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Produção de madeira em plantios mistos e em agroflorestas é tema de curso na Bahia
A possibilidade de produzir madeiras nobres em sistemas mais complexos, de forma a otimizar o uso da terra e diversificar a produção, mais uma vez atraiu técnicos, produtores, professores e pesquisadores, entre outros interessados, para o curso Produção de madeiras em plantios mistos e agroflorestas: mogno africano e espécies nativas. Essa foi a terceira edição do curso, realizado em Valença, na Bahia, na Fazenda Sucupira, onde desde 2016 estão sendo realizados experimentos com sistemas agroflorestais (SAFs) para produção madeireira, em parceria com a Embrapa.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrobiologia Guilherme Chaer, um dos instrutores do curso – ao lado dos engenheiros florestais Felipe Martini Santos e Gilberto Terra, proprietário da Fazenda Sucupira –, a intenção do curso, que deverá ter outra edição em agosto, é mostrar aos participantes como produzir madeiras nobres de maneira concomitante com outras espécies madeireiras e também agrícolas, perenes ou anuais. “Além do mogno africano, abordamos outras madeiras nobres nativas, que podem ser plantadas em conjunto nesse sistema de maior diversidade, como jacarandá, ipês, pau-brasil, jequitibá, guarandi e mogno brasileiro”, diz Guilherme, que também é líder do projeto Sistemas agroflorestais em plantações de mogno africano: impactos silviculturais, econômicos e ecossistêmicos, aprovado pela Embrapa e pelo CNPq.
Como os ciclos das madeiras são diferentes – alguns de 20 anos, outros de 25 e outros de 30 –, a floresta mantém-se ao longo do tempo, com cortes seletivos em períodos específicos. “Embaixo disso tudo também temos principalmente palmeiras juçaras e açaizeiros, que ficam em um estágio intermediário. E abaixo das palmeiras, temos cacau e cupuaçu, que são plantas amazônicas adaptadas à região sul da Bahia”, conta o pesquisador.
Experiência prática
Um dos pontos altos do curso, conforme os participantes, é que eles podem ver todas as aplicações e teorias na prática – a Fazenda Sucupira tem cerca de 55 hectares de sistemas agroflorestais implantados. Além disso, quem faz o curso também aprende outros aspectos do negócio madeireiro, desde a parte fitotécnica, o processo de produção de mudas em viveiros, a produção de substrato, o plantio no campo, o manejo do solo e das podas, a adubação e o controle de pragas até as características do mercado, a qualidade da madeira, os processos de certificação, a legislação e a análise econômica de viabilidade do sistema. “Temos até uma oficina em que eles desenham modelos de SAFs em papel e depois os transferem para uma planilha, que ajuda a fazer a previsão de custos e receitas, trazendo um panorama teórico de fluxo de caixa e da viabilidade do negócio”, destaca Guilherme.
Para Alexandre Takimoto, a atividade retratou inclusive os principais problemas e possíveis soluções para o cultivo de madeiras. “Além disso, abordou de forma bastante pragmática as possibilidades de consórcios de madeiras com frutíferas, sempre ressaltando as especificidades de cada sítio. Recomendo com empenho para quem quer ter uma visão realista do cultivo de madeiras e silvicultura”, afirmou.
Rodrigo Machado, outro participante desta edição, também fez uma avaliação positiva da intensa programação. “Todos os envolvidos com produção de madeiras em monocultivo no Brasil deveriam participar. Mesmo com 20 anos de experiência na área florestal, nunca havia participado de um curso tão envolvente e informativo”, apontou.
Rafael Cezimbra foi outro que elogiou a iniciativa: “A experiência vivida serve para qualificar, ampliar e enriquecer também nossos conceitos de agroecologia e, sobretudo, apresentam-se como alternativa para praticar agricultura de base ecológica de fato.”
Pesquisa compara SAFs com plantio tradicional
Ao contrário do modelo tradicional, baseado no monocultivo das árvores madeireiras, a proposta da pesquisa com SAF em plantações de mogno africano é diversificar a produção com a introdução de outras espécies. “Nossa ideia é comparar o modelo tradicional com modelos alternativos, seja um sistema agroflorestal, seja para a condução da regeneração natural de outras espécies, visando ao aumento da biodiversidade e de outros benefícios derivados, como melhoria do solo, melhoria da população de animais e insetos, controle de pragas e doenças, proteção de solo contra erosão, entre outros”, explica Guilherme.
A pesquisa teve início em 2016, tendo como parceiros o Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e a Fazenda Sucupira, que já trabalhava com mogno africano, embora ainda em estágio inicial. Hoje, depois de três anos, alguns resultados preliminares já podem ser apontados. Um deles, destacado na tese de Felipe Martini, é a aplicação de equações matemáticas para descrever, a partir do diâmetro da árvore, seu ritmo de crescimento – e, ao longo do tempo, estimar a produção, a altura e diferentes etapas de seu desenvolvimento.
Outro destaque da tese é a análise da regeneração natural, com a identificação das plantas que estão se regenerando, qual sua biomassa, o que estão aportando de nutrientes ao solo, quais suas funções no ecossistema, entre outros aspectos. “Foi feito todo um estudo minucioso dessa diversidade de plantas, com uma análise mais ecológica que aponta valores intangíveis, como conservação, melhoria do solo, sequestro de carbono, infiltração da água no solo, entre outras propriedades ambientais que são difíceis de mensurar economicamente”, revela Guilherme.
Outro aspecto que está sendo monitorado é o crescimento do mogno africano em sistemas de diferentes níveis de diversidade. “Notamos que o sistema mais complexo de árvores florestais tem crescido junto com o sistema tradicional, em que só há o mogno africano. Ou seja, as árvores estão crescendo em um ritmo similar, apesar de o sistema ser muito mais complexo e comportar uma densidade de plantas muito maior do que o simples. Esse é um grande resultado”, aponta Guilherme.
Ele explica: “O sistema tradicional usa somente o mogno para não ter competição. As árvores tendem a crescer muito mais rápido onde não precisam dividir recursos. Já onde há outras plantas consumindo água e nutrientes, o crescimento tende a ser mais lento. Isso ocorreu nas áreas em que estamos conduzindo a regeneração natural. Mas no sistema agroflorestal, por fazermos aportes de adubos para as culturas agrícolas, isso parece ser compensado de alguma forma.”
Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia
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