Unidade
Embrapa Gado de Corte
05/07/16
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Melhoramento genético
Bovinos Senepol ganham sumário de animais avaliados geneticamente
Touros e matrizes da raça Senepol agora contam com um Sumário de Touros próprio, disponível em versão impressa e digital. O sumário descreve os animais avaliados geneticamente quanto a diversas características de importância econômica e oferece ao pecuarista subsídios para a tomada de decisão nos processos de seleção genética e cruzamentos de sua propriedade. O sumário é resultado de trabalho de melhoramento genético realizado desde 2010 por pesquisadores da Embrapa. Hoje, 80% da reprodução de gado Senepol é artificial, e uma fêmea bem ranqueada pode custar R$ 34 mil reais e um reprodutor, R$ 14,5 mil reais
A elaboração do Sumário é gradativa e feita em parceria com o Programa Geneplus, o Núcleo Brasileiro de Melhoramento do Senepol e a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol), explica Gilberto Menezes da Embrapa Gado de Corte (MS), centro de pesquisa responsável pelos trabalhos. Tudo começa pela coleta de dados dos animais nas propriedades e segue com as provas de avaliação de desempenho, um dos exemplos é a Prova de Avaliação de Desempenho do Senepol (PADS), realizada desde 2011. A prova avalia em condições padronizadas o desempenho dos animais a pasto, identificando aqueles com alto potencial para um futuro teste de progênie, metodologia que avalia os touros pelo desempenho produtivo de seus descendentes. Dessa forma, auxilia no reconhecimento de touros jovens promissores.O trabalho foi liderado pelo melhorista Luiz Otávio Campos da Silva
Os tourinhos em destaque seguem para o Programa de Avaliação de Touros Jovens (ATJPlus Senepol). Conforme Gilberto, a ideia é testar mais rapidamente os animais, pois "a forma mais eficiente de descobrir se um animal é superior geneticamente é por seus filhos. Se ele produz filhos de qualidade, ele é um melhorador". Os pesquisadores acreditam que ter essa certeza quando o animal ainda é jovem transmite confiabilidade aos produtores na hora de adquirir o sêmen de um reprodutor, que pode ser usado puro ou em cruzamento.
O raciocínio se mantém em relação às novilhas. Fêmeas integrantes do Programa Safiras do Senepol são avaliadas em quesitos como critérios visuais, ganho de peso, carcaça, eficiência alimentar, escore de trato reprodutivo, frame e população folicular, que determinam o potencial da novilha em tornar-se ou não uma doadora (óvulos), por uma equipe técnica que conta com pesquisadores da Embrapa. "É um grande diferencial conhecer a competência das doadoras, suas qualidades e deficiências quando usadas seja em monta natural ou inseminação", frisa o coordenador técnico do Programa, José Antônio Fernandes Júnior.
"As provas de desempenho e avaliação genética fazem com que a assertividade de seleção seja aprimorada e isso é um beneficio ímpar para o crescimento da raça, seja em genética pura ou em cruzamento", considera também Gilmar Goudard, presidente da ABCB Senepol. Ele comenta que o Sumário é uma antiga solicitação dos criadores, dada sua importância como fonte de informação genética para tomada de decisão.
Experiência a campo
No Pantanal Sul-mato-grossense (Miranda-MS), o rebanho jovem do pecuarista Roberto Coelho participa das provas de desempenho desde o início. Segundo ele, a maioria dos criadores Senepol ainda utiliza embriões, sendo assim, touros com boa avaliação em quesitos como ganho de peso, precocidade e qualidade de carcaça concorrem em melhores condições no mercado.
O melhorista Gilberto Menezes revela que os estudos conduzidos envolvem estratégias de seleção, cruzamentos e genômica. Ele ratifica que o interesse dos criadores pela raça caribenha nos últimos anos foi decisivo para inseri-la, definitivamente, em linhas de pesquisa. "Em 2014 foi a terceira raça com maior produção de sêmen no Brasil, perdendo somente para Angus e Nelore. É uma raça que tem apelo e por isso demanda informações técnico-científicas. Precisamos conhecer para orientar os produtores". Dados da Associação apontam um rebanho estimado em, aproximadamente, 46 mil cabeças (puro e cruzado) registradas na entidade, um acréscimo de 28% em relação a 2014 e 70% comparado a 2013, com leilões (machos e fêmeas) saltando de 12 em 2011 para 45 no ano passado.
Cruzamento industrial
Outra iniciativa da equipe integrada por Menezes é investir em cruzamentos. Por duas safras consecutivas, fêmeas meio-sangue Angus+Nelore, meio-sangue Caracu+Nelore e Nelore foram inseminadas com touros Senepol, Caracu e Guzerá. O acompanhamento dos animais é do nascimento ao abate, que ocorre com no máximo 24 meses.
Os estudos comparam as raças zebuínas (indianas) e taurinas (europeias) quanto à produção de carne de qualidade, considerando critérios como fertilidade, desempenho e acabamento, maciez, perda de água por cozimento e cor. "Ao final, teremos nove grupos genéticos distintos e com o experimento em duas safras há garantia e segurança nos resultados e os primeiros sairão em 2018", garante Menezes. Os técnicos pretendem estruturar uma plataforma com esses dados e disponibilizar ao produtor as possibilidades confiáveis de cruzamentos.
Pecuarista e presidente da ABCB Senepol, Goudard observa na propriedade e no bolso o efeito dos cruzamentos. Os abates técnicos de meio-sangue com Senepol enquadram-se na cota Hilton de exportação, com cortes especiais que no mercado internacional têm valor, normalmente, mais alto. Dessa forma, para ele, "criar um taurino 100% adaptado aos trópicos com a capacidade de cobrir a vacada, em um território onde 90% da monta é natural, é um ganho por não precisar mudar o sistema de manejo". Outra vantagem indicada por ele é a heterose (vigor híbrido) de 100%. Gilberto Menezes explica que a heterose é um ganho no desempenho do cruzado gerado pelo acasalamento de indivíduos de raças diferentes, e quanto mais distante geneticamente as raças envolvidas no cruzamento forem, maior será o efeito. No caso de um touro Senepol cruzado com vacas zebuínas, a heterose é máxima.
Genômica
Com olhar adiante, neste ano, a pesquisadora Andréa Egito deu os primeiros passos a fim de avaliar a estrutura genética da raça e validar genes candidatos. Com base em um banco de dados de fenótipos e dados genômicos (DNA), serão identificados genes que influenciam determinadas características econômicas. Segundo ela, os estudos podem evidenciar os gargalos genéticos e auxiliar no monitoramento e na manutenção sustentável da variabilidade genética.
"A dinâmica dos processos de seleção artificial associada às biotécnicas reprodutivas pode levar à diminuição da variação genética pelo aumento da endogamia (consanguinidade). No caso da raça Senepol, isso é preocupante, uma vez que existe a utilização maciça de touros e matrizes de destaque e o uso constante de biotécnicas de transferência de embriões (TE) e da fertilização in vitro (FIV) para auxiliar no incremento populacional", esclarece a médica-veterinária, que ressalta a relação direta entre o incremento da eficiência em programas de melhoramento e a seleção de animais superiores e variabilidade genética disponível.
Desenvolver um teste molecular para identificação de animais com genótipo de musculatura dupla é outro foco dos melhoristas. "A musculatura dupla é uma síndrome hereditária que ocorre, especialmente, na região do quarto traseiro, na qual os músculos são protuberantes com seus limites e contornos bem visíveis sob a pele", explica Fabiane Siqueira. A mutação é causada por um gene e aparece em outras raças, como Charolês e Limousin. Os bovinos com este fenótipo apresentam ossos finos, redução do tamanho dos órgãos internos, susceptibilidade a doenças respiratórias, dificuldades no parto e redução de fertilidade.
Para a doutora em genética, elaborar um teste de DNA que avalie a mutação em animais Senepol permite identificar geneticamente os indivíduos que apresentam a síndrome da musculatura dupla, subsidiando o criador nos processos de acasalamento e seleção. Os especialistas e profissionais da área acreditam que esses estudos poderão agregar valor a um produto que se tornou uma importante opção nos rebanhos brasileiros de melhoramento genético.
Dalízia Aguiar (MTb 28/03/14/MS)
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