Gergelim
Irrigação
Autores
Jose Renato Cortez Bezerra - Embrapa Algodão
Luiz Carlos Silva - Pesquisador aposentado da Embrapa Algodão
Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão - In memoriam
Malaquias da Silva Amorim Neto - In memoriam
Nair Helena Castro Arriel - Embrapa Algodão
A irrigação tem por objetivo suprir as necessidades de água das culturas, para que possam crescer, desenvolver-se e produzir adequadamente. Constitui-se em uma atividade imprescindível para qualquer tipo de exploração agrícola rentável, em quase todas as regiões da terra. Existem poucas informações publicadas sobre o requerimento de água pelo gergelim (Sesamum indicum L.), principalmente porque é raro ser cultivado em escala comercial, sob o regime de irrigação. A deficiência de informação não se limita apenas ao total de água requerida, mas também ao seu consumo nas diversas fases fenológicas. Isso, em parte, se dá devido ao grande número de cultivares com reconhecidas diferenças comportamentais, mesmo sob condições ecológicas similares.
Assim, a escolha do método de irrigação a ser utilizado para a cultura do gergelim dependerá da quantidade e da qualidade de água disponível, da localização da fonte de água em relação à área a ser irrigada, e do tipo de solo, entre outros fatores. Quando a quantidade de água não for limitante, a fonte encontrar-se em uma posição mais elevada do que a área a ser irrigada, a declividade não for acentuada, e o solo não for arenoso, deve-se dar preferência aos métodos de irrigação por superfície. Quando a água tiver de ser bombeada de um rio ou de um poço que não seja salino, e, portanto, a qualidade o permitir, deve-se dar preferência à irrigação por aspersão.
A irrigação por aspersão pode ser usada em regiões de baixa umidade relativa. Em regiões úmidas, aconselha-se a irrigação por sulco, pois a aspersão tende a favorecer o desenvolvimento de doenças foliares do gergelim.
Foto: Vicente de Paula QueirogaFigura 1. Sistema de irrigação por aspersão. |
Foto: Vicente de Paula QueirogaFigura 2. Sistema de irrigação por gotejamento. |
Todas as cultivares de gergelim recomendadas pela Embrapa, as quais sejam Seridó-1, CNPA G2 e CNPA G3, possuem um potencial genético de produção de sementes de até 2.000 kg ha-1,em condições de irrigação e com adubação, enquanto, em condições de sequeiro, o potencial é de 500 kg ha-1 – 1.000 kg ha-1.
Determinantes na escolha do método de irrigação
Considerando-se que a água para a irrigação é um insumo e que, como tal, tem um custo financeiro, na captação, no bombeamento ou na aplicação, deve-se atentar para alguns critérios técnicos na escolha do método para seu fornecimento à planta.
A atenção aos fatores abaixo ajuda na escolha do melhor método de irrigação a ser usado, evitando o desperdício de água.
Uniformidade da superfície do solo
O método de irrigação por superfície requer superfícies uniformes e com declividade não muito acentuada ou, em alguns casos, nula. Em geral, há necessidade de sistematizar o solo a ser irrigado por superfície. Já o método de irrigação por aspersão não é limitado por esses fatores.
Tipo de solo
Solos arenosos, que apresentam baixa capacidade de retenção de água, não se adequam à irrigação por superfície, pois exigem irrigações leves e frequentes, ao mesmo tempo em que, por apresentarem alta infiltrabilidade, possibilitam grandes perdas por percolação profunda. No entanto, prestam-se à irrigação por aspersão, porque permitem irrigações com uma maior intensidade de aplicação, diminuindo o tempo de irrigação por posição.
Áreas com variações espaciais de solo, como é comum nos vales aluvionais, exigem maiores cuidados no manejo da irrigação por superfície.
Quantidade e qualidade da água
A pouca disponibilidade ou o elevado custo da água e da energia a serem utilizadas na irrigação exige alta eficiência de aplicação, o que pode limitar o uso da irrigação por superfície. Água com muitas partículas sólidas em suspensão tem uma utilização limitada em aspersão, pois essas partículas podem provocar obstruções nos emissores utilizados.
O objetivo principal da irrigação é proporcionar às culturas, no momento oportuno, a quantidade de água necessária para seu ótimo crescimento e, assim, evitar a diminuição dos rendimentos, provocada pela falta de água durante as etapas de desenvolvimento sensíveis à escassez. Com as irrigações, no entanto, os sais contidos na água acumulam-se na zona radicular, diminuindo a disponibilidade de água e acelerando sua escassez. A compreensão do processo de salinização permite encontrar formas de evitar seus efeitos e diminuir a probabilidade de redução de seus rendimentos.
As plantas extraem a água do solo quando as forças de embebição dos tecidos das raízes são superiores às forças de retenção da água exercidas pelo solo. À medida que a água é extraída do solo, as forças que retêm a água restante tornam-se maiores. Quando a água do solo é retida com forças superiores às forças de extração, inicia-se o estado de escassez de água na planta. A presença de sais na solução do solo faz que aumentem as forças de retenção por seu efeito de osmose e, portanto, aumenta a magnitude do problema de escassez de água na planta. Por exemplo, tendo-se dois solos idênticos e com o mesmo teor de água, em que um está isento dos sais e o outro, não, é exatamente do primeiro que a planta extrairá e consumirá mais água. A explicação científica desse fenômeno é complicada. Em geral, pode-se dizer que, devido à afinidade dos sais com a água, as plantas têm de exercer uma maior força de embebição para extrair do solo uma unidade de água com sais, do que para extrair outra que seja isenta deles.
Existe uma considerável variação no grau de tolerância entre as culturas no que concerne à salinidade. Quanto a esse aspecto, é importante salientar que a cultura do gergelim é extremamente susceptível aos sais: concentrações salinas que têm pouco ou nenhum efeito sobre a cultura do algodão ou do girassol podem ser fatais para a cultura do gergelim.
Clima
Em regiões em que a velocidade média do vento exceda a 4 m/s, não deverá ser utilizada a irrigação por aspersão, devido às perdas de água por deriva, provocadas pelo vento, e à alteração do perfil de distribuição dos aspersores, causando baixa uniformidade de distribuição e, consequentemente, baixa eficiência. Regiões com baixa umidade relativa do ar e alta temperatura também são limitantes à aspersão, em virtude da grande perda de água por evaporação nessas condições as perdas podem ser de 30% ou mais.