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Agricultores familiares produzem hortaliças no Canal do Sertão, em Alagoas
Foto: Victor Brandão
O produtor Valney Soares é orientado pela analista Flávia Teixeira, da Embrapa, e pela extensionista Maria Amélia de Oliveira Silva, da Secretaria de Agricultura de Delmiro Gouveia
Práticas agrícolas mais eficientes estão sendo implementadas e avaliadas pela Embrapa e instituições parceiras na produção de hortaliças em municípios alagoanos às margens do Canal do Sertão. O objetivo é impulsionar a atividade produtiva deste segmento tornando-a viável tecnicamente e rentável para melhoria da qualidade de vida das comunidades dos agricultores familiares envolvidos.
A região é caracterizada por baixo volume pluviométrico e distribuição desigual de chuvas, além do alto índice de evapotranspiração. Neste contexto de adversidade climática regional, o ajuste e o aprimoramento de práticas agrícolas, assim como a adoção de novas tecnologias, muitas vezes de baixo custo e acessíveis ao agricultor familiar, são fundamentais para a efetividade da produção.
Experimentos com híbridos e cultivares desenvolvidos pela Embrapa, de diversas espécies como alface, tomate, cenoura e melão, vêm se destacando por apresentarem-se mais adaptados ao clima hostil da região. Além disso, há o estímulo à adoção de práticas de cultivo que favorecem condicionantes técnicos de construção e estruturação de solos, economia e retenção de água, uso racional de defensivos agrícolas e redução de luminosidade e temperatura, proporcionando melhor microclima para as plantas.
“Somente com a consorciação de técnicas e tecnologias sustentáveis será possível reduzir a vulnerabilidade econômica e social que se apresenta no cenário produtivo nordestino, promovendo então o desenvolvimento rural”, explica Flávia Teixeira, analista da Embrapa Hortaliças, que conduz o projeto “Capacitação continuada para produção de hortaliças no Canal do Sertão de Alagoas”.
Os principais objetivos são trazer novas tecnologias, aprimorar e discutir técnicas de produção com extensionistas e produtores-chave locais que venham somar esforços para empreender a produção de hortaliças no sertão. “A participação direta e integrada dos extensionistas é mola propulsora ao aumento da produção agrícola, à expansão e especialização do mercado de hortaliças”, complementa a analista.
A capacitação ocorre de forma contínua com a implementação de campos de produção em diversos municípios na extensão do Canal, com temas de abrangência regional para a resolução de dificuldades enfrentadas pelos agricultores locais. Como resultados, espera-se expansão do conhecimento técnico local pela promoção das capacitações, criação de publicações técnicas, realização de dias de campo e palestras, e adoção de novas tecnologias de produção.
Para Cícero Roberio dos Santos, fruticultor de Olho d'Água do Casado que está cultivando o tomate BR Sena e vai começar a plantar o melão BRS Araguaia, a experiência com o tomate e com o trabalho de acompanhamento feito na área dele pela equipe da Embrapa está sendo muito gratificante. “Antigamente eu produzia tomate, só que dava desgosto porque a gente estava produzindo errado e hoje eu vejo a diferença”, afirma o produtor. “Hoje dá gosto a gente andar lá e poder ver um tomate tão incrível”, ressalta. “Dá orgulho; estou aprendendo muito, muito mesmo e cada dia vou aprendendo mais porque eu quero produzir mais e melhor ainda”, enfatiza.
O pesquisador Jony Eishi Yuri, da Embrapa Semiárido e fitotecnista na área de olericultura, acompanha as Unidades de Demonstração de hortaliças implantadas em municípios alagoanos por onde passa o Canal do Sertão. Ele conta que algumas áreas já estão em processo de colheita, permitindo aos produtores parceiros realizar a comercialização.
Apesar da distância física desse centro de pesquisa da Embrapa, Yuri afirma que há um esforço no sentido de, ao menos mensalmente, estar presente nessas áreas, sempre repassando todas as informações necessárias para que o produtor tenha sucesso no seu cultivo e consiga obter lucros com a comercialização do produto colhido. “O que podemos enfatizar é que, pela qualidade das sementes desenvolvidas pela Embrapa Hortaliças, o manejo das culturas tem sido facilitado, pois são materiais adaptados, muito tolerantes às doenças, muito produtivos e de ótimo aspecto comercial.”
O Canal
No início da década de 1990, o governo de Alagoas iniciou as obras do Canal do Sertão, por meio da transposição e canalização de uma parte das águas do Rio São Francisco, que se estende por 250 quilômetros, englobando 18 municípios, iniciando-se em Delmiro Gouveia e terminando em Arapiraca. Trata-se de mais uma alternativa de minimização dos impactos negativos sociais e econômicos causados pela seca.
Experimentos no Agreste e Zona da Mata
Além do Sertão, experimentos também são conduzidos, desde 2020, na Zona da Mata e no Agreste de Alagoas, regiões que apresentam condições climáticas muito diferenciadas. Para efeito comparativo, em paralelo, foi observado o desempenho de cultivares no estado do Rio de Janeiro. Em Teresópolis e em Duas Barras, por exemplo, houve cultivo do tomate BRS Sena, que tem maior resistência ao calor, mas apresenta suscetibilidade a baixas temperaturas.
O BRS Sena, cultivado em Alagoas, apresentou excelentes resultados, com produtividade de 70 toneladas por hectare e baixo custo de produção. Em Coruripe, os plantios começaram em 2021 para avaliação de comportamento com três espaçamentos, em um cultivo sem agrotóxico. Novos testes serão feitos na região ainda em 2023, em parceria com a Cooperativa Pindorama.
“Eu estou muito feliz com essa parceria com a Embrapa, com esse experimento dessa hortaliça; no caso, o tomate Sena, é um tomate sensacional. Eu nunca imaginei plantar tomate, mas como apareceu essa oportunidade com a Embrapa, eu não pensei duas vezes, aceitei logo e estou gostando muito. Percebi que, além de adaptado à região, também é um tomate muito rústico, muito vigoroso. Até o momento não precisei introduzir nenhum produto químico”, conta Valney Soares, produtor rural de Delmiro Gouveia que, pela primeira vez, está plantando hortaliças às margens do Canal do Sertão.
Houve experimentos também na região de Arapiraca com plantios das variedades de cenoura Brasília, Planalto e Paranoá, e dos tomates BRS Sena, Nagal e Montese, para avaliação de comportamento entre as cultivares e análise da tolerância, especialmente em relação à salinidade. As pimentas BRS Juriti, Nandaia, Sarakura e Red também foram testadas em Arapiraca.
Ocorreram ainda outros plantios no estado de Alagoas, como em Barra de Santo Antônio, com as batatas-doces BRS Cotinga, Anembé, Canadense, Beauregard e Braziândia roxa. A Cotinga foi a variedade que mais se destacou e obteve o melhor comportamento, de acordo com Flávia Teixeira.
Em 2022, foram instalados plantios das variedades de alface BRS Leila, BRS Mediterrânea e do tomate Equatorial, em Igaci. Já em Arapiraca, Junqueiro e Mar Vermelho foram testados clones de alho; entretanto, em razão do excesso de chuvas, o retorno foi muito pequeno. Para este ano, estão previstas ações de validação de híbridos de tomate, alface, batata-doce, alho e pimenta no Nordeste, incluindo outros estados, especialmente Sergipe.
Alagoas importa cerca de mais de 80% das hortaliças que consome. Para incentivar o cultivo, a Embrapa também aprovou, no final do ano passado, o projeto “Produção de tomate pela agricultura familiar no agreste alagoano através de práticas conservacionistas para aumento de produtividade e qualidade do fruto”.
Cofinanciado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), está sendo desenvolvido pela Embrapa Hortaliças (DF), com apoio da Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Rio Largo, e da Embrapa Alimentos e Territórios, localizada em Maceió.
A equipe técnica envolve representantes da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), Embrapa Semiárido (PE), Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/AL), Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/AL), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AL), Secretarias de Agricultura de Arapiraca, Delmiro Gouveia, Olho D'Água do Casado e Mar Vermelho (AL).
Seminário apresenta balanço das ações
Apresentar um histórico das ações voltadas ao fomento de produção de hortaliças no Nordeste brasileiro, especialmente em Alagoas, realizadas pela Embrapa Hortaliças e parceiros, de 2020 até a data atual, foi a proposta do seminário “Ações HUB Embrapa Hortaliças/Nordeste”, apresentado pela analista Flávia Teixeira, em 7 de julho, na Embrapa Hortaliças (DF). Fizeram parte desse contexto áreas de cultivos com materiais BRS em diferentes regiões edafoclimáticas, assim como distintos perfis de produtores, contribuindo para validar as respectivas características e identificar pontos importantes para a efetividade da produção.
Como representante da HUB no Nordeste – termo que nessa abordagem representa oferecer tecnologias inovadoras com vistas ao atendimento de necessidades e demandas de produtores – a analista explica que o trabalho tem como princípio acompanhar o desempenho de ativos BRS sob condições diferenciadas.
“Durante os últimos quatro anos apresentamos à região híbridos de cultivares de tomate, alface, cenoura, batata-doce, pimenta e melão, e os resultados foram bastante satisfatórios em termos de produtividade, em maior ou menor grau, sendo assim comercialmente viáveis”, aponta Teixeira.
Segundo ela, nesse sentido a expertise da Embrapa Hortaliças no desenvolvimento de novas cultivares e as ações de transferência de tecnologia recebem o reforço tanto de parceiros internos, no caso de outras Unidades da Embrapa – a exemplo da Alimentos e Territórios, Agroindústria de Alimentos, Tabuleiros Costeiros e Semiárido –, e externos, como secretarias de agricultura municipais e instituições como Senar, Sebrae, Instituto Federal e Universidade Federal de Alagoas.
Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
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