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Artigo - A carne caprina na economia prateada
Em épocas em que a discussão sobre inteligência artificial (AI) é o assunto mais abordado em todos os setores da sociedade mundial, um tema ainda latente, mas não menos importante, nos vem à mente: a economia da longevidade. O termo economia da longevidade, como é denominado nos Estados Unidos, e conhecido aqui no Brasil como Economia Prateada, enfoca as pessoas com mais de 50 anos como profissionais e consumidores. Segundo Matthew Lifschultz, nos Estados Unidos esse grupo detém 80% da riqueza familiar e responde por metade do consumo e no Brasil representa 54 milhões de consumidores, movimentando R$1,6 trilhão por ano, com previsão de atingir 90 milhões de consumidores até 2045.
Ainda segundo Lifschultz, o censo americano aponta que em 2034 a população de idosos deverá superar a de crianças pela primeira na história dos Estados Unidos e, no Brasil isso pode acontecer já em 2030. Mesmo diante desse cenário, as organizações ainda não dão a devida importância à Economia Prateada e poucas empresas já desenvolveram uma estratégia abrangente para explorar o potencial de produção e de consumo de quem tem mais de 50 anos. Diante desse cenário da nova ordem econômica mundial e, analisando-se especificamente as oportunidades que a economia da longevidade pode trazer para a cadeia produtiva da caprinocultura, é salutar que o seguinte questionamento seja levantado: o fenômeno da Economia Prateada poderá impulsionar o consumo mundial de carne caprina?
O consumo de carnes no mundo é influenciado por vários fatores, dentre os quais: capacidade produtiva, fatores econômicos, fatores culturais e classe social. Ao longo dos tempos, o que se tem observado é que a demanda pelos diversos tipos de carnes tem sido mais fortemente influenciada, principalmente pelos fatores econômicos, tais como preços relativos, preços das proteínas substitutas e pelos rendimentos dos consumidores. No entanto, estudos recentes têm mostrado que, especialmente nos países mais desenvolvidos, o poder dos preços e dos rendimentos para explicar alterações na demanda por carne, é, hoje, consideravelmente menor do que há algumas décadas. Por exemplo, análises da evolução da demanda por carnes na União Europeia mostraram que, no período de 1955 a 1974, cerca de 98% da procura por carne bovina era explicada por variações nos preços e na renda dos consumidores, diminuindo para 68% de 1975 a 1994.
É diante desse cenário de mudanças de comportamento do consumidor e da realidade atual dos dados demográficos da população mundial que mostra um aumento expressivo do tamanho da população com mais de 50 anos e, consequentemente, a sua importância econômica, que se pode afirmar com grande probabilidade de acerto que o fenômeno da economia da longevidade poderá impulsionar significativamente o consumo da carne caprina no Brasil e no mundo.
Saliente-se que os consumidores estão mudando as atitudes sobre o consumo de alimentos, existindo uma tendência, principalmente nos países desenvolvidos, de que as preocupações com a saúde e bem-estar em geral, incluindo receios ambientais, passem a ter cada vez mais importância no processo de escolha dos consumidores. É também diante desta mudança de paradigma que a Economia Prateada poderá impulsionar o consumo mundial de carne caprina. Pouquíssimas pessoas sabem que, dentre as carnes mais consumidas no mundo, a caprina contém menor teor de gordura, sendo, inclusive, mais magra que a carne de frango. Em cada 100 gramas de carne assada ao forno, a carne caprina apresenta 2,75g de gordura, contra 3,75g da carne de frango, 17,14g da carne bovina e 25,72g da carne suína.
Isto posto, os formuladores de políticas de desenvolvimento da cadeia produtiva da caprinocultura precisam abordar com mais ênfase o fato de que o novo formato de composição da pirâmide etária da população já é uma realidade e que uma significativa proporção da população passou a incorporar novas variáveis, tais como o benefício que o produto traz para a saúde e o bem-estar nas suas decisões de consumo. Neste sentido, a carne caprina por ser mais saudável, de rápida digestão e de elevado valor nutritivo, tem um potencial muito grande para cair no gosto do segmento da população mais velha e aumentar significativamente o seu consumo per capita mundial e nacional, mesmo frente a alguns tabus culturais que ainda resistem a respeito da "carne de criação". Portanto, a carne caprina desponta como um produto essencial para o consumo da população com mais de 50 anos, dependendo apenas de ações estratégicas que mostrem os benefícios de seu consumo para esta parcela da população e, assim, transformá-la no ouro rubro da Economia Prateada.
Espedito Cezário Martins, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos e Ismar Maciel dos Santos, analista da Embrapa Caprinos e Ovinos
Embrapa Caprinos e Ovinos
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