Labex: laboratórios virtuais no exterior

Em 24 de março de 1997, a Diretoria-Executiva da Embrapa, em sua reunião de número 389 e pelo voto unânime de seus membros, decidiu aprovar a criação de um "programa de treinamento de pesquisadores em tecnologia de ponta ou temática em centros internacionais de P&D e o desenvolvimento de pesquisas prioritárias para a Embrapa em parceria com cientistas estrangeiros", e denominar tal programa "Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior – Labex".

A decisão, assinada pelo então diretor-presidente Alberto Duque Portugal juntamente com os diretores-executivos Elza Angela Battagia Brito da Cunha, Dante Giacomeli Scolari e José Roberto Rodrigues Peres, buscava atender à crescente necessidade de a Embrapa e o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) estarem sintonizados pari passu com o avanço da fronteira do conhecimento científico mundial de interesse da agricultura.

A decisão, levada a efeito após cuidadosas sondagens e negociações junto a autoridades brasileiras e potenciais parceiros internacionais, se apoiou no fato de que, dado o amplo relacionamento que a Empresa tinha com universidades e centros de excelência científica internacionais em agropecuária, várias dessas instituições concordaram plenamente em colocar seus laboratórios e demais instalações e equipamentos de alta precisão e qualidade à disposição dos pesquisadores da Empresa para a realização de investigações científicas que fossem de interesse comum entre estas e a Embrapa.

O Labex nascia assim, de um lado, como uma ampliação do tradicional programa de treinamento da Embrapa, já que passou a oferecer a seus pesquisadores mais experientes, um estágio de treinamento a mais que os conhecidos mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior. De outro lado, aprofundava os objetivos e ambições do programa, porquanto o Brasil e o pesquisador nele envolvido deixavam de ser receptores de informações para serem parceiros na geração de novos conhecimentos em áreas como biotecnologia, segurança alimentar, agricultura de precisão, nanotecnologia, transgenia e alterações climáticas globais. Além de participarem de projetos avançados, os pesquisadores estavam atentos ao objetivo principal que era prospectar e acompanhar de perto as tendências e avanços na ciência, quais eram as lideranças científicas que faziam diferença e das quais era preciso se aproximar e que tecnologias eram importantes de serem transferidas para o Brasil.

Muito mais negociações seriam necessárias ainda para que, efetivamente, se instalasse a primeira unidade do Labex nos Estados Unidos, em associação com o Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS), do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o que requereu gestões importantes como o suporte financeiro da iniciativa, o termos do contrato de parceria com ARS e o reembolso pelo uso de seus laboratórios, reagentes e equipamentos e assim por diante.

Em 14 de julho de 1998, ato do Ministro da Agricultura, Francisco Turra, atribuiu ao pesquisador Silvio Crestana a missão de, em dois anos, instalar e coordenar o Labex junto à Administração Central do ARS, no Centro de Pesquisa Agrícola de Beltsville (BARC), pequena cidade do estado de Maryland, próxima á capital Washington DC. Além da coordenação, Silvio Crestana tinha também a incumbência de desenvolver pesquisas na área de física aplicada a Solos.

Outros pesquisadores integraram a missão e foram localizados em diferentes centros de pesquisa do ARS para o desenvolvimento de pesquisas em temas priorizados: Ariovaldo Luchiari (agricultura de precisão), em Lincoln, Nebraska; Maria José Amstalden (propriedade intelectual e biotecnologia) na estação experimental do ARS na Universidade de Cornell, em Ithaca, New York; Terezinha Padilha (sanidade animal) e Miguel Borges (controle biológico), também em Beltsville, Maryland.

O ineditismo da iniciativa e o sucesso logo no primeiro ano do Labex EUA chamou a atenção de outras instituições e estimulou a ampliação do projeto. Já em 1999, a Embrapa começou a tratar do Labex Europa. Em 2002, a primeira turma de pesquisadores foi enviada a Montpellier, no sul da França, para instalar o Labex no maior centro de pesquisas agrícolas da Europa, a Agropolis, do CIRAD (Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développment), do governo francês. Em 2006, o Labex Europa abriu uma filial na Holanda, na Universidade de Wageningen, para acompanhar mais de perto os avanços em biologia e genômica.

A ideia do Labex

Como surgiu a ideia de se ter um laboratório no Exterior? Não há documentos que contem a origem da ideia, mas Alberto Duque Portugal, o presidente que assinou os atos de criação e instalação do Labex, lembra-se muito bem de que tudo aconteceu por causa da preocupação do ex-Presidente Eliseu Alves com os custos de realizar pesquisas no Brasil. Eis o seu depoimento:

"Em 1995, estávamos preocupados em redesenhar a administração da Embrapa, já que os mecanismos de gestão de que a empresa dispunha não eram satisfatórios para lidar com o presente de então e com as mudanças que o futuro anunciava. Propusemos, para discussão das lideranças científicas e gerenciais da empresa, um documento intitulado Estratégia Gerencial da Embrapa – Gestão 95/98 o qual, além de oficializar no seu planejamento estratégico conceitos importantes como enfoque de sistemas, P&D, cadeia produtiva, demanda e sustentabilidade, definia os principais desafios estratégicos da empresa e os objetivos específicos a serem perseguidos.

O primeiro desses desafios era exatamente ‘acompanhar e incorporar ao processo produtivo os recentes avanços científicos' que ocorriam no mundo desenvolvido. Naquele documento trazíamos 31 projetos gerenciais estratégicos. Vários deles tratavam da melhoria da atividade de pesquisa, mas não tínhamos um projeto sobre como monitorar de forma eficiente os avanços da fronteira do conhecimento agropecuário em todo o mundo.
Por isso, fizemos várias reuniões com os gerentes e assessores mais próximos à Diretoria-Executiva, buscando reunir um conjunto de informações e hipóteses de trabalho. Como faríamos? Algo virtual, acompanhando pela Internet? Mas como fazer pesquisas de interesse do país? Montar um centro de pesquisa só voltado para esse fim?

Numa dessas reuniões, o Dr. Eliseu Alves, como de hábito, com um de seus raciocínios de precisão cirúrgica, apontou a solução: — ‘Tem que ser no Exterior. Nos Estados Unidos. Ordinariamente, já é muito caro fazer pesquisa no Brasil. Imagine pesquisa de ponta. Imagine importar, com freqüência, equipamentos caros, de última geração; imagine, o tempo todo, liberar viagens internacionais para participar de reuniões para desenho de projetos, discussão de resultados'. Seria simplesmente inexequível."

Compreendido e aceito o ponto de vista do Dr. Eliseu, restava a questão detalhada e trabalhosa de viabilizar a ideia. Coube a Francisco Reifschneider conceber e realizar  a engenharia operacional, financeira e até mesmo política para viabilizar tal ideia, desde as negociações com o Governo Brasileiro, o Banco Mundial, o Governo dos Estados Unidos (USDA), para resolver as questões do necessário acordo entre os países, a liberação dos pesquisadores, a consecução dos vistos de trabalho, dos recursos para a realização das pesquisas e manutenção dos pesquisadores, até a discussão com as equipes dos dois países para montagem do programa de trabalho. Silvio Crestana, Elísio Contini, as equipes e coordenadores que os sucederam fizeram um excelente trabalho em tornar o Labex uma ideia vitoriosa."

Labex-EUA

O programa Labex teve sua primeira implementação em 1998, nos Estados Unidos, o qual tem como principal parceiro o Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Desde então, as pesquisas no Labex-EUA têm focado nas áreas de nanotecnologia, recursos genéticos, sanidade animal, mudança climática global, utilização de novos produtos agrícolas, modelagem, controle integrado de pragas, agricultura de precisão e segurança alimentar.

Labex-Europa

Em 2001 foi criado o Labex–Europa, em parceria com a Agrópolis, em Montpellier, França. O Labex-Europa tem se expandido para laboratórios na Holanda e na Inglaterra. Nesses laboratórios, as áreas de pesquisa são: tecnologia avançada, tecnologia agroalimentar e agroindustrial, tecnologia de conservação e manejo sustentável do meio ambiente.

Labex-Coreia

Em 2009, foi criado o Labex-Coreia. Esta é a primeira experiência do Labex na Ásia e tem sido considerada como um piloto na definição da instalação e funcionamento de futuros Labex em países asiáticos. Até 2010, 30 pesquisadores participaram no Labex, que foi apoiado financeiramente pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento.