Cana
Doenças fúngicas
Autores
Antonio Dias Santiago
Raffaella Rossetto
Doenças causadas por fungos
Dentre as doenças causadas por fungos e que podem prejudicar o canavial, destacam-se a ferrugem e o carvão. Outras importantes doenças são: mancha parda, podridão abacaxi, podridão vermelha e podridão de fusarium (fusariose), que serão descritas detalhadamente, abaixo.
Ferrugem - Fungo Puccinia melanocephala
A ferrugem está presente em todas as regiões produtoras do Brasil e é encontrada em, aproximadamente, 64 países produtores. Conhecida há mais de 100 anos, a doença causa perdas de 50% nas variedades mais suscetíveis. No Brasil, a ferrugem foi detectada pela primeira vez em 1986, quando afetou canaviais dos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Os sintomas característicos da ferrugem, descritos abaixo, podem ser observados na Figura 1.
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inicialmente, surgem pequenas pontuações cloróticas nas folhas, que evoluem para manchas alongadas de coloração amarelada, podendo ser observadas na superfície superior e inferior da folha. As manchas variam entre dois e dez centímetros de comprimento e um e três centímetros de largura, e aumentam rapidamente de tamanho, mudando da coloração amarela para avermelhada, vermelho-parda e preta nos estágios finais de morte da folha;
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desenvolvimento de pústulas (elevações na superfície da folha, causadas pelo desenvolvimento do fungo) nos centros das manchas e na face inferior das folhas.
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Fig. 1. Sintomas de ferrugem. Foto: Liliane De Diana Teixeira. |
As pústulas encobrem parte da folha, reduzindo sua área fotossintética. Assim, a planta pode apresentar crescimento retardado, morte de perfilhos, colmos finos e encurtamento dos entrenós. Em variedades muito suscetíveis, as pústulas agrupam-se, formando placas de tecido morto. Plantas muito atacadas podem apresentar folhas queimadas e sem brilho.
Os sintomas da ferrugem são mais evidentes nas primeiras etapas de desenvolvimento da doença, sendo bem menos perceptíveis ao final da epidemia, quando as plantas atingem maior grau de maturação. De modo geral, a máxima suscetibilidade das plantas ocorre no estágio juvenil (três a seis meses). A maturidade é, normalmente, acompanhada da recuperação dos sintomas, caracterizando, em muitas variedades, o que se denomina resistência da planta adulta.
A disseminação da doença se dá, sobretudo, pelo vento, que transporta os esporos do fungo para outras plantas e regiões. A única prática de controle para a doença é o uso de variedades resistentes. O uso de fungicidas foliares não é uma opção economicamente viável.
Carvão - Fungo Ustilago scitaminea
O agente causador do carvão está presente em todas as regiões do Brasil, sendo que sua primeira constatação foi em 1946, no Estado de São Paulo. Após sua descoberta, várias medidas de controle foram adotadas, sendo que a que surtiu maior efeito foi a proibição do plantio comercial de variedades suscetíveis a essa moléstia.
O carvão pode causar diversos danos ao canavial e as perdas podem chegar a 100% em variedades suscetíveis. Algumas regiões canavieiras podem permanecer por muitos anos sem relatos de ocorrência de carvão e, no entanto, a doença pode reaparecer e devastar rapidamente áreas com variedades suscetíveis. Os danos causados pelo fungo incidem tanto na redução da produção como na perda de qualidade do caldo. O carvão é uma das doenças que atingem a cana-de-açúcar de mais fácil identificação. Seus sintomas, descritos a seguir, podem ser visualizados na Figura 2.
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Fig. 2. Sintomas de carvão. Foto: Hasime Tokeshi. |
A doença caracteriza-se pelo surgimento de um chicote, que consiste em uma modificação da região de crescimento do colmo (ápice), induzida pelo fungo, com tamanho variável - de alguns centímetros a mais de um metro de comprimento. O chicote é composto por parte do tecido da planta e parte do tecido do fungo. Inicialmente, esse chicote apresenta cor prateada, passando, posteriormente, à preta, devido à maturação dos esporos nele contidos. Antes de emitirem o chicote, as plantas doentes apresentam folhas estreitas e curtas, colmos mais finos que o normal e touceiras com superbrotamento. Os chicotes surgem em plantas com idade entre dois e quatro meses, sendo que o pico ocorre entre seis e sete meses de idade.
As condições ambientais são determinantes no surgimento de epidemias de carvão. Sob condições de estresse, mesmo variedades resistentes ao fungo podem apresentar sintomas da doença. Condições de estresse hídrico e calor favorecem a ocorrência do fungo. A transmissão da doença se dá de forma aérea, por disseminação a partir dos chicotes e por meio do plantio de mudas infectadas. A forma mais eficiente para controlar a doença é o uso de variedades resistentes. A doença pode, ainda, ser prevenida com o uso de mudas sadias obtidas a partir de tratamento térmico para curá-las da doença. Outra prática que deve ser utilizada, sobretudo quando são empregadas variedades de resistência intermediária, é o roguing (eliminação de plantas doentes).
Mancha parda - Fungo Cercospora longipes
Doença presente em todas as regiões do País e que apresenta intensidade variável nos canaviais. O sintoma típico da doença (Figura 3) é o surgimento de manchas de coloração marrom-avermelhada e marrom-amarelada na superfície superior e inferior de folhas adultas. Muitas vezes, as manchas apresentam halos cloróticos em seu contorno.
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Fig. 3. Sintomas de mancha parda. Foto: Hasime Tokeshi. |
O tamanho da área afetada da folha depende do grau de resistência da variedade ao patógeno, sendo que a melhor maneira de controlar a doença nos canaviais é com o uso de variedades resistentes.
Podridão abacaxi - Fungo Ceratocystis paradoxa
Doença que afeta uma grande quantidade de outras culturas, a podridão abacaxi pode incidir também sobre as mudas (toletes) de cana-de-açúcar. Como o fungo causador da doença não possui mecanismos próprios de penetração, ele se utiliza de aberturas naturais ou ferimentos para entrar e colonizar uma planta. Se a cana for plantada em solo contaminado, a penetração do fungo ocorre pelo corte nos toletes de plantio.
Uma vez instalado na muda, o fungo provoca baixa germinação em canaviais recém implantados e, também, morte de brotos novos. Um diagnóstico mais preciso pode ser realizado ao se observar uma coloração vermelha dos tecidos internos e exalação de odor de abacaxi quando realizado um corte longitudinal no tolete (Figuras 4 e 5).
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Fig. 4. Sintoma de podridão abacaxi no colmo.
Foto: R. N. Raid - University of Florida/IFAS Extension. |
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Fig. 5. Sintoma de podridão abacaxi no canavial.
Foto: R. N. Raid - University of Florida/IFAS Extension. |
Como a sobrevivência do fungo é favorecida pela alta umidade a doença ocorre, geralmente, em solos argilosos, encharcados e de difícil drenagem. Temperaturas baixas é outra condição favorável ao desenvolvimento do fungo, por isso o outono da Região Centro-Sul é a época mais comum de aparecimento da doença.
Para prevenir a podridão abacaxi são recomendáveis medidas como:
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tratar as mudas com fungicidas antes do plantio;
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picar os toletes em tamanhos maiores, com seis gemas ou mais;
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evitar replantio de mudas em solos contaminados recentemente.
Podridão vermelha – Fungo Colletotrichum falcatum
A doença existe desde o início do cultivo da cana e ocorre no mundo todo. A podridão vermelha causa prejuízos importantes à cultura, sobretudo pela inversão de sacarose, o que diminui o rendimento no processamento da cana. São freqüentes os relatos de perdas de 50% a 70 % de sacarose em colmos atacados simultaneamente pelo fungo e pela broca-da-cana, pois ao perfurar o colmo ela abre caminho para a entrada do fungo.
A doença pode se manifestar na cana-de-açúcar sob diferentes formas, sendo que a principal característica é a degradação dos colmos. Como os danos são internos, a doença pode passar despercebida. Para reconhecer os sintomas, recomenda-se partir o colmo no sentido longitudinal e observar a presença de grandes manchas vermelhas separadas por faixas mais claras ou brancas - é o que permite fazer a diferença entre fusariose e podridão vermelha (Figura 6).
Fig. 6. Sintomas de podridão vermelha. Foto: Raffaella Rossetto. |
O método de controle mais eficiente é o uso de variedades resistentes, mas algumas práticas como eliminação dos restos da cultura, controle da broca-da-cana e plantio de mudas de boa qualidade podem diminuir a incidência.
Podridão de fusarium (fusariose) – Fungo Fusarium moniliforme
A fusariose é uma doença presente em todas as regiões produtoras do mundo e pode contaminar a planta em qualquer fase de seu desenvolvimento. O fungo causador da doença pode ocasionar uma grande variedade de sintomas nas plantas, que dependem do estágio de desenvolvimento da cana, do seu nível de resistência e de condições ambientais. Em plântulas de cana-de-açúcar os sintomas são:
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sistema radicular pouco desenvolvido;
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baixo vigor;
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podridão de raíz e de colo;
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damping-off (morte de várias plântulas agrupadas, denominadas reboleira).
Em toletes de plantio, os sintomas são:
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baixa brotação das gemas;
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podridão de raíz;
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enfezamento (redução no tamanho) dos brotos.
Nos colmos os sintomas são muito parecidos com os da podridão vermelha e seu aparecimento está associado a ferimentos químicos ou físicos como aqueles causados por brocas (Figura 7). Outro dano causado é o chamado Pokkah-boeng, em que ocorre uma deformação do topo da cana-de-açúcar. Os melhores métodos de controle da fusariose são o uso de variedades tolerantes e o controle da broca da cana-de-açúcar.
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Fig. 7. Sintomas de fusariose. Foto: Luiz Plínio Zavaglia - PMGCA/UFSCar |