Caju
Substituição de copa
Autor
Afranio Arley Teles Montenegro - Embrapa Agroindústria Tropical
Introdução
A área ocupada com cajucultura na região Nordeste do Brasil está estimada em mais de 650.000 ha, onde são produzidas cerca de 160.000t de castanha/safra. Isso corresponde a uma produtividade de apenas 246 kg/ha, considerada muito baixa em relação ao potencial produtivo da espécie. Além disso, 62% dessas plantas produzem abaixo de 4 kg de castanha/safra e são responsáveis por 30% da produção total.
Utilizando a tecnologia de substituição de copa, é possível recuperar esses pomares, elevando sua produtividade para cerca de 1.300 kg/ha, dependendo de alguns fatores, como o número de plantas e o método de substituição adotado.
A técnica consiste na substituição da parte aérea das plantas por clones de alta produção e porte reduzido, através da enxertia nas brotações emitidas após o corte, mantendo-se as raízes e parte do tronco do cajueiro.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Métodos de Substituição
Com relação à escolha das plantas que terão suas copas substituídas, existem três maneiras distintas de se proceder. Em todos os casos, as plantas seriamente danificadas por pragas ou doenças deverão ser eliminadas e substituídas por mudas de cajueiro-anão precoce enxertadas. As falhas provenientes de plantas mortas também deverão ser ocupadas com clones de cajueiro-anão. Dependendo do espaçamento entre as plantas, pode-se adensar o pomar, utilizando novas mudas de cajueiro anão precoce entre as fileiras, de modo a ter em torno de 200 plantas/ha. Cada método apresenta vantagens e desvantagens, e a decisão deve ser tomada em função de cada caso particular.
Substituição Total
Neste método, a substituição de copa é realizada em todas as plantas do pomar, independentemente da produção dos cajueiros. Normalmente, é adotada em grandes áreas. Entre as vantagens destacam-se a uniformidade do novo pomar, a alta produtividade e o porte baixo em todas as plantas. Como desvantagens, o método apresenta um elevado custo de implantação e uma grande redução na produção do pomar no primeiro ano.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Substituição Seletiva
Mais utilizada em pequenas áreas, neste método a substituição de copa é realizada apenas nas plantas de baixa produção (abaixo de 4 kg de castanha/safra), mantendo-se apenas os cajueiros produtivos no pomar. É necessário, portanto, o conhecimento prévio do potencial produtivo de cada planta ou o acompanhamento individual da produção por, pelo menos, três anos seguidos. Os cajueiros do tipo “castanhola” e “eucalipto” devem ter suas copas substituídas, por apresentarem, comprovadamente, uma produção baixa. O método apresenta como vantagens: alta produção, baixo custo de implantação e não apresenta queda significativa de produção no primeiro ano. Por outro lado, o novo pomar apresentará plantas de porte alto (sem substituição de copa) ao lado de plantas de porte baixo (com copa substituída), dificultando o manejo e a realização do adensamento.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Substituição em Fileiras Alternadas
Neste método, a técnica é aplicada na metade das plantas do pomar, substituindo-se as copas dos cajueiros em fileiras alternadas, independentemente da produção. Desta forma, o método dispensa o acompanhamento individual prévio da produção das plantas, apresenta um baixo custo de implantação e pequena redução de produção na safra do primeiro ano. Entretanto, o pomar não será uniforme, terá plantas de porte alto e baixo em linhas alternadas, além de apresentar baixa produção devido à realização da substituição de copa em algumas plantas produtivas e da manutenção de plantas improdutivas no pomar.
Etapas do Processo
Decapitação das Plantas
O corte das plantas é a operação mais cara do processo e requer mão de obra especializada. Utilizando uma motosserra, deve-se cortar o tronco em sentido inclinado (bico-de-gaita), a uma altura média de 40 cm do solo. A época ideal para se realizar esta operação varia com a idade das plantas a serem cortadas e com o período de floração do jardim clonal que irá fornecer os propágulos que servirão de enxertos. É necessário que haja borbulhas de ramos produtivos em abundância quando as brotações dos troncos cortados (porta-enxertos) estiverem prontas para a enxertia. Para plantas com idade entre 20 e 30 anos isto ocorrerá em aproximadamente 90 dias após o corte. Como para as condições do estado do Ceará a floração do cajueiro-anão precoce ocorre de julho a novembro, deve-se proceder ao corte dessas plantas no período de abril a agosto. Dessa forma, é possível coincidir a época da enxertia com a oferta natural de propágulos.
Logo após o corte deve-se retirar a madeira para evitar a formação de focos de pragas e doenças. Além disso, a venda da madeira constitui fonte de renda para o produtor, ajudando-o a reduzir suas despesas com a recuperação do pomar. Plantas cortadas, com idade entre 20 e 30 anos, ofertam em média 1,6 m3 de madeira. Em seguida, deve ser realizada a limpeza da área, utilizando roçadeira mecânica, seguida do coroamento da planta, com enxada, deixando cerca de 1m de raio em torno do tronco.
Para prevenir o aparecimento de pragas e doenças, é necessário pulverizar o tronco inteiro com produtos à base de oxicloreto de cobre e fenitrothion. O rendimento da operação de corte varia com o porte das plantas e com a habilidade do operador da motosserra e da equipe. A tabela 1 mostra os desempenhos em avaliação efetuada em 132 plantas de diferentes portes.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
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Tabela 1. Rendimento médio da operação de corte das plantas com motosserra e acabamento com foice, em cajueiros de porte baixo, médio e alto
(*)Considera-se como portes baixo, médio e alto as plantas que apresentaram, na ocasião do corte, alturas em intervalos de 3 m a 4m, 4 m a 6,5 m e 6,5 m a 9 m, respectivamente.
Fonte: BARROS (2002)
Seleção das Brotações
Com o objetivo de reduzir a competição entre os ramos que irão funcionar como porta-enxerto, deve-se iniciar esta operação quando os troncos emitirem as primeiras brotações, o que varia com a idade das plantas. Em cajueiros com idade entre 20 e 30 anos, as primeiras brotações aparecerão somente 30 dias após o corte.
É recomendável selecionar aquelas brotações mais vigorosas, localizadas ao redor do tronco e próximas ao local do corte. Desta forma, as brotações selecionadas estarão prontas para a enxertia mais cedo e com menos possibilidade de danos causados pela ação do vento. A quantidade de ramos selecionada depende do número definitivo de enxertos que se deseja no fim do processo, considerando-se que o percentual de pegamento da enxertia varia em torno de 90%.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
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Enxertia
A enxertia deverá ser realizada quando as brotações atingirem um diâmetro de cerca de 1 cm, o que também varia com a idade da planta. Em pomares com menos de 10 anos de idade, as brotações estarão prontas cerca de 60 dias após o corte, enquanto que plantas mais velhas serão enxertadas após o terceiro mês. O método de enxertia recomendado para a substituição de copa é a borbulhia em placa, por apresentar alto índice de pegamento e tolerância à exposição ao sol. Utilizando um canivete de enxertia, retira-se da brotação selecionada uma placa, com lenho, medindo em torno de 2 cm. Em seguida, destaca-se uma borbulha do ramo florado previamente coletado de clones cujas características deseja-se incluir no pomar, com as mesmas dimensões da placa retirada no porta-enxerto, e faz-se coincidir sua casca com o corte realizado na brotação. Logo após, amarra-se com fita plástica e protege-se a borbulha utilizando uma folha do próprio cajueiro.
O número ideal de enxertos em cada tronco deve variar com o porte da planta. Normalmente, a quantidade de brotações enxertadas em plantas jovens de cajueiro não tem influência na produção. Entretanto, em cajueiros mais velhos, a manutenção de pelo menos quatro enxertos facilita a cicatrização do corte e acelera a recuperação da planta. O percentual de pegamento varia com a habilidade do enxertador e o método de enxertia adotado. Um bom enxertador realiza em torno de 200 enxertos por borbulhia, em uma jornada de oito horas de trabalho, obtendo um índice de pegamento superior a 90%.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Manejo
Cerca de 20 dias após a enxertia, no caso de sucesso da operação, deve-se realizar o decepamento do porta-enxerto, 2 cm acima do local do corte, para ajudar no desenvolvimento da borbulha. Nesta mesma época, a fita de enxertia deve ser removida para evitar o estrangulamento dos ramos enxertados. Após atingido o número desejado de enxertos em cada planta, é feita a desbrota dos novos ramos emitidos no tronco decepado, bem como de todas as brotações que surgirem abaixo do local da enxertia. Caso esse número seja insuficiente, é necessário selecionar outras brotações e realizar novas enxertias.
Pragas e Doenças
Com relação às doenças que atacam os cajueiros com copas substituídas, destaca-se a Resinose, cujo agente causador, o fungo Lasiodiplodia theobromae, é facilmente disseminado durante a operação de corte, em áreas onde já existam focos. A adição de Benomyl ao óleo lubrificante da motosserra durante o corte das plantas, quando combinada com o pincelamento do tronco com oxicloreto de cobre, propicia uma significativa redução no progresso da lesão causada pelo fungo. A Antracnose, quando identificada, poderá ser combatida com pulverizações de fungicidas protetores, como oxicloreto de cobre.
Entre as pragas, destacam-se a broca do tronco (Marshallius sp) e os cupins, que precisam ser eliminados sempre que forem identificados novos focos.
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Figura 14. Planta atacada pela Resinose
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Foto: Afrânio Arley Teles Montenegro
Vantagens
A substituição de copa em cajueiros, quando utilizada na recuperação de pomares de baixa produção, apresenta as seguintes vantagens:
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Aumento da produtividade do pomar de 240 para cerca de 1.300 kg de castanha/ ha.
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Redução do porte das plantas, o que facilita a colheita e os tratos culturais.
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Baixo custo quando comparada à implantação de novos pomares.
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Maior e mais rápida oferta de propágulos para enxertia de novas áreas.
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Rejuvenescimento das plantas.
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Uniformidade do pomar.
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Permite o consórcio com culturas como milho, feijão e mandioca, durante os primeiros anos.
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Dispensa o uso da irrigação.
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Limitações
Pode-se citar como limitação da tecnologia de substituição de copa, a dificuldade na utilização da técnica em plantas com idade superior a 30 anos. Nessas condições, o tempo para início das brotações e realização das enxertias é retardado e a oferta de brotações para porta-enxerto é reduzida. Além disso, o custo de implantação é mais elevado e há um aumento considerável no percentual de morte das plantas.
Custo
O custo da aplicação da tecnologia depende de um conjunto de fatores. Considerando-se um pomar de cajueiros com espaçamento de 10 m entre plantas (100 plantas/ha), com troncos de aproximadamente 1,0 m de perímetro, extração e substituição dos troncos mortos por mudas de cajueiro anão-precoce, e sem adensamento, o custo de implantação de cada hectare fica em torno de R$ 900,00. Estão incluídos os insumos (fertilizantes, corretivos, defensivos, etc.) e a manutenção durante o primeiro ano. Considerando ainda que na aplicação da tecnologia cada planta desse porte gera aproximadamente 0,8 m3 de lenha, a venda da madeira poderá abater boa parte do custo de implantação.
Produção
A produtividade dos pomares de cajueiros com copas substituídas varia em função do método adotado, idade e número de plantas existentes na área. Em alguns trabalhos desenvolvidos com cajueiros cortados aos dois anos de idade obteve-se uma produtividade média anual de 998,9 kg/ha, durante os quatro primeiros anos de produção. Em pomares de cajueiro comum adulto, adensados com cajueiro anão precoce, a produtividade pode atingir 1.366 kg/ha. Comparando-se estas produções com a produtividade média obtida nos pomares de cajueiro comum (246 kg/ha), verifica-se que a substituição de copa, aliada a um manejo adequado, tratos culturais e fitossanitários, apresenta-se como uma alternativa viável para a recuperação da cajucultura.
Fonte consultada:
BARROS, L.de M. (Ed.) Caju: produção - aspectos técnicos. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica: Fortaleza:Embrapa Agroindústria Tropical. 2002. 148p. (Frutas do Brasil, 30)