Adubação

Conteúdo atualizado em: 04/08/2023

Autor

Maria da Conceição Santana de Carvalho - Embrapa Arroz e Feijão

Pedro Marques da Silveira - Embrapa Arroz e Feijão

 

O feijoeiro é uma planta considerada altamente exigente em qualidade do solo, devido ao ciclo curto e ao sistema radicular superficial e pouco desenvolvido. O manejo adequado da fertilidade do solo, por meio da correção da acidez e do abastecimento equilibrado dos nutrientes, é um fator determinante da produtividade da cultura e deve ser controlado de maneira criteriosa, buscando a máxima eficiência econômica. O uso inadequado e excessivo de fertilizantes sem atender aos critérios técnicos pode causar desequilíbrios nutricionais que resultam em aumento da incidência de doenças e pragas, podendo afetar a produtividade e a rentabilidade.

O planejamento de um programa de boas práticas de nutrição do feijoeiro, buscando a escolha correta de dose, fonte, modo e época de aplicação de cada nutriente, deve ser fundamentado em diferentes critérios, entre os quais se destacam:

a) a demanda de nutrientes pela planta, caracterizada pelos padrões de ingestão, redistribuição e exportação de nutrientes durante o ciclo da cultura;

b) a capacidade de suprimentos do solo, estimados por meio do resultado da análise de solo, complementada pelo monitoramento do estado nutricional da cultura por meio da análise química de folhas diagnósticas;

c) a vantagem de produtividade com base no potencial da cultivar plantada nas condições locais;

d) o estado da qualidade integral do solo, considerando atributos químicos, físicos e biológicos;

e) o retorno econômico ou a relação benefício-custo.

Além dos critérios mencionados, o histórico da área (registros de culturas em rotação e produtividades alcançados, calagem e adubações anteriores, ocorrência de doenças, sintomas visuais de deficiência ou toxicidade de nutrientes, entre outros), como características da cultivar plantada, o conhecimento da A dinâmica dos nutrientes no solo e dos fatores que obtiveram a eficiência dos fertilizantes são informações igualmente estratégicas para aprimorar o manejo nutricional do feijoeiro dentro do sistema de produção. Ou seja, não existe uma receita única a ser seguida quando se trata de manejo de nutrientes. Cabe ao técnico utilizar as informações divulgadas pelas instituições de pesquisa e adaptá-las às condições locais.

 

Demanda de nutrientes

A taxa de um nutriente na planta é determinada pela multiplicação do seu teor pela massa da matéria seca do tecido vegetal em questão. A transmissão de nutrientes é a quantidade acumulada na planta inteira, incluindo os grãos, no estádio fenológico de máximo acúmulo, enquanto a exportação se refere à quantidade acumulada somente nos grãos. Na Tabela 1, encontre-se os valores médios de exportação e exportação de macronutrientes, bem como as trilhas de teorias de referência para interpretação dos resultados de análise foliar em feijão-comum.

 

 

Manejo adequado da adubação

A correção da fertilidade química por meio do aumento dos níveis de nutrientes no solo está bem estabelecida nas diversas regiões produtoras. Por se tratar de uma cultura exigente e altamente responsiva ao porte de tecnologias, inclusive no que se refere à nutrição mineral, recomenda-se o seu cultivo nas áreas mais férteis da propriedade. Por exemplo, para a região do Cerrado é possível caracterizar um solo cujos teores de matéria orgânica, fósforo (P), potássio (K), enxofre (S) e micronutrientes são adequados para que o feijoeiro possa expressar seu potencial produtivo (Tabela 2) .Em solo com a fertilidade corrigida, o manejo da adubação terá por objetivo a manutenção da fertilidade da área e do potencial produtivo da cultura, de modo que a eficiência desse processo dependa da escolha correta da dose, da fonte,

 

 

Adubação com suspensão

O microorganismo (N) é o nutriente mineral absorvido em maior quantidade pelo feijoeiro. A maior parte do N absorvido pela cultura é proveniente da destruição da matéria orgânica do solo. Além da adubação, existem outras formas de entrada de N no sistema solo-planta, como a fixação biológica do N 2 (FBN) da atmosfera por microrganismos de vida livre ou por bactérias associadas às raízes do feijoeiro ( Rhizobium spp.) e descargas elétricas na atmosfera. Outras perdas de N são perdidas do solo por interruptores diferentes. Devido a esses diversos fatores que controlam a disponibilidade do N no solo, a análise do solo químico não é um bom indicador para fins de recomendação das práticas a serem aplicadas na adubação das culturas.

Considerando uma necessidade de absorção de 42 kg de N para produzir 1 t/ha e produtividade entre 2.000 kg/ha e 4.200 kg/ha, a quantidade de N extraída do solo é cerca de 80 kg/ha a 180 kg/ha, dos quais aproximadamente 65% são exportados nos grãos. Assim, para evitar o empobrecimento do solo, é importante a reposição da quantidade de N exportada, seja via FBN seja pela aplicação de fertilizantes. Nas recomendações oficiais, a dose de N indicada para o feijão-comum varia de 40 kg/ha a 100 kg/ha, dependendo do potencial produtivo da cultura e da probabilidade de resposta ao N decorrente do manejo do solo.

Resultados de pesquisas indicam que a inoculação das sementes com Rhizobium e, especialmente, a coinoculação ( Rhizobium e Azospirillum ) são capazes de fornecer parte do N demandado pela cultura, aumentado em diminuição da quantidade de fertilizante nitrogenado. Na Tabela 3, são propostas sugestões de doses de N a serem aplicadas via fertilizante na cultura do feijão-comum na região dos Cerrados, considerando o potencial produtivo.Ressalta-se que alterações na capacidade de fornecimento de N pelo solo ou pela FBN, assim como na eficiência do uso do N-fertilizante, fornece alterações nas doses sugeridas na Tabela 3. Portanto, o conhecimento do ambiente de produção e o acompanhamento do desenvolvimento da cultura são essenciais para a definição da dose mais adequada. O método do clorofilômetro, com índices incluídos especificamente para a cultura do feijão-comum, é uma ferramenta disponibilizada pela Embrapa que pode auxiliar o técnico a quantificar, em tempo real,

Quanto à época de aplicação, a recomendação convencional é aplicar de 15 kg/ha a 30 kg/ha de N no sulco de semear e o restante em cobertura, quando as plantas apresentam entre dois a quatro trifólios contaminados, fase em que a demanda pelo nutriente é acelerada. Contudo, as variações nessa prática podem ocorrer dependendo do sistema de produção e das fontes aplicadas. Exemplos:

1) Como a planta continuando absorvendo N até R 8 (enchimento das vagens), a possibilidade de parcelamento da adubação nitrogenada em sistemas irrigados aumenta a sua eficiência e melhora o rendimento de peneira. 

2) A utilização de fertilizantes de liberação lenta permite a aplicação antecipada (antes do estádio de maior demanda). 

3) A antecipação de parte ou do total da adubação de cobertura quando da presença de palhada com elevada relação C:N (milho, por exemplo), devido ao elevado potencial de imobilização do N do solo pelos microrganismos.

A fonte mais consumida na adubação de cobertura é a ureia devido ao menor custo por unidade de N, que, em sistema de sequeiro, pode ter sua eficiência reduzida por causa das perdas de N por volatilização de NH 3 , quando aplicada a lanço na presença de palhada na superfície. Nas condições em que o potencial de perdas e de resposta à adubação é elevado, a utilização de outras fontes como nitrato de amônio e cálcio (Ca) ou ureias tratadas com inibidores de urease pode ser vantajosa a longo prazo.

 

 

Adubação com fósforo e potássio

As recomendações oficiais de adubação são elaboradas por Comissões Estaduais de Fertilidade do Solo elaboradas com esse objetivo. As recomendações de adubação com fósforo (P) e potássio (K) se baseiam na expectativa de produtividade e na interpretação das tabelas da análise de solo, as quais são derivadas de experimentos de controlados nas principais produtoras regionais.

Embora seja extraído em dimensões menores que N, K e Ca, o P é o nutriente ao qual o feijoeiro mais responde na adubação. Os resultados da pesquisa apreciam incrementos de produtividade de grãos de feijão com a aplicação de até 120 kg/ha de P 2 O 5 mesmo em solos com teores adequados para as outras culturas de grãos em rotação, como soja e milho, por exemplo . De modo geral, as doses de P sugeridas nas recomendações de adubação das principais regiões produtoras são semelhantes e divergentes de 20 kg/ha a 120 kg/ha de P 2 O 5 , dependendo da probabilidade de produtividade e do teor de P disponível não só .As maiores doses são indicadas para lavouras de alto potencial produtivo (> 4 t/ha) ou com teor de P no solo abaixo do adequado para a cultura.

Na Tabela 4, são sugeridas sugestões de doses para adubação de manutenção do feijão-comum no Cerrado, considerando a vantagem de redução e a interpretação do teor de P no solo (Tabela 5). Como o feijoeiro possui baixa eficiência de absorção de P, conforme as doses sugeridas na Tabela 4 foram satisfeitas as taxas de aproveitamento do P aplicadas como 40% e 55%, para os teores não solo classificados como médio e adequado, respectivamente. Desse modo, os fatores que dificultam a chegada do P até as raízes ou que causam restrição ao seu crescimento (acidez, baixo teor de Ca, presença de alumínio – Al, baixa umidade ou alagamento, compactação, solução química do fertilizante, ataque de patógenos ) reduzem a eficiência da adubação, o que leva o feijoeiro a responder a doses mais altas. Por sua vez,

Quanto às fontes de P, os fertilizantes fosfatados solúveis são semelhantes. Porém, os que contêm Ca são recomendados para compor o formulado para aplicação no sulco de semeadura do feijão em áreas com teores abaixo de 2,5 cmol c /dm 3 de Ca na camada de 0 a 20 cm de profundidade, fato associado à subida exigência da cultura em Ca e, também, à importância desse nutriente para o crescimento das raízes.

 

 

 

OK é o segundo nutriente mais absorvido pelo feijoeiro. As doses de K sugeridas para o feijão nas oficias de adubação das principais regiões produtoras variam entre 20 kg/ha a 100 kg/ha de K 2 O, as quais são definidas em função do teor de K trocável no solo e da expectativa de produção da cultura. Na região do Cerrado, a maioria das regiões produtoras de feijão apresenta teor de K no solo classificado como adequado ou alto (> 80 mg/dm 3 ). Assim, a adubação da cultura com K deve ser feita para manter a fertilidade do solo por meio da obtenção das colheitas exportadas nos grãos. Na Tabela 6, são sugeridas doses a serem aplicadas na adubação de manutenção da cultura na região do Cerrado.

 

 

OK é um nutriente de fácil manejo. Atenção especial deve ser dedicado ao possível efeito salino do cloreto de potássio decorrente da aplicação de doses acima de 60 kg/ha no sulco de semear, razão pela qual deve-se priorizar a aplicação a lanço em pré-plantio ou em cobertura. Em solos areosos, é recomendado o parcelamento de colheitas acima de 60 kg/ha de K 2 O. Para um bom manejo de K, tanto em solos areosos quanto argilosos, deve-se realizar a aplicação antecipada nas plantas de cobertura, pois o nutriente é liberado rapidamente dos resíduos após a dessecação, ficando disponível para o feijão.O milheto e as braquiárias, por exemplo, são plantas acumuladas de K em sua biomassa e constituem excelente opção para ciclagem desse nutriente na entressafra que antecede o feijão, incluindo o aproveitamento do resíduo da adubação da cultura de verão.

Adubação com enxofre

A principal fonte de S para as plantas é a matéria orgânica do solo. Em solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica ou áreas com histórico de aplicação de formulações NPK sem ou com baixa concentração de S, pode ocorrer deficiência desse nutriente em razão da exportação contínua pelos grãos sem a devida das retiradas do solo.

Devido à baixa mobilidade do S no floema, o feijoeiro demanda continuamente desse nutriente para seu desenvolvimento e produção de grãos. A forma de S apresenta na solução do solo, e também a emoção pelas plantas, é o ânion sulfato (SO 4 2- ), o qual tende a se acumular nas camadas abaixo de 20 cm de profundidade, onde é maior a proporção de cargas positivos . Teores de S-SO 4 2- acima de 6 mg/dm 3 e de 12 mg/dm 3 nas camadas 0-20 cm e de 20 cm a 40 cm, respectivamente (média de 9 mg/dm 3 ), são adequados e , nesse caso, a aplicação de 15 kg/ha de S é suficiente para relatar a exportação pela cultura.O teor de S no solo é considerado baixo quando a média das duas classes é inferior a 4 mg/dm, sendo recomendada a aplicação de 30 kg/ha. OS pode ser fornecido com a aplicação de superfosfato simples, sulfato de amônio, gesso, polihalita ou outros fertilizantes enriquecidos com o nutriente, seja na forma de sulfato ou elementar.

Adubação de sistema com fósforo e potássio na sucessão  soja, milheto e feijão-comum irrigado

Em solos de Cerrado manejados de forma sustentável e com fertilidade construída, a
demanda por novas adubações consistirá essencialmente da devolução do que foi
exportado nos produtos colhidos. Um estudo, para aprimorar critérios para adubação de
sistema com fósforo e potássio no sistema agrícola soja (verão)/milheto (safrinha)/feijão
irrigado (inverno), foi realizado, por três anos, na Embrapa Arroz e Feijão. Os tratamentos
constaram da adubação recomendada para o feijão e a soja combinada ou não com
quantidades exportadas pela soja, sendo assim: 1. Feijão NPK (recomendado), Soja PK
(recomendado); 2. Feijão NPK (recomendado), Soja (sem adubação); 3. Feijão (sem
adubação), Soja PK (recomendado); 4. Feijão NPK (recomendado) + P (exportado soja),
Soja K (recomendado); 5. Feijão NPK (recomendado) + P e K (exportados soja), Soja (sem
adubação), sendo esses dois últimos considerando os tratamentos de adubação de
sistema. Os tratamentos de adubação de sistema (4 e 5) proporcionaram produtividades
semelhantes ao tratamento em que as culturas do feijão e da soja receberam adubações
indivíduos. Assim, visando maior rentabilidade operacional nas atividades de plantio,
pode-se considerar esses tratamentos como opções de manejo da adubação do sistema
agricultura soja/milheto/ feijão irrigado.