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Especialistas ressaltam importância da cooperação na abertura da conferência científica do Mountains
Fortalecer as redes científicas locais e globais para avançar nas pesquisas e nas políticas públicas voltadas aos ambientes de montanhas. Esta foi a tônica da mesa de abertura da II Conferência Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento Sustentável em Regiões de Montanhas, na quinta-feira (13/12), no Colégio Anchieta de Nova Friburgo (RJ). O evento científico, que engloba dezenas de debates e simpósios, encerra os trabalhos do Mountains 2018.
A pesquisadora da Embrapa Agrobiologia Adriana Aquino salientou que ao final da conferência, nesta sexta-feira (14/12), será formalizada a criação da Rede Latino-americana e do Caribe para Pesquisa em Ambientes de Montanha. “Dentro da perspectiva de integrar as instituições em prol das pesquisas de montanhas, criaremos essa rede latino-americana e do Caribe, que será, junto com a Carta de Nova Friburgo, um instrumento para cobrarmos a criação de programas de governo e incentivar o fomento de pesquisas e a implementação de políticas públicas nessa área.”
A Carta de Nova Friburgo foi construída durante o workshop que abriu o Mountains 2018, no início da semana, com a aprovação unânime dos participantes. A iniciativa recebeu o apoio da Unesco, da Aliança para as Montanhas da FAO e da Associação das Montanhas Famosas do Mundo. O objetivo dessa carta é ampliar, em âmbito nacional, a percepção da importância das montanhas, estabelecendo critérios para mapear e classificar as montanhas brasileiras. “A ideia é reforçar a pesquisa na área e estabelecer metas para melhorar a vida das pessoas com sustentabilidade. As montanhas são importantes não somente para as pessoas que vivem nelas ou ao redor delas. Quem mora nas adjacências precisa da água que as montanhas fornecem, por exemplo. Buscaremos definir no Brasil os critérios para a classificação das montanhas e para a definição das áreas que elas abrangem”, concluiu Adriana.
Rosalaura Romeu, membro da Secretaria da Aliança para as Montanhas da FAO, salientou que o Brasil está dando um passo importante, durante esta edição do Mountains, para colaborar com essa aliança global de pesquisa, citando como positiva a criação da Carta de Nova Friburgo. “Nossa aliança, que inclui mais de 60 governos de países de todos os continentes e várias instituições de pesquisa, trabalha para levar desenvolvimento sustentável às pessoas que vivem nas regiões de montanha.”
A professora Mônica Amorim, da Universidade Federal do Ceará, acredita que o Mountains terá papel importante na sensibilização, especialmente na América do Sul, sobre a importância das regiões de montanha. “Em muitos países, montanhas são consideradas lugares especiais. Na China existem montanhas consideradas sagradas. Na América do Norte e em outros países da Ásia, as pessoas têm um respeito especial com as montanhas. Aqui na América do Sul estamos começando a desenvolver esse conceito. Nesse contexto, esse encontro tem uma importância especial para a sensibilização dos governos, dos legisladores e da sociedade em geral para a importância das montanhas.”
Já o professor Orlando Rodrigues, presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), em Portugal, salientou que a edição brasileira do Mountains está colaborando de forma significativa para a solidificação de uma parceria dos países de língua portuguesa em prol das pesquisas em montanhas. Segundo ele, no evento anterior realizado em Portugal começaram a se estabelecer as bases para essa parceria. “Isso nos permitirá a criação de uma rede global de países de língua portuguesa em ligação com outras parcerias globais sobre investigação em montanha. Será uma oportunidade de darmos uma contribuição significativa para as pessoas que vivem nesses ambientes, sobretudo nos tempos atuais, em que as questões do desenvolvimento sustentável são cada vez mais importantes.”
Martin Price, professor da University of the Highlands and Islands, na Escócia, ressaltou que encontros científicos são fundamentais para o avanço das pesquisas e para a consolidação de redes locais e globais. Reconhecido pelo protagonismo na criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que rendeu a ele e toda a equipe do IPCC o prêmio Nobel da Paz em 2007, Price é o presidente da comissão científica do Mountains 2018. “É muito especial para mim poder colaborar com a organização desta conferência científica, que busca a cooperação internacional para o desenvolvimento sustentável nas regiões de montanha. Estarmos aqui reunidos, conversando e trocando ideias, faz toda a diferença. É importante para nós, para as pessoas que vivem nas regiões de montanhas e para todos aqueles que dependem delas ao redor do mundo.”
Após a abertura da conferência, Martin Price explicou como foi feito o trabalho de mapeamento das montanhas europeias, ressaltando as dificuldades metodológicas para as classificações e a importância de se conhecer com exatidão as regiões montanhosas para o avanço nas pesquisas e a implementação de políticas públicas eficazes. Lições que vieram ao encontro das aspirações da equipe que criou a Carta de Nova Friburgo, cujo um dos objetivos é sensibilizar a sociedade brasileira e os governos da importância desses mapeamentos.
Buscar uma definição de quais critérios serão utilizados para classificar as montanhas e suas regiões é fundamental para a geração de dados que possam contribuir efetivamente para a pesquisa e para as políticas públicas. Um exemplo dado por Price, sobre a população mundial que vive em montanhas, ilustra bem essa importância. De acordo com um estudo de 2017, são 386 milhões de pessoas vivendo em montanhas. Já outro trabalho, de 2015, apontou que essa população é de 915 milhões de pessoas. A grande diferença nos números vem dos critérios utilizados: um estudo considera morador de montanhas apenas quem vive sobre elas, Já o outro abarca também a população que vive ao redor delas.
Fernando Gregio (MTb 42.280/SP)
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