas, e amolecimento. O emprego de embalagem com filmes plásticos protege o caju contra os efeitos do frio e e permite o armazenamento a 5ºC ou a 3ºC, dependendo da coloração do pedúnculo.



Danos pelo Calor

A exposição do caju ao sol ou à alta temperatura pode ocasionar perda de brilho e firmeza. Para evitar o dano pelo calor, a colheita deve ser feita nas horas mais frescas do dia. Além disso, os cajus devem ficar à sombra enquanto estiverem no campo e ser levados o mais rapidamente possível para o galpão de embalagem.



Danos Mecânicos

Os danos mecânicos estão entre as principais causas de perda pós-colheita de frutas frescas. O caju tem uma estrutura delicada e extremamente sensível. Por esse motivo, deve ser manuseado com o máximo cuidado. A queda do caju ao solo inutiliza-o para comercialização.
Uma outra fonte de dano mecânico é através do amassamento do caju, causado pelo empilhamento nas caixas de colheita, pela compressão durante o transporte para o galpão ou pelo manuseio descuidado, causando seu amolecimento e escurecimento.



Indicadores e Procedimentos de Colheita



Índices de colheita

Os melhores indicadores do ponto de colheita do pedúnculo são a coloração e a firmeza. No entanto, na prática, a colheita é realizada quando o pedúnculo está completamente desenvolvido, ou seja, com o tamanho máximo, firme e a coloração característica do tipo ou clone. Nesta fase, quando tocado manualmente, o pedúnculo desprende-se facilmente da planta. Além disso, o pedúnculo tem que ser colhido completamente maduro.



Colheita

A colheita deve ser feita nas horas de temperaturas mais baixas. Para evitar ferimentos no pedúnculo, os colhedores devem manter as unhas aparadas e limpas. Os cajus devem ser colocados, em uma única camada, nas caixas plásticas de colheita, revestidas internamente por uma camada de espuma. Os pedúnculos devem estar perfeitos, sem deformações.



Transporte para o Galpão de Embalagem

Os cajus devem ser transportados para o galpão nas próprias caixas de colheita, revestidas com espuma. As caixas devem ser colocadas no veículo com cuidado. O empilhamento deve permitir ventilação entre as caixas, e o fundo de uma caixa nunca deve tocar os pedúnculos da caixa abaixo dela. Deve-se orientar o motorista do veículo para evitar velocidade alta e solavancos.



Operações no Galpão de Embalagem



O galpão de Embalagem

O galpão deve estar localizado no meio da propriedade e as vias de acesso devem ser mantidas em boas condições, devendo ser um local ventilado e claro, e apresentar, entre outras, as seguintes características: portas, janelas e acessórios fáceis de serem limpos, facilidade para limpeza do piso, equipamentos e drenagem da água, proteção contra animais domésticos, pássaros, entre outros, superfícies de trabalho lisas e de fácil limpeza, água potável para as operações de lavagem, proteção contra possibilidades de contaminação do produto, roupas de proteção adequadas e higienizadas.

 

Principais Operações em um Sistema de Colheita e Embalagem de Pedúnculo do Cajueiro para o Mercado de Fruta Fresca



Recepção

Os veículos devem ser descarregados manualmente e com cuidado assim que chegam ao galpão. Os pedúnculos estragados devem ser retirados da área do galpão, para evitar que atraiam insetos e ratos ou que contaminem os cajus sadios.



Lavagem    

Além de remover a sujeira vinda do campo, diminui também a temperatura do caju, contribuindo para prolongar a conservação pós-colheita. Para essa finalidade deve-se usar água fria a 20°C.



Secagem    

Pode ser feita por meio de ventiladores, desde que haja o cuidado de não circular ar quente sobre o produto. A secagem natural, deixando os pedúnculos em repouso após a lavagem, tem a desvantagem de tornar a operação mais demorada.



Seleção e classificação

Devem ser retirados os pedúnculos que apresentarem manchas, defeitos ou ferimentos, formato ou cor não característico do material que se tem plantado, verdes ou demasiado maduros. A classificação é feita com base no número de cajus por bandeja, variando normalmente de quatro a oito. Os tipos quatro e cinco – 4 ou 5 cajus por bandeja – são os que alcançam melhores preços.



Embalagem  

Os cajus devem ser dispostos em bandejas de 21cmx14cm, envolvidas com filme plástico flexível de PVC. As bandejas devidamente marcadas, em número de três, devem ser colocadas em caixas de papelão, sem tampa, que favoreçam o encaixe umas sobre as outras. Cada bandeja deve conter entre 550g e 800g, e a caixa, no mínimo, 1700g.
A etiqueta colocada nas bandejas deve conter a marca do produtor e alguma indicação para contato, como endereço ou telefone. A caixa deve conter as seguintes informações essenciais: conteúdo, origem, data da colheita, condições de conservação, etc. A caixa tipo bandeja apresenta a vantagem de poder ser usada para exposição. Por isto, a impressão utilizada na caixa deve ser de boa qualidade, as ilustrações devem ser atraentes e os rótulos devem conter informações corretas e completas.



Paletização   

São utilizados dois tamanhos de palete : 0,92mx1,12 m para 200 caixas, ou 0,92mx0,92m para 160 caixas. A disposição das caixas no palete é feita com oito ou dez caixas, sendo que cada palete tem a altura correspondente a 20 caixas. Para o carregamento, os paletes são colocados dois a dois, perfazendo o total de doze ou quatorze, conforme o tamanho do caminhão. Os dois primeiros paletes, localizados próximo ao sistema de refrigeração do veículo, devem ter altura de apenas 10 caixas.



Pré-resfriamento

Deve ser feito com ar frio. Este sistema permite que se faça o resfriamento do produto embalado, o que reduz a perda de água.Armazenamento



Refrigerado    

A vida útil do pedúnculo do cajueiro quando armazenado em temperatura ambiente (sem refrigeração) não ultrapassa 48 horas. Após esse período, o pedúnculo apresenta-se enrugado, e consequentemente, deixa de ser atraente. No entanto, sob refrigeração, a 5ºC e em 85% a 90% de umidade relativa e devidamente embalado, a vida útil mínima do caju é de cerca de 10 a 15 dias, sem apresentar danos pelo frio. Para cajus alaranjados, o armazenamento deve ser feito a 3ºC, com a vida útil podendo chegar a 28 dias.