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Discussão destaca os benefícios econômicos e ambientais dos sistemas integrados de gestão sustentável
À medida que o meio ambiente enfrenta desafios crescentes em relação à sustentabilidade e ao uso eficiente dos recursos naturais, os sistemas integrados de produção que conectam lavoura, pecuária e florestas destacam-se como soluções promissoras. A convergência entre as áreas promove produtividade, conservação ambiental e promoção da biodiversidade, pois otimizam o uso da terra para proporcionar benefícios econômicos e ambientais, particularmente relevantes em um contexto de mudanças climáticas e crescente demanda por alimentos. Durante painel moderado pelo professor Eleandro Brun, da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR – Campus Dois Vizinhos), no Congresso IUFRO 2023 América Latina, o professor Carlos Francisco Garcia Olmos, da Universidad Distrital Francisco José de Caldas, apresentou o estudo de caso sobre o balanço hídrico de um sistema agroflorestal envolvendo Alnus glutinosa e café-arábica na zona andina da Colômbia. A pesquisa forneceu informações sobre como as interações entre as espécies afetam o ciclo da água, sendo observados benefícios em relação à capacidade de fixação de nitrogênio no solo e a redução da erosão. O manejo sustentável decorrente da combinação de espécies com lenhosas esteve entre os tópicos ressaltados: “sistemas agroflorestais que combinam espécies lenhosas desempenham um papel crucial para a sustentabilidade. Esses sistemas podem ser projetados para otimizar a produção agrícola, ao mesmo tempo em que mantêm a integridade dos recursos hídricos das bacias e geram benefícios ecossistêmicos, como a melhoria da qualidade da água, a conservação da biodiversidade e a proteção contra eventos climáticos extremos, como enchentes e secas”, explicou. O professor ainda citou a importância de conscientizar a população sobre o amplo cenário dos pontos de vista técnico e social; “as comunidades locais podem não estar cientes dos benefícios e valores econômicos associados a esses sistemas. Portanto, é imperativo promover a educação e conscientização social sobre os benefícios ecossistêmicos dos sistemas agroflorestais”, destacou o pesquisador.
Natalia Cerda Opazo, da Universidad Austral de Chile, abordou a necessidade de estabelecer um sistema silvipastoril manejado sustentavelmente para a preservação das bacias chilenas da região de Los Rios. A engenheira em Conservação de Recursos Naturais destacou o avanço nas práticas de conservação ambiental a partir de 2013, com o manejo de sítios arqueológicos dentro da área do Parque Nacional. Destacou como a gestão ambiental era excessivamente extrativista até então e sobre os objetivos do planejamento de gestão de territórios de alto valor. “Nossa principal meta era manter uma cobertura de copas de mais de 50% para preservar nosso relevo e biodiversidade. Com o trabalho junto às comunidades locais, durante os últimos dez anos, a quantidade de madeira extraída de modo sustentável foi surpreendentemente alta, cerca de 500 metros cúbicos, revelando-se mais rentável e valiosa do que se esperava”, explicou. A pesquisadora também ressaltou a importância da implementação de uma zona silvipastoril como transição entre as áreas de preservação estrita e as comunidades locais: “a administração das florestas pelos seus habitantes é fundamental. Juntos, estamos nos esforçando para melhorar o comércio de produtos florestais e criar organizações para capacitar as comunidades. Isso inclui o vínculo com jovens estudantes e promoção da igualdade de gênero, visando maior participação das mulheres na gestão florestal, particularmente na integração envolvendo frutíferas”, concluiu.
A pesquisa contínua da Embrapa, assim como a importância dos seus centros de especialidades, centros ecorregionais e a parceria com universidades, instituições e empresas, foi apresentada pelo chefe geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza, que destacou as estratégias prioritárias da Embrapa para a implementação do manejo sustentável no país. “Cada região possui uma tipologia florestal que reflete as características e anseios específicos das pessoas que lá vivem. As diferenças entre as pessoas, seus modos de desenvolvimento e perspectivas de vida influenciam diretamente no tipo de manejo que deve ser implementado em uma região. A compreensão das individualidades das comunidades e das condições locais é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de sustentabilidade, garantindo que os recursos naturais sejam preservados e utilizados de forma responsável no futuro”, analisou. Segundo Schaitza, o entendimento dos modos simples de produção, das habilidades dos povos nativos e das vantagens dos sistemas integrativos para a geração de renda nas comunidades, é essencial para que práticas de gestão sustentáveis se tornem realidade nas florestas: a descentralização da pesquisa é indispensável, ou seja, cada processo de extensão discute o que é melhor para a geração de resultados eficientes. Por causa dessas pesquisas, já temos conhecimento de que o bom manejo de pasto pode neutralizar a emissão de gases de efeito estufa na pecuária de corte, que a pecuária gera baixa emissão de carbono em sistemas com árvores e que as toras de madeira e a biomassa podem colaborar nesse processo, entre outras práticas que já vêm sendo sustentadas”. O diálogo florestal entre os agentes que vão a campo e a necessidade das pessoas que vivem nesses locais, foi reforçada várias vezes pelo engenheiro durante a palestra, assim como a necessidade da ancoragem de instituições, empresas e rede de financiadores para a continuidade prolongada das pesquisas, a exemplo do trabalho realizado pela Rede ILPF. “É preciso encontrar soluções para as pessoas. Nosso trabalho, integrado ao dos nossos parceiros, precisa ser convergente aos interesses da população que depende das florestas como meio de subsistência. E é preciso insistir, não há pesquisa sem continuidade, sem insistência”, finalizou.
O pesquisador Álvaro Sotomayor, gerente nacional da Linha de Pesquisa Desenvolvimento de Sistemas Agroflorestais do Instituto Florestal do Chile, falou sobre os critérios adotados pelo INFOR-Biobio na restauração de agroflorestas em escala paisagística. Entre os principais tópicos, destacou o grande problema do sistema hídrico no país devido à ineficiência do manejo dos cursos de água e às mudanças climáticas, uma vez que, atualmente, há 40% menos de chuva nos solos chilenos. A gestão inadequada dos recursos naturais também foi um ponto relevante, já que tem causado sérios impactos negativos, como a perda da biodiversidade por causa do corte de árvores pela agricultura, os incêndios incontroláveis em florestas nativas e a erosão, que chega a 49% e gera a improdutividade do solo. “Criamos um plano nacional de desenvolvimento de florestas plantadas com o objetivo de restabelecer a funcionalidade ecológica, bem como a qualidade de vida e o bem-estar das comunidades. É fundamental que a restauração de paisagens leve à resiliência territorial, renovando a biodiversidade e aumentando o fornecimento de serviços ecológicos.”
Sotomayor fechou a programação de painéis da IUFRO AL 2023 propondo reflexão: “Precisamos nos perguntar: como melhorar a paisagem degradada, já que a original não há como? Como podemos levar soluções às pessoas? Há muito trabalho a fazer, mas reflorestar, incorporar sistemas silvipastoris, promover a produção de madeira sustentável, capacitar agricultores, e chamar a atenção dos governos locais e regionais, são os mais urgentes”, concluiu.
Ana Reimann (Produção de texto)
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