Cerrado Sentido Restrito

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

José Felipe Ribeiro - Embrapa Cerrados

Bruno Machado Teles Walter - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

 

VEGETAÇÃO SAVÂNICA

 

CERRADO SENTIDO RESTRITO

Foto: José Felipe Ribeiro

Vista geral do tipo de vegetação savânica Cerrado sentido restrito

 

Principais Características

O Cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de queimadas. Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espécies apresentando órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), que permitem a rebrota após queima ou corte. Na época chuvosa as camadas subarbustiva e herbácea tornam-se exuberantes, devido ao seu rápido crescimento.

Os troncos das plantas lenhosas em geral possuem cascas com cortiça espessa, fendida ou sulcada, e as gemas apicais (responsáveis pelo crescimento dos vegetais) de muitas espécies são protegidas por densa quantidade de pelos. As folhas em geral são rígidas e com consistência de couro. Esses caracteres indicam adaptação a condições de seca (xeromorfismo). Todavia é bem relatado na literatura que as árvores não sofrem restrição de água durante a estação seca, pelo menos aquelas espécies que possuem raízes profundas.

Espécies mais freqüentes

As espécies arbóreas mais freqüentes, dentre outras, são: Acosmium dasycarpum (amargosinha), Annona coriacea (araticum, cabeça-de-negro), Aspidosperma tomentosum (peroba-do-campo), Astronium fraxinifolium (gonçalo-alves), Brosimum gaudichaudii (mama-cadela), Bowdichia virgilioides (sucupira-preta), Byrsonima coccolobifolia (murici), B. crassa (murici), B. verbascifolia (murici), Caryocar brasiliense (pequi), Casearia sylvestris (guaçatonga), Connarus suberosus (bico-de-papagaio, galinha-choca), Curatella americana (lixeira), Davilla elliptica (lixeirinha), Dimorphandra mollis (faveiro), Diospyros hispida (olho-de-boi, marmelada-brava), Eriotheca gracilipes (paineira-do-cerrado), Erythroxylum suberosum (mercúrio-do-campo), Hancornia speciosa (mangaba), Himatanthus obovatus (pau-de-leite), Hymenaea stigonocarpa (jatobá-do-cerrado), Kielmeyera coriacea (pau-santo), Lafoensia pacari (pacari), Machaerium acutifolium (jacarandá), Ouratea hexasperma (cabeça-de-negro), Pouteria ramiflora (curriola), Plathymenia reticulata (vinhático), Qualea grandiflora (pau-terra-grande), Q. multiflora (pau-terra-liso), Q. parviflora (pau-terra-roxo), Roupala montana (carne-de-vaca), Salvertia convallariaeodora (colher-de-vaqueiro, bate-caixa), Sclerolobium aureum (carvoeiro), Tabebuia aurea (caraíba, ipê-amarelo), T. ochracea (ipê-amarelo), Tocoyena formosa (jenipapo-do-cerrado), Vatairea macrocarpa (amargosa, angelim) e Xylopia aromatica (pindaíba).

Outras espécies arbóreas também freqüentes são: Agonandra brasiliensis (pau-marfim), Alibertia edulis (marmelada-de-cachorro), Anacardium occidentale (cajueiro), Andira vermifuga (angelim), Annona crassiflora (araticum, coração-de-boi), Aspidosperma macrocarpon (peroba-do-campo), Copaifera langsdorffii (copaíba), Couepia grandiflora (pé-de-galinha), Dalbergia miscolobium (jacarandá-do-cerrado), Emmotum nitens (sobre), Enterolobium gummiferum (=E. ellipticum - vinhático-cascudo), Eugenia dysenterica (cagaita), Luehea paniculata (açoita-cavalo), Magonia pubescens (tinguí), Matayba guianensis (camboatá-branco), Miconia albicans (quaresma-branca), Neea theifera (capa-rosa), Piptocarpha rotundifolia (coração-de-negro), Pseudobombax longiflorum (imbiruçu), Rourea induta (botica-inteira), Salacia crassifolia (bacupari), Schefflera macrocarpa (mandiocão-do-cerrado), Simarouba versicolor (mata-cachorro, mata-vaqueiro), Strychnos pseudoquina (quina-do-campo), Stryphnodendron obovatum (barbatimão), Terminalia argentea (capitão-do-campo), Vochysia rufa (pau-doce) e Zeyheria montana (bolsa-de-pastor).

Espécies arbustivas e subarbustivas também freqüentes são: Anacardium humile (cajuí, cajuzinho-do-cerrado), Annona monticola (araticum), A. tomentosa (araticunzinho), Byrsonima basiloba (murici-de-ema), Campomanesia pubescens (gabiroba), Cissampelos ovalifolia (malva, abutua-do-campo), Cissus spp., Cochlospermum regium (algodão-do-campo), Diplusodon spp., Duguetia furfuracea (pinha-do-campo), Eremanthus glomerulatus (coração-de-negro), Erythroxylum tortuosum (mercúrio-do-campo), Esenbeckia pumila (guarantã), Jararanda decurrens (carobinha), Kielmeyera rubriflora (pau-santo), Manihot spp., Maprounea guianensis (cascudinho), Palicourea rigida (bate-caixa), Parinari obtusifolia (fruto-de-ema), Protium ovatum (breu-do-cerrado), Sabicea brasiliensis (sangue-de-cristo) e Vellozia squamata (canela-de-ema). Das gramíneas menciona-se Axonopus barbigerus, Echinolaena inflexa (capim-flexinha), Loudetiopsis chrysotrix, Mesosetum loliiforme, Paspalum spp., Schizachirium tenerum e Trachypogon spp; além de algumas espécies de orquídeas e bromélias terrestres dos gêneros Cyrtopodium e Habenaria, Bromelia e Dyckia. Palmeiras também têm importância no Cerrado sentido restrito, como é o caso de Allagoptera campestris (licuri), A. leucocalyx (licuri), Butia archeri (butiá), Syagrus comosa (catolé), S. flexuosa (coco-do-campo, coco-babão) e S. petraea (coco-de-vassoura, licuri), para um trecho estudado no Distrito Federal.

Vale destacar que muitas dessas espécies também ocorrem em outras formações vegetais, tanto em savanas quanto nas florestas.

 

CERRADO SENTIDO RESTRITO

 

SUBDIVISÕES

Devido à complexidade dos fatores condicionantes (clima, fertilidade do solo, quantidade de chuvas, etc.) originam-se subdivisões fisionômicas do Cerrado sentido restrito, sendo as principais o Cerrado Denso, o Cerrado Típico, o Cerrado Ralo e o Cerrado Rupestre. As três primeiras refletem variações na forma dos agrupamentos e no espaçamento entre as árvores. A gradação da densidade das árvores é decrescente do Cerrado Denso ao Cerrado Ralo. A composição da flora inclui as espécies listadas acima. Já o Cerrado Rupestre diferencia-se dos demais subtipos por ocorrer, preferencialmente, em solos rasos com a presença de afloramentos de rocha, e por apresentar algumas espécies indicadoras, adaptadas a esse ambiente.