Uva de Mesa
Requerimento por nutrientes
Autor
Davi José Silva - Embrapa Semiárido
As plantas necessitam de dezesseis elementos para o seu desenvolvimento: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, boro, cloro, molibdênio, cobre, ferro, manganês e zinco.
O carbono e o oxigênio são obtidos do ar, nas formas de CO2 e O2 que são utilizados nos processos de fotossíntese e respiração. O hidrogênio, como também o oxigênio, é encontrado na água. Os outros elementos são encontrados no solo sob diversas formas. Os nutrientes que são exigidos em grandes quantidades são chamados de macronutrientes: nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre; os que são exigidos em pequenas quantidades são chamados de micronutrientes: boro, cloro, molibdênio, cobre, ferro, manganês e zinco.
A carência ou o excesso de um ou mais nutrientes pode ser caracterizada por meio de sintomas visíveis nas folhas, ramos e frutos, ou, ainda, por meio de análise do tecido vegetal, mesmo quando não ocorrem sinais visíveis de deficiência ou de toxidez do nutriente em estudo.
Sintomas de deficiência
Nitrogênio (N): os sintomas de deficiência surgem primeiro nas partes mais velhas da planta, manifestando-se por um débil desenvolvimento das plantas, folhas pequenas de coloração amarelada, baixo desenvolvimento vegetativo e radicular, encurtamento dos entrenós, brotações contorcidas e avermelhadas, baixo percentual de pegamento dos frutos, cachos pequenos e desuniformes, resultando em baixa produtividade. O crescimento, a produção, o tamanho de bagas e o de cachos diminuem antes mesmo que apareçam os sintomas visuais de deficiências. Por outro lado, o excesso de N pode resultar em aumento de vigor das plantas, aborto de flores, atraso na maturação dos cachos, dessecamento da ráquis e dos sarmentos e predisposição a doenças.
Foto: Teresinha Costa Silveira de Albuquerque.
Figura 1. Videiras desenvolvidas em hidroponia com e sem sintoma de deficiência de nitrogênio.
Fósforo (P): os sintomas de deficiência ocorrem, inicialmente, nas folhas mais velhas, tanto no limbo como nas nervuras e nos pecíolos, caracterizando-se por clorose nas cultivares de uvas brancas e presença de antocianina (coloração roxo-violeta) em cultivares tintas, evoluindo para necrose e secamento. A deficiência reduz o desenvolvimento do sistema radicular, retarda o crescimento e reduz a lignificação dos tecidos. Entretanto, essa sintomatologia manifesta-se apenas quando a deficiência é muito acentuada.
Potássio (K): a carência retarda a maturação e resulta em cachos pequenos, frutos duros, verdes e ácidos. Os sintomas de deficiência manifestam-se, em primeiro lugar, nas folhas mais velhas como amarelecimento internerval em cultivares de uvas brancas, seguida de necrose da zona periférica do limbo que vai progredindo para o interior do tecido internerval. Em cultivares de uvas vermelhas, as folhas apresentam, inicialmente, uma coloração arroxeada entre as nervuras, seguindo-se de necrose progressiva dos tecidos do limbo.
Cálcio (Ca): a deficiência desse nutriente causa a paralisação do crescimento dos ramos e das raízes, devido à morte dos tecidos dos ápices meristemáticos, retardando o desenvolvimento da planta. Afeta, particularmente, os pontos de crescimento da raiz. Nas folhas jovens, a deficiência manifesta-se por uma clorose internerval e marginal, seguida de necrose das margens do limbo, podendo ocasionar a morte dos ápices dos ramos.
Foto: Teresinha Costa Silveira de Albuquerque.
Magnésio (Mg): plantas deficientes em Mg apresentam clorose internerval nas folhas velhas, sendo que as nervuras permanecem verdes. Em cultivares de uvas brancas, as manchas cloróticas evoluem até a necrose dos tecidos do limbo. Em cultivares de uvas tintas, as manchas tomam coloração arroxeada, evoluindo, também, até a necrose do tecido. Sua deficiência poderá provocar redução no desenvolvimento da planta e na produtividade. Nas cultivares de videira enxertadas em alguns porta-enxertos, como o 'SO4', é comum o aparecimento de deficiência de Mg, por apresentarem baixa capacidade de absorção desse elemento.
Fotos: Teresinha Costa Silveira de Albuquerque.
Figura 3. Sintomas de deficiência de magnésio no porta-enxerto SO4 (A) e em plantas de videira Thompson Seedless x SO4 (B).
Enxofre (S): os sintomas de deficiência de S aparecem, inicialmente, nas folhas mais novas, devido à sua baixa mobilidade no floema e se caracterizam por uma clorose semelhante à da deficiência de N. A carência dificilmente será encontrada em videira, vez que este elemento está presente na composição dos fertilizantes químicos e orgânicos que são incorporados ao solo, bem como em alguns defensivos agrícolas.
Boro (B): os sintomas de deficiência de B manifestam-se, primeiramente, nas folhas novas, evoluindo para os frutos. A carência desse elemento provoca diminuição dos internódios, morte do ápice vegetativo e envassouramento. Nas inflorescências, ocorrem aborto excessivo de flores, raleando os cachos. A caliptra não se solta com facilidade por ocasião da florada, permanecendo sobre a baga em desenvolvimento. Pode ocorrer dessecamento parcial ou total dos cachos, necrose interna e externa nas bagas.
Cobre (Cu): a carência de Cu não é comum na videira. Em algumas situações, pode-se observar danos causados pelo seu excesso, tais como: clorose das folhas e dos ramos novos, desenvolvimento reduzido da parte aérea e do sistema radicular, baixa germinação do pólen, resultando em baixa fertilização das flores, com uma queda acentuada de bagas. Sua toxicidade pode ocorrer em consequência da aplicação excessiva de fungicidas cúpricos.
Ferro (Fe): sua carência aparece como clorose internerval do limbo, iniciando-se pelas folhas jovens, com sucessiva necrose da margem do limbo e queda das folhas. Sua deficiência é conhecida como clorose férrica e se manifesta em videira estabelecida em solos calcários e com pH elevado. Esse problema pode se evidenciar em áreas de vinhedos que receberam calagem excessiva e/ou altas doses de P. Esta clorose está relacionada, também, ao conteúdo excessivo de outros micronutrientes existentes no solo, tais como Mn e Cu.
Manganês (Mn): sua carência manifesta-se por clorose marginal e internerval não bem definida nas folhas maduras. No entanto, a toxidez de Mn é muito mais frequente que a deficiência, mostrando-se mais severa em solos ácidos das regiões tropicais e subtropicais. Sintomas de toxidez por Mn em videira também são observados em solos com problemas de encharcamento. Nestas condições, o Mn é reduzido e liberado para a solução do solo, em teores considerados tóxicos para esta cultura. A toxidez resulta em necrose das folhas, dessecamento e desfolhamento.
Molibdênio (Mo): sua deficiência manifesta-se nas folhas novas ou velhas como clorose, nervuras brancas, deformação e necrose nas margens, devido ao excesso local de nitrato. A detecção de sua carência em videira tem sido muito rara.
Zinco (Zn): os sintomas de deficiência de Zn surgem nas folhas novas. Geralmente, os internódios tornam-se curtos, com folhas pequenas e cloróticas, com uma faixa verde ao longo das nervuras principal e secundária. Videira deficiente em Zn tende a produzir cachos menores que o normal. As bagas apresentam tamanho variável, de normal a muito pequenas e, geralmente, permanecem duras e verdes e não amadurecem.
Cloro (Cl): em videiras, não é comum aparecerem sintomas de deficiência de cloro, em função da grande quantidade de cloreto de potássio utilizada para suprir as exigências desta cultura em potássio e do cloro presente na água de irrigação. Contudo, o cloreto é um dos íons importantes em solos com excesso de sais, pois pode ser absorvido em grandes quantidades pela videira, provocando fitotoxidez, caracterizada por necrose dos bordos das folhas.