Cenoura
Irrigação
Autor
Waldir Aparecido Marouelli - Embrapa - Secretaria Geral
A produtividade e a qualidade das raízes de cenoura são intensamente influenciadas pelas condições de umidade do solo. Ainda que as plantas de cenoura sejam muito sensíveis à falta de água, o excesso também é prejudicial. Assim, para a obtenção de altos rendimentos é necessário o controle da umidade do solo e/ou da quantidade de água transpirada pelas plantas e evaporada do solo (evapotranspiração) durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura, para, deste modo, determinar o momento de irrigar e a quantidade de água a ser aplicada.
O sistema de irrigação mais utilizado em pequenas áreas é o por aspersão convencional (aspersores de impacto, microaspersores e fitas de polietileno perfuradas), enquanto em grandes áreas utiliza-se o sistema pivô central. O uso de aspersor do tipo canhão é inconveniente porque pode retirar as sementes dos sulcos de plantio e compacta o solo, prejudicando a germinação e a emergência das plântulas. Os sistemas de irrigação por sulco e por gotejamento são muito pouco utilizados por apresentarem baixa eficiência e alto custo, respectivamente.
De modo geral, a primeira irrigação após o plantio deve ser feita de tal modo que se molhe o solo (capacidade de campo) até 20-30 cm de profundidade. Durante os primeiros 20-30 dias após o plantio, as irrigações devem ser leves (lâminas pequenas) e frequentes (1-2 vezes por dia ou no máxima a cada 2 dias). Depois desta fase até a colheita deve-se aumentar o intervalo entre irrigações (turno de rega) e principalmente a lâmina de água a cada irrigação, pois as raízes se aprofundam.
A reposição da água ao solo no momento e na quantidade correta envolve uma série de parâmetros relacionados à planta, ao solo e ao clima. Existem vários métodos para o manejo da água de irrigação na cultura da cenoura, alguns simples e outros sofisticados e complexos.
A seguir é apresentado um procedimento simples (Tabelas 1 e 2), que não requer o uso de equipamentos e dispensa cálculos complicados, para a determinação do turno de rega e da lâmina de irrigação em cada fase da cultura.
Passo 1: Determinar a evapotranspiração da cultura (ETc) na Tabela 1 em função das condições do clima (temperatura e umidade relativa média do ar) e da idade das plantas (fase da cultura).
Passo 2: Determinar a turno de rega (TR) na Tabela 2 em função da ETc, tipo de solo e profundidade efetiva das raízes (profundidade do solo que contem 80% das raízes).
Passo 3: Determinar a lâmina de irrigação (Li) multiplicando-se a ETc pelo TR e dividindo o produto pela eficiência de irrigação do sistema (Ei). Na rega por aspersão, a eficiência varia frequentemente entre 0,60-0,80, podendo chegar a 0,90 quando se irriga com pivô central.
Outro método simples, porém bem mais preciso que o anterior (Tabelas 1 e 2), é o que utiliza sensores do tipo Irrigas®. Tais sensores, desenvolvidos e patenteados pela Embrapa, medem a umidade do solo e permitem ao produtor saber quando e quanto irrigar.
Exemplo de manejo de irrigação usando as Tabelas 1 e 2.
Considere-se a seguinte situação de uma lavoura de cenoura:
• Solo: arenoso (tipo I).
• Clima: seco e temperatura moderada
• Idade da cultura: 30-50 dias.
• Profundidade efetiva das raízes: 20 cm.
• Sistema de irrigação: aspersão convencional (Ei = 0,70)
Passo 1: Pela Tabela 1, para clima seco, temperatura moderada e plantas com 30-50 dias de idade, obtêm-se ETc = 7 mm/dia.
Passo 2: Pela Tabela 2, para ETc = 7 mm/dia, solo tipo I e profundidade de raízes de 20 cm, obtêm-se TR = 2 dias.
Passo 3: Para ETc = 7 mm/dia, TR = 2 dias e Ei = 0,70, obtêm-se Li = 20,0 mm (7 mm/dia x 2 dias / 0,70).
Tabela 1. Evapotranspiração da cultura de cenoura (mm/dia) em função da idade da planta (dias após o plantio), temperatura (baixa, moderada e alta) e umidade relativa média (24 horas) do ar (seco, úmido)
Idade (dias) | Baixa (15-20) ºC) | Moderada (20-25) ºC | Alta (25-30) ºC | |||
Seco | Umido | Seco | Umido | Seco | Umido | |
0-30 | 6 | 3 | 7 | 4 | 8 | 5 |
30-50 | 5 | 3 | 7 | 4 | 8 | 4 |
50-80 | 7 | 4 | 8 | 5 | 10 | 6 |
80-100 | 6 | 3 | 8 | 4 | 8 | 5 |
Clima seco = 40-50% de umidade relativa; clima úmido = 60-80% de umidade relativa.
Fonte: adaptado de Marouelli et al. 2011.
Tabela 2. Turno de rega (dias) em função da evapotranspiração da cultura (ETc), profundidade efetiva de raízes e tipo de solo.
ETc (mm/dia) | Profundidade radicular (cm) | |||||||
10 | 20 | 30 | 40 | |||||
Tipo de Solo | ||||||||
I* | II** | I* | II** | I* | II** | I* | II** | |
1 | 4 | 6 | 7 | 10 | - | - | - | - |
2 | 2 | 3 | 4 | 6 | 5 | 9 | 7 | 12 |
3 | 1 | 2 | 3 | 4 | 4 | 6 | 5 | 9 |
4 | 1 | 1 | 2 | 3 | 3 | 5 | 4 | 6 |
5 | 2 x dia | 1 | 2 | 2 | 2 | 4 | 3 | 5 |
6 | 2 x dia | 2 x dia | 1 | 2 | 2 | 3 | 3 | 4 |
7 | 2 x dia | 2 x dia | 1 | 2 | 2 | 3 | 2 | 4 |
8 | - | - | 2 x dia | 1 | 1 | 2 | 2 | 3 |
9 | 1 | 2 | 2 | 3 | ||||
10 | 2 x dia | 1 | 1 | 2 |
Fonte: adaptado de Marouelli et al. 2001.
*Solo tipo I : textura grossa à moderadamente grossa; exemplo: solo franco arenoso, areia franca e areia.
** Solo tipo II : textura média à fina; exemplo: solo franco, franco siltoso, franco argilo arenoso e siltoso, franco argiloso, argila arenosa e siltosa, e argila.
Obs.: Em geral os solos sob cerrados de textura média à fina apresentam baixa disponibilidade de água. Assim devem ser considerados como do tipo I
Fotos: Waldir Aparecido Marouelli | ||
Figura 1. Sistema de irrigação por aspersão convencional utilizando aspersores de impacto. | Figura 2. Sistema de irrigação por aspersão com pivô central. | Figura 3. Sistema de irrigação por aspersão com fitas de polietileno perfuradas. |
Fotos: Waldir Aparecido Marouelli | ||
Figura 4. Sistema de irrigação por sulco. | Figura 5. Sistema de irrigação por gotejamento. | Figura 6. Sensores Irrigas® para manejo da água de irrigação, com detalhes de instalação e leitura. |