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Uva para Processamento
Sistemas de condução
Conteúdo migrado na íntegra em: 22/12/2021
Autores
Alberto Miele - In memoriam
Francisco Mandelli
A videira, a não ser em casos especiais, não pode ser cultivada satisfatoriamente sem alguma forma de condução do dossel vegetativo da planta. Mas, qual o sistema mais indicado? Dentre os diferentes sistemas de condução que existem nas regiões vitícolas, o mais utilizado é o espaldeira. Entretanto, em algumas regiões brasileiras, como a Serra Gaúcha, predomina o sistema latada.
Sistema de condução espaldeira
As videiras conduzidas em espaldeira têm dossel vertical e a poda é mista ou em cordão esporonado. As varas são atadas horizontalmente aos fios da produção do sistema de sustentação do vinhedo. Se necessário, os ramos são despontados. Normalmente, deixam-se duas varas/planta quando a poda é mista; em cordão esporonado, há dois cordões/planta. A distância entre as fileiras varia de 2,00 a 2,50 m, mas se a altura do dossel vegetativo for de 1,00 m a captação da radiação solar é maximizada com fileiras distanciadas de 1,00 m. A distância entre plantas é de 1,20 a 2,00 m, conforme a variedade de uva e a fertilidade do solo. A zona de produção geralmente situa-se entre 1,00 e 1,20 m do solo. Deixam-se de 65 mil a 80 mil gemas/ha, dependendo principalmente da variedade. A altura do sistema de sustentação do solo até a parte superior é de 2,00 a 2,20 m.
Foto: Alberto Miele |
Figura 1. Videiras da cv. Pinot Noir conduzidas em espaldeira. |
As principais vantagens desse sistema são: a) adapta-se bem ao hábito vegetativo da maior parte das viníferas; b) os frutos situam-se numa área do dossel vegetativo e as extremidades dos ramos em outra: isso facilita as operações mecanizadas, como remoção de folhas, pulverizações dos cachos e desponta; c) apresenta boa aeração; d) pode ser ampliado paulatinamente, pois a estrutura de cada fileira é independente; e) o custo de implantação é menor que o do latada; f) é atrativo aos olhos, especialmente quando se faz a desponta. As principais desvantagens são: a) apresenta tendência ao sombreamento, portanto não é indicado para variedades muito vigorosas ou para solos muito férteis; b) a densidade de ramos geralmente é muito elevada; c) se a distância das fileiras for maior que 3,00 m, a área de superfície do dossel vegetativo será pequena; d) como consequência do exposto no item c, é necessário compensar a perda exagerada da produtividade com elevada carga de gemas, o que aumenta o sombreamento e diminui a qualidade da uva e do vinho.
No manejo do dossel vegetativo, geralmente são necessários de dois a três repasses durante o ciclo vegetativo para posicionar os ramos. Essa prática pode ser realizada colocando os ramos entre os fios e amarrando-os quando necessário. Mas, é bem mais rápido quando o sistema de sustentação possui fios móveis para o posicionamento dos ramos. Esses fios devem ser colocados paralelos ao 2º fio e são movimentados em direção aos ramos, apanhando-os e posicionando-os para cima. Portanto, não necessitam ser atados. O primeiro posicionamento dos ramos deve ser feito próximo à floração e o último antes da mudança-de-cor da uva. A desponta deve ser feita deixando-se ramos com cerca de 1,30 m de comprimento, sendo que os últimos 30 cm dos ramos estendem além do 4º fio.
Foto: Alberto Miele |
Figura 2. Aspecto de um vinhedo da cv. Pinot Noir conduzido no sistema espaldeira. |
Sistema de condução latada
O sistema de condução latada é também chamado de pérgola. É o mais utilizado na Serra Gaúcha, RS e no Vale do Rio do Peixe, SC, especialmente para as variedades de uvas americanas e híbridas.
O dossel é horizontal e a poda é mista ou em cordão esporonado, conforme a variedade de videira. As varas são atadas horizontalmente aos fios do sistema de sustentação do vinhedo. As videiras são alinhadas em fileiras distanciadas geralmente de 2,00 a 3,00 m, sendo 2,50 m o mais usual. A distância entre plantas é de 1,50 a 2,00 m, conforme a variedade de uva e o vigor da videira. A zona de produção situa-se aproximadamente a 1,80 m do solo. A carga de gemas também é variável, sendo em geral de 100 mil a 140 mil gemas/ha.
Foto: Alberto Miele |
Figura 3. Videiras da cv. Cabernet Sauvignon conduzido em latada. |
As principais vantagens desse sistema são: a) proporciona o desenvolvimento de videiras vigorosas, que podem armazenar boa quantidade de material de reserva, como o amido; b) permite uma área do dossel extensa, com grande carga de gemas. Isto proporciona elevado número de cachos e alta produtividade; c) em função de sua produtividade, possui uma boa rentabilidade econômica, especialmente em pequenas propriedades; d) é de fácil adaptação à topografia de regiões montanhosas; e) facilita a locomoção do viticultor, que pode ser feita em todas as direções. As principais desvantagens são: a) os custos de implantação e de manutenção do sistema de sustentação são elevados; b) a posição do dossel e dos frutos, situados horizontalmente acima do trabalhador, causa transtornos à execução das práticas culturais; c) a posição horizontal do dossel e o vigor excessivo da videira podem causar sombreamento, afetar negativamente o microclima, a fertilidade das gemas e a qualidade da uva e do vinho; d) o elevado índice de área foliar, se o dossel não for bem manejado, pode proporcionar maior umidade na região dos cachos e das folhas, o que favorece o aparecimento de doenças fúngicas; e) o sistema de sustentação necessita ser sólido para suportar o peso do dossel e da produção e o impacto do vento; f) a área máxima recomendada de cada parcela de um vinhedo conduzido em latada é de 4 ha.
O manejo do dossel de um vinhedo conduzido em latada pode se tornar relativamente dispendioso se o número de varas e de esporões não for condizente com as características da variedade, o vigor da planta e a densidade de plantio. Nesse caso, há necessidade de se realizar a poda verde, especialmente a desbrota, a desfolha e a desponta, a fim de que haja uma melhor distribuição espacial das folhas e uma maior captação da radiação solar.