Superficial

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Luiza Teixeira Lima Brito - Consultora autônoma

Lúcio Alberto Pereira - Embrapa Semiárido

Roseli Freire de Melo - Embrapa Semiárido

 

Disponibilidade hídrica superficial
 

Estima-se que do total de água existente no país, apenas 3% encontram-se na região Nordeste, sendo que 63% estão localizados na bacia hidrográfica do rio São Francisco e 15% na bacia do rio Parnaíba, que juntos detêm 78% da disponibilidade hídrica superficial da região. As bacias dos rios intermitentes detêm apenas 22%. Grande parte desse volume de água concentra-se em 450 açudes distribuídos na região, entre os mais de 70 mil existentes.
 
O caráter intermitente dos rios e riachos está diretamente relacionado com as características climáticas da região, em que a ocorrência de fluxo de água superficial se restringe a apenas poucos meses do ano. Apesar da temporalidade de seus fluxos, as águas desses rios/riachos chegam a desaguar no oceano Atlântico. Esta característica, além de contribuir com a redução do processo de salinização excessiva destes ecossistemas, distingue de outras regiões áridas e semiáridas, já que os sistemas de drenagem dessas regiões geralmente convergem para depressões fechadas.
 
No Semiárido brasileiro, os açudes representam garantia da disponibilidade de água nos períodos secos, seja para consumo humano, animal ou para produção de alimentos. Porém, não existem critérios para priorizar os diferentes usos e, muitas vezes, o homem concorre com os animais e outras atividades pela água com baixa qualidade.
 
        Foto : (Nilton de Brito Cavalcanti, 2009).
       
        Figura 1. Disponibilidade de água superficial por meio açude.
 
 
Com a finalidade de prover meios para melhorar a convivência do homem com a irregularidade das chuvas no Semiárido brasileiro, ao longo dos seus 35 anos, a Embrapa Semiárido tem disponibilizado conhecimentos e tecnologias que vêm sendo utilizados para aumentar a oferta de água da região para diferentes fins. Essas tecnologias têm sido implementadas, de forma isolada ou integrada a programas de governo nas esferas federal, estadual e municipal, com o objetivo de captar e armazenar águas de chuvas para diversos fins nas comunidades rurais, principalmente o consumo humano, animal e produção de alimentos.
 
Dentre as ações implementadas, tem tido grande destaque o Programa Um Milhão de Cisternas - P1MC, que conta, atualmente, com mais de 350 mil cisternas com capacidade de armazenamento de 16 mil litros de água, construídas em todo o Semiárido brasileiro (até junho 2010), com objetivo principal de prover água para consumo das famílias em comunidades rurais com recursos hídricos limitados. De modo semelhante, e com objetivo de reduzir os riscos da produção agrícola e/ou pecuária, vem sendo implementado o programa P1+2, que significa “uma terra” para produzir e “duas fontes de água”, sendo uma para o consumo humano e outra para a produção de alimentos. Essas alternativas têm contribuído de modo significativo para aumentar a disponibilidade de água na região, como também, melhorar a dieta das famílias, principalmente, a partir da produção de frutas e hortaliças nessas comunidades.  
 
A Política Nacional de Recursos Hídricos enfoca as potencialidades da água de chuva e reforça que a mesma pode ser captada de telhados, do chão e do solo, armazenada e/ou infiltrada de forma segura, tratada conforme requerido pelo uso final e utilizada no seu potencial pleno, substituindo ou suplementando outras fontes atualmente usadas, antes de ser finalmente dispensada. Nesse sentido, quer seja para o armazenamento e consumo, quer seja para redução dos impactos negativos, que podem ser causados a jusante pelo escoamento, a adoção de práticas e tecnologias de manejo de água de chuvas nas zonas urbanas deve ser intensificada, por exemplo, com a instalação de sistemas de captação nas edificações e o aumento da cobertura vegetal.
 
No contexto da água armazenada na cisterna, pesquisas foram realizadas por instituições diversas para definir o manejo adequado da água visando à melhoria de sua qualidade. Desse modo, as principais recomendações, identificadas como “barreiras sanitárias” estão relacionadas com a eliminação das primeiras águas das chuvas que lavam o telhado das casas. Nesse sentido, alguns autores recomendam a eliminação das primeiras águas de cada chuva; filtragem e tratamento da água com cloro, antes de consumi-la.
 
Também é fundamental a disponibilidade de bomba manual na cisterna, para evitar o contato com a água armazenada e, assim, reduzir os riscos de contaminação.