Geração de energia elétrica

Conteúdo atualizado em: 23/02/2022

Autor

André Ricardo Alcarde - Consultor autônomo

 

A cana-de-açúcar é um recurso totalmente renovável capaz de gerar açúcar, álcool anidro (aditivo para a gasolina) e álcool hidratado, além de possibilitar a geração de energia elétrica por meio da queima do bagaço (Figura 1) e a produção de plástico biodegradável, a partir do açúcar.

Foto: Patrícia Cândida Lopes.
Figura 1. Bagaço  para geração de energia.


O mercado brasileiro de energia elétrica vem atravessando grandes turbulências, devido a demanda e a inflexibilização da oferta. O levantamento do consumo de energia elétrica per capita mostra o Brasil na 82ª colocação, ficando atrás de pequenos países como Guiana Francesa, Uruguai e Venezuela (Tabela 1).

Tabela 1. Consumo de energia elétrica em diferentes países (consumo Kwh / habitante).
Fonte: Ortega Filho (2003).


Diante deste mercado, uma possível solução para os problemas que o Brasil enfrenta em relação à produção de energia é a geração de eletricidade, a partir do uso de resíduos da cana-de-açúcar (bagaço, palha, palhiço etc), alternativa que apresenta diversos aspectos positivos, como:

  • atendimento da necessidade nacional de geração de energia elétrica a partir de novas fontes energéticas;
  • produção de energia elétrica com tecnologia totalmente limpa, de fonte renovável, que contribui para a preservação ambiental;
  • produção de energia elétrica, sobretudo na época de menor pluviosidade, que coincide com a safra sucroalcooleira;
  • inclusão de um novo agente de produção de energia elétrica, contribuindo, assim, para a consolidação do novo modelo de mercado competitivo;
  • ganho de competitividade no setor sucroalcooleiro mundial, uma vez que será agregado novo produto de receita estável a partir do melhor aproveitamento de um produto residual;
  • utilização de tecnologia totalmente nacional, preservando empregos locais e desonerando a balança de pagamentos do País.

Outra vantagem da utilização do bagaço para geração de energia é o baixo custo, já que o produto não depende de variações cambiais. Para as usinas, além de fonte adicional de receita, a co-geração (Figura 2) pode representar a oportunidade de renovação da planta industrial, com investimentos em novas máquinas e equipamentos mais modernos e eficientes.

Foto: Patrícia Cândida Lopes.
Figura 2. Co-geração de energia elétrica.


Entretanto, o sistema apresenta diversas dificuldades, como a demora para se conseguir financiamentos para os investimentos, incertezas quanto à real capacidade de absorção pelo mercado da energia gerada pelo setor canavieiro e quanto à suficiência do lucro para cobrir os custos operacionais e permitir a amortização dos investimentos.

A possibilidade de o setor sucroalcooleiro aumentar a geração de energia elétrica está ligada a questões como:

  • tipo de tecnologia e potência a serem instaladas;
  • período de geração (na safra de cana ou o ano todo);
  • a quem e de que forma vender o excedente de energia;
  • fontes e condições para se viabilizar os novos investimentos;
  • importância da nova atividade em relação às tradicionais açúcar e álcool;
  • mudanças a serem feitas na lavoura canavieira, especialmente o aproveitamento da palha como fonte geradora de energia.


A importância da co-geração de energia elétrica para o setor sucroalcooleiro

Segundo definição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a co-geração de energia é o processo de produção combinada de calor útil e energia mecânica, geralmente convertida total ou parcialmente em energia elétrica (Figura 3), a partir da energia química disponibilizada por um ou mais combustíveis. A co-geração trata-se da associação da geração simultânea combinada de dois ou mais tipos de energia, utilizando um único tipo de fonte energética.

Foto: Rogério Haruo Sakai.
Figura 3. Sala de distribuição de energia elétrica.


No caso, a fonte energética é o bagaço de cana que, ao ser queimado, gera energia térmica em forma de vapor e energia elétrica. O funcionamento ocorre da seguinte maneira: em uma fornalha o bagaço é queimado, enquanto o vapor é produzido em uma caldeira (Figura 4). O jato de vapor gira uma turbina que, por estar interligada ao eixo de um gerador, faz com que este entre em movimento, gerando a energia elétrica.

Foto: Raffaella Rossetto.
Figura 4. Caldeira.


Existem vários aspectos a serem considerados para a implantação de um sistema de co-geração, como a disponibilidade de combustíveis a baixo custo (o bagaço, por exemplo); a existência ou não de soluções convencionais de expansão do sistema elétrico economicamente compatíveis com a co-geração e o ritmo de crescimento da demanda.

Pode-se dizer que a opção pela co-geração deve considerar quatro tipos de potenciais: termodinâmico, técnico, econômico e mercado potencial. O potencial termodinâmico é definido em bases teóricas, independentemente da existência da tecnologia de conversão, e representa a quantidade máxima de energia a ser produzida. Já o potencial técnico procura definir a tecnologia mais adequada e eficiente para o sistema, enquanto o potencial econômico define os investimentos a serem feitos, visando garantir o retorno em menor tempo possível. O mercado potencial é determinado pela demanda de mercado e para quem será gerada a energia.


Fonte consultada:

ORTEGA FILHO, S. O potencial da agroindústria canavieira do Brasil. [Serrana, PHB Industrial, 2003]. 9 p.