Bioma Cerrado
Mata Seca
Autores
José Felipe Ribeiro - Embrapa Cerrados
Bruno Machado Teles Walter - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
VEGETAÇÃO FLORESTAL
MATA SECA
Foto: José Felipe Ribeiro
Vista Geral do tipo de vegetação florestal Mata Seca
Introdução | Sob a designação Mata Seca estão incluídas as formações florestais no bioma Cerrado que não possuem associação com cursos de água, caracterizadas por diversos níveis de queda das folhas durante a estação seca. A vegetação ocorre nos níveis de relevos que separam os fundos de vales (interflúvios), em locais geralmente mais ricos em nutrientes. A Mata Seca é dependente das condições químicas e físicas do solo mesotrófico (de condições médias em relação à disponibilidade de nutrientes), principalmente da profundidade. Em função do tipo de solo, da composição florística e, em conseqüência, da queda de folhas no período seco, a Mata Seca pode ser tratada sob três subtipos: Mata Seca Sempre-Verde, Mata Seca Semidecídua, a mais comum, e Mata Seca Decídua. Em todos esses subtipos a queda de folhas contribui para o aumento da matéria orgânica no solo, mesmo na Mata Seca Sempre-Verde. A Mata Seca pode ser encontrada em solos desenvolvidos em rochas básicas de alta fertilidade (Terra Roxa Estruturada, Brunizém ou Cambissolos), em Latossolos Roxo e Vermelho-Escuro, de média fertilidade, em que ocorrem principalmente as Matas Secas Sempre-Verde e Semidecídua. Sobre solos de origem calcária, freqüentemente em afloramentos rochosos típicos, ocorre a Mata Seca Decídua, que também pode ocorrer em solos de outras origens. |
Principais Características | A altura média da camada de árvores (estrato arbóreo) varia entre 15 e 25 metros. A grande maioria das árvores é ereta, com alguns indivíduos emergentes. Na época chuvosa as copas se tocam, fornecendo uma cobertura arbórea de 70 a 95%. Na época seca a cobertura pode ser inferior a 50%, especialmente na Mata Decídua, que atinge porcentagens inferiores a 35%, devido ao predomínio de espécies caducifólias. O dossel fechado na época chuvosa desfavorece a presença de muitas plantas arbustivas, enquanto a diminuição da cobertura na época seca não possibilita a presença de muitas espécies epífitas. Estas ocorrem em menor quantidade de espécies e de indivíduos do que nas Matas de Galeria e Ciliares, havendo até mesmo espécies de Orchidaceae indicadoras das Matas Secas Decídua e Semidecídua como, Encyclia conchaechila (= E. linearifolioides), Oncidium cebolleta, O. fuscopetalum, O. macropetalum e O. pumilum. Cipós também não são raros, pertencendo a gêneros como Arrabidaea, Banisteriopsis, Bauhinia e Pithecoctenium. A Mata Seca Decídua pode apresentar-se com um aspecto singular (estrutura e ambiente) quando ocupa áreas rochosas de origem calcária, situação em que também é conhecida por Mata Calcária ou Mata Seca em solo calcário . Tais áreas em geral são muito acidentadas em função dos afloramentos calcários e possuem composição florística diferenciada dos demais tipos de Mata Seca, mesmo as Decíduas sobre outros solos mesotróficos. As copas não se tocam necessariamente (o dossel pode ser descontínuo), fornecendo uma cobertura arbórea de 60 a 90% na estação chuvosa, que cai para 35% até 15% na estação seca. Além desses aspectos, a caracterização dessa fitofisionomia se dá pela presença de espécies como Commiphora leptophloeus (amburana-de-cambão), Cavanillesia arborea (barriguda), Chorisia pubiflora (paineira), Combretum duarteanum (vaqueta, caatinga-branca), Spondias mombin (cajazeira, cajá), agrupamentos de Cyrtopodium spp. (sumaré) e Encholirium spp. ou também de algumas espécies de cactáceas e aráceas. É também grande o número de espécies espinhosas ou urticantes. Segundo alguns estudiosos esse tipo de Mata possui afinidades florísticas com o Cerradão Mesotrófico e com a Caatinga, podendo ser considerada como um tipo de Caatinga arbórea . |
Espécies de árvores mais freqüentes | Como espécies arbóreas freqüentes encontram-se: Acacia polyphylla (monjoleiro), Amburana cearensis (cerejeira, imburana), Anadenanthera colubrina (angico), A. peregrina (angico), Apuleia leiocarpa (garapa), Aspidosperma subincanum (guatambú), Cabralea canjerana (canjerana), Cariniana estrellensis (bingueiro, jequitibá), Cassia ferruginea (canafístula-preta), Cedrela fissilis (cedro), Centrolobium tomentosum (araribá), Chloroleucon tenuiflorum (jurema), Dilodendron bippinatum (maria-pobre), Guazuma ulmifolia (mutamba), Jacaranda brasiliana (caroba), J. caroba (caroba), Lithraea molleoides (aroeirinha, aroeira-brava), Lonchocarpus montanus (feijão-cru, tapicuru), Lonchocarpus sericeus (feijão-cru, imbira-de-porco), Machaerium villosum (jacarandá-do-mato), Myracrodruon urundeuva (aroeira), Physocallimma scaberrimum (cega-machado), Platycyamus regnellii (pau-pereira, folha-de-bolo), Tabebuia spp. (ipês, pau-d’arco), Tapirira guianensis (pau-pombo), Terminalia spp (capitão), Trichilia elegans (pau-de-ervilha; catiguá) e Zanthoxylum rhoifolium (maminha-de-porca). |
|
|
Ilustração
Ilustração: Wellington Cavalcanti
Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de três Matas Secas, em diferentes épocas do ano, representando faixas com cerca de 26 m de comprimento por 10 m de largura cada. CA: cobertura arbórea em %. O trecho do lado esquerdo (A) representa uma Mata Seca Sempre-Verde; o trecho do meio (B) uma Mata Seca Semidecídua e (C) o trecho do lado direito uma Mata Seca Decídua, com afloramento de rocha