Cana
Nematóides
Autores
Raffaella Rossetto - Consultora autônoma
Antonio Dias Santiago - Embrapa Tabuleiros Costeiros
Os nematóides são vermes que possuem o corpo em formato cilíndrico, geralmente alongado e com as extremidades afiladas. Em algumas situações, as fêmeas assumem formas aberrantes de rim, maçã ou outras que fogem da aparência corriqueira dos vermes. O tamanho dos nematóides é bastante variável. Os parasitas de plantas medem de 0,3 a três milímetros de comprimento e os de animais chegam a atingir até vários centrímetros de comprimento. Eles são capazes de viver em qualquer ambiente que tenha disponibilidade de água e mostram-se extremamente sensíveis à falta de água e à temperaturas extremas. Entretanto, há espécies de nematóides que conseguem resistir ao estresse hídrico durante meses ou anos.
Na agricultura
Há vários gêneros de nematóides relacionados aos cultivos agrícolas. Os vermes atingem diversas culturas, mas várias espécies, mesmo parasitando plantas, não são responsáveis por prejuízos significativos. Os nematóides mais importantes são: Meloidogyne, Heterodera, Globodera, Pratylenchus, Rodopholus, Rotylenchulus, Nacobbus e Tylenchulus.
Esses parasitas têm um estilete bucal que, além de retirar substâncias nutritivas das plantas, viabilizam a injeção de substâncias tóxicas no interior da célula vegetal. Geralmente, os nematóides estão presentes no solo e atuam nas raízes das plantas. Quase sempre esse parasitismo fica evidente pelo aparecimento de formas aberrantes de estruturas - galhas e escurecimento do tecido.
Os nematóides podem utilizar os seguintes meios para chegar às áreas de cultivo: água de irrigação, ventos fortes, mudas produzidas em substratos ou solos infectados, máquinas e implementos agrícolas e movimentos de animais e pessoas na área.
Os problemas começam a ser percebidos na parte aérea da planta, que passa a ter dificuldade para retirar água e nutrientes do solo. Normalmente, os ataques ocorrem nas reboleiras, onde as plantas apresentam menor crescimento e amarelecimento das folhas (Figura 1). Os fatores que mais influenciam a ação dos nematóides são: solo, clima, região e tipo do manejo.
Foto: Raffaella Rossetto. |
Figura 1. Sintomas do ataque de nematóides. |
Formas de controle
Manter a área livre da entrada de nematóides é a melhor medida de controle. Outras formas de prevenção ajudam bastante, como os seguintes cuidados:
- limpar os reservatórios de água e os canais de irrigação;
- usar mudas produzidas em substratos esterelizados;
- lavar cuidadosamente as máquinas e os implementos agrícolas, principalmente, após sua utilização em áreas infestadas pelos vermes;
- evitar acesso de pessoas e animais domésticos em áreas infestadas;
- evitar plantios consecutivos com culturas suscetíveis ao verme;
- fazer rotação de culturas com gramíneas, como milho e sorgo. Essas plantas reduzem a população dos nematóides;
- utilizar cultivares resistentes;
- expor as camadas profundas do solo à radiação solar nas horas mais quentes do dia.
Ação nos canaviais
Três espécies de nematóides são as mais comuns nos canaviais brasileiros: Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita e Pratylenchus zeae. Estas apresentam diferentes graus de infestação e severidade de danos à cana-de-açúcar. O Pratylenchus zeae é o mais comum nos canaviais brasileiros. Em algumas variedades, o Meloidogyne javanica chega a reduzir a produtividade em 30% no primeiro corte. Já o Meloidogyne incognita causa danos mais severos às plantações. A redução da produtividade chega a atingir 50% no primeiro corte e 10% nas soqueiras seguintes. Em cada soqueira, ele provoca perdas que variam de dez a 20 toneladas por hectare. As plantas atacadas apresentam-se menores, murchas e cloróticas (Figura 2). Elas são cercadas por plantas aparentemente sadias e formam reboleiras no canavial. Os sintomas da parte aérea são provocados pela menor capacidade de absorção dos nutrientes pelas raízes da cana. A planta passa a apresentar galhas - deformação originada pelas toxinas do verme, pela menor quantidade de radicelas e pelo escurecimento do tecido morto.
Foto: Wilson Novaretti. |
Figura 2 Área de canavial atacada por nematóides (esquerda) e área não atingida (direita). |
Prejuízos
Algumas variáveis intensificam os prejuízos causados pelas infestações de nematóides nos canaviais. As mais importantes são:
Nível populacional dos parasitas: quanto maior a população, maior será a severidade dos danos.
Tipo de solo: alguns solos são mais suscetíveis à infestação por nematóides. Os solos argilosos, por exemplo, retêm grande quantidade de água e tornam o ambiente propício a esses vermes.
Variedade cultivada: há variedades que se apresentam mais resistentes aos nematóides, mas a maioria delas é suscetível a infestações.
Controle
O controle é fundamental para que o produtor tenha bom rendimento. Os principais métodos de controle são:
Cultivo de variedades resistentes: é o método mais atraente ao produtor, pois além de não implicar em custos adicionais, não provoca impactos ambientais porque, mesmo em áreas já infestadas, dispensa o uso de produtos químicos. Vale lembrar que ainda não há no mercado espécies resistentes aos principais tipos de nematóides.
Uso de nematicidas químicos: é o método mais utilizado e pode ser aplicado no plantio e na soqueira. Trata-se do método mais eficiente de controle.
Estão disponíveis no mercado vários nematicidas. Os mais utilizados no cultivo da cana-de-açúcar são os que contém os seguintes principios ativos: Aldicarb, Carbofuran e Terbufós. No plantio, esses produtos podem ser aplicados diretamente nos sulcos sobre os toletes, e, nas soqueiras, ao lado ou sobre a linha da cana. A aplicação de nematicidas durante o plantio mostra-se muito mais eficiente e aumenta a produção em cerca de 50 toneladas por hectare.