Uva para Processamento
Zoneamento vitivinícola
Autores
Jorge Tonietto - Embrapa Uva e Vinho
Francisco Mandelli
A videira é cultivada nos cinco continentes, embora o seu cultivo econômico esteja concentrado em climas onde as condições heliotérmicas e hídricas permitem adequadas condições para a maturação das uvas.
Com grande diversidade de tipos de clima, a viticultura mundial é encontrada nos climas temperados (oceânico, oceânico quente, temperado de transição, continental, continental frio), mediterrâneo, subtropical (subtropical, subtropical continental), tropical (atenuado, tropical), semi-árido (margens de climas áridos), árido e hiperárido.
Contudo, a maior área vitícola destinada à elaboração de vinhos do mundo está concentrada em regiões de clima do tipo temperado e mediterrâneo.
Tendo em vista que a videira necessita de condições particulares de clima para o seu desenvolvimento e obtenção de produtos de qualidade, o zoneamento climático constitui-se num importante instrumento de definição do potencial das regiões.
No estudo do potencial das regiões, o zoneamento de risco climático é essencial. Ele permite identificar riscos de produção que estejam associados à ocorrência de geadas durante o período vegetativo da planta, à ocorrência de granizo, à incidência de doenças fúngicas (míldio, podridões do cacho), às condições de estresse térmico ou hídrico, bem como à identificação da necessidade de irrigação dos vinhedos. O zoneamento climático para uma região específica ganha maior qualidade quando associado ao zoneamento dos solos, já que clima e solo formam o principal conjunto dos fatores naturais a definir o potencial de adaptação da videira de uma região.
Outro zoneamento climático importante é aquele associado ao potencial de adaptação das variedades de videira, à qualidade potencial das uvas e às características e qualidades dos vinhos e outros produtos da agroindústria. Com este foco, o clima vitícola de uma região produtora pode ser caracterizado através do Sistema de Classificação Climática Multicritérios Geovitícola (Sistema CCM), baseado em índices climáticos vitícolas. O sistema utiliza três índices sintéticos e complementares sendo um térmico de ciclo, outro nictotérmico e outro hídrico: a) Índice Heliotérmico (IH); b) Índice de Frio Noturno (IF); e, c) Índice de Seca (IS). Segundo o sistema, algumas das principais regiões produtoras brasileiras apresentam o seguinte clima vitícola: a Serra Gaúcha e a Serra do Sudeste no Rio Grande do Sul tem o clima classificado como Temperado Quente, de Noites Temperadas, Úmido; na região da Campanha, no mesmo estado o clima vitícola é Quente, de Noites Temperadas e Subúmido e nos Campos de Cima da Serra o clima é Temperado, de Noites Frias e Úmido. Nas regiões vitícolas de Santa Catarina o clima é: Quente, de Noites Temperadas e Úmido no Alto Vale do Rio do Peixe e, na região mais fria do país, em São Joaquim no Planalto Catarinense o clima é Frio, de Noites Frias e Úmido. Em zona tropical semi-árida, onde está a vitivinicultura do Vale do Submédio São Francisco, o clima vitícola possui variabilidade intra-anual (situação que ocorre onde o clima vitícola da região, sob condições naturais, muda de classe de clima vitícola em função do período do ano no qual a uva pode ser produzida), sendo Muito Quente, de Noites Quentes, variando de Subúmido a de Seca Forte em função do período do ano.