Cana
Irrigação
Autores
Ronaldo Souza Rezende - Embrapa Tabuleiros Costeiros
Aderson Soares de Andrade Júnior - Embrapa Meio-Norte
Irrigação é um método artificial de aplicação de água na agricultura, cujo principal objetivo é viabilizar os cultivos nos locais onde a escassez de água limita a atividade agrícola. A adição de água pode ser feita das seguintes formas: total, suplementar, com déficit hídrico e de salvação, conforme descritas abaixo.
Irrigação total
É quando toda a água necessária para atender a demanda hídrica das culturas é aplicada via irrigação. Deve ser praticada em regiões áridas ou onde a precipitação (chuva) é insignificante. Para o dimensionamento dos projetos, usa-se a maior demanda diária que ocorrerá durante o ciclo da cultura, ou seja, maior demanda hídrica potencial da cultura (ETc = Kc . ETo).
Para o manejo da irrigação, usa-se os valores da demanda hídrica real da cultura (ETr = Ks . ETc), em que Ks é função dos teores de umidade do solo nos ntervalos entre as irrigações.
Irrigação suplementar
Neste tipo de manejo, a água a ser utilizada para atender a demanda evapotranspirométrica das culturas, parte vem da irrigação e parte vem da precipitação efetiva, ou seja, a irrigação suplementará a precipitação efetiva no atendimento da demanda evapotranspirométrica da cultura.
Para o dimensionamento do sistema de irrigação, usa-se a precipitação provável com 75 ou 80% de probabilidade de ocorrência. Para o manejo da irrigação usa-se a precipitação efetiva ocorrida no intervalo entre duas irrigações consecutivas.
Irrigação com déficit
É quando se planeja atender somente uma fração da demanda hídrica da cultura.
Pode ser praticada com irrigação total e suplementar, tanto para dimensionamento quanto para manejo da irrigação. O déficit pode ser durante todo o ciclo da cultura ou somente nas fases não críticas ao déficit de água. Neste último caso, obtém-se menores quedas na produtividade potencial da cultura.
Irrigação de salvação
Neste tipo de manejo, planeja-se irrigar somente num período relativamente curto ou em um estágio do cultivo. Exemplo típico ocorre com a cana-de-açúcar, à qual se aplica, via irrigação, a água de lavagem da cana e/ou água com vinhoto. A aplicação é feita em duas ou três irrigações de 60 milímetros por mês, após o plantio, para cana-planta, ou após os cortes, para cana-soca.
Com a irrigação é possível o suprimento hídrico para que as plantas tenham condições adequadas de crescimento e desenvolvimento (Figura 1).
Figura 1. Exemplo de relação entre produtividade e quantidade de |
Aliada à outras técnicas de manejo, a irrigação aumenta a competitividade econômica e agronômica da cultura, elevando a rentabilidade do empreendimento agrícola. A Tabela 1 mostra uma comparação entre diferentes variedades de cana cultivadas em sistema irrigado e de sequeiro.
Tabela 1. Produção de cana-de-açúcar em sistema de sequeiro e irrigado, descrita por diversos autores. |
Fonte: Bernardo (2006), adaptada pelo autor. |
rrigação da cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar plantada em regiões tradicionais não tem problemas com falta ou excesso de água, sendo que somente em áreas de novos plantios é que se faz o uso da irrigação.
Para a cultura da cana, a irrigação pode ser feita de dois modos:
-
irrigação para produção: o objetivo é aumentar a produtividade da lavoura;
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irrigação de salvação ou complementar: visa o uso da água apenas por um período curto ou estágio de cultivo.
Com a implantação de sistemas de irrigação, há acréscimo na produtividade e no número de cortes realizados durante o ciclo da cultura.
Fatores importantes
Desde que mal conduzida, a irrigação pode provocar efeitos indesejáveis, como: salinização, erosão do solo e assoreamento dos cursos d' água. Para que a irrigação seja eficiente, é necessário observar os seguintes aspectos:
Consumo de água: o produtor deve considerar a variação da necessidade de água, conforme os estágios de desenvolvimento da cana e das condições climáticas locais. Esses cuidados evitam excessos de água na cultura, desperdícios e prejuízos.
Métodos de irrigação:
Irrigação de superfície: a água é aplicada de forma concentrada, em sulcos de irrigação abertos paralelamente às fileiras das plantas (Figura 2). É um método que apresenta baixa eficiência de aplicação de água. É recomendado apenas para situações específicas de solos de textura médio-argilosa e topografia plana.
Foto: Raffaella Rossetto. |
Figura 2. Irrigação por sulcos. |
Irrigação por aspersão: a água é aplicada por emissores chamados de aspersores, que possuem bocais, por onde a água é aspergida sob pressão, em forma de uma chuva artificial. Os aspersores são conectados a tubulações de diferentes diâmetros, e estas a uma bomba centrífuga, responsável pela pressurização do sistema. É um método que apresenta uma eficiência de aplicação de água em torno de 70% a 80%. Além da aspersão convencional, são, normalmente, utilizados os sistemas de irrigação autopropelido, linear móvel e pivô central (Figura 3).
Foto: Raffaela Rossetto. |
Figura 3. Irrigação por pivô central. |
Irrigação localizada: a água é aplicada de forma localizada, próxima às fileiras das plantas. O sistema de irrigação mais utilizado é o gotejamento subsuperficial, no qual as linhas gotejadoras são enterradas a uma profundidade de 25 centímetros, entre as fileiras duplas das plantas. Apresenta elevada eficiência de aplicação de água - 90% a 95 %. Não possui restrição em termos de textura do solo e topografia do terreno. Com esse sistema, é possível a aplicação de fertilizantes via água de irrigação, reduzindo bastante os custos com mão-de-obra com essa prática. Como desvantagem, apresenta elevado investimento inicial com a aquisição das linhas gotejadoras, tubulações, filtros e acessórios.
Necessidade de irrigação
O Sistema Agritempo (http://www.agritempo.gov.br/) fornece mapas sobre a necessidade de irrigação para todos os Estados brasileiros. São informações coletadas de inúmeras estações meteorológicas espalhadas no País, atualizadas diariamente. Clique na Figura 4 para acessar as informações sobre a necessidade de irrigação para o Estado de seu interesse.
Figura 4. Necessidades de irrigação, pelo período de três dias.
Fontes consultadas:
BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 8. ed. Viçosa: UFV, 2008. 596 p.
BERNARDO, S. Manejo da irrigação na cana-de-açúcar. Alcoolbrás, São Paulo, n. 106, p. 72-80, 10 out. 2006.