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Integração Brasil-Bolívia promove intercâmbio de experiências entre estudantes
Foto: Nicoli Dichoff
Universitários do país vizinho tiveram contato com práticas agropecuárias do Brasil
Em uma viagem feita por alunos do curso de veterinária da Universidade de Aquino da Bolívia (Udabol), realizada com o apoio da Embrapa Pantanal até a Escola de Bodoquena (unidade da Fundação Bradesco localizada em Miranda, MS), seria de se esperar que os estudantes estrangeiros demonstrassem o maior grau de curiosidade entre os presentes. Porém, o interesse das crianças e adolescentes matriculados na Fundação pelo grupo de visitantes era tão grande que rivalizava com o dos alunos da fronteira: cumprimentos, sorrisos e muitas conversas em "portunhol" marcaram a integração realizada entre as instituições. Na última semana, cerca de 40 universitários bolivianos viajaram até a cidade sul-mato-grossense para conhecer um pouco do trabalho realizado no curso técnico em agropecuária ministrado aos estudantes da Fundação.
"Ao final do ensino médio, uma turma de 30 ou 40 alunos é selecionada para fazer o curso técnico, realizado por meio de um sistema modular. Os módulos que a gente oferta são produção animal, produção vegetal, agroindústria (abordando o processamento dessa produção) e gestão (administração rural e gerenciamento das propriedades)", afirma Vilson Carvalho, orientador profissional que coordena o curso. "Fazemos nosso trabalho em cima do protagonismo juvenil, uma coisa que faz falta no Brasil (...). A gente fica muito contente quando vê jovens trilhando um caminho com sonhos, expectativas", conta. Segundo Vilson, mais de 800 crianças e adolescentes estudam na instituição atualmente. A formação técnica em agropecuária é uma oportunidade para inserir o jovem no mercado de trabalho, de acordo com o orientador.
Aulas práticas
Foi nesse contexto que conhecemos Fernanda da Silva, de 16 anos. Apesar da presença dos universitários estrangeiros, Fernanda não se intimidou quando o professor e médico veterinário Fábio Holney pediu a ela que demonstrasse aos visitantes como vacinar bovinos contra a febre aftosa. "Meus pais sempre moraram em fazenda. Quando meu pai ia trabalhar, eu ia com ele no campo, observava e ele me explicava como fazer algumas tarefas", diz. "Ainda não sei direito o que quero fazer da vida, mas penso em trabalhar na área". E, embora tenha gostado de receber os estrangeiros, Fernanda admite: é mais fácil lidar com os animais que com os visitantes. "Justamente pela questão da timidez. Você fica meio na sua! (risos)".
Laís Acosta Flores, que tem 17 anos e também é aluna da Fundação, conta que leva para a família as informações que aprende na aula. "Como meu pai trabalha em um ramo da pecuária e sabe que faço o curso, ele me pede explicações, pergunta se fiz alguma coisa nova. Eu ensino o que sei e vou passando o conhecimento em casa". Quem também conseguiu aproveitar um pouquinho dos dados transmitidos durante a aula na Fundação foi a estudante da Udabol Melissa Queiroz, de 24 anos. Ela exercitou a técnica da palpação para identificar a gestação em vacas do rebanho. "Os alunos aqui têm onde praticar todo o tempo, têm vários animais com que podem aprender. É muito bonito", afirma. Ela diz que ações como essa a aproximam do trabalho que pensa em realizar quando se formar. "Gosto de lidar com animais maiores, como os bovinos. É praticando que se aprende".
A orientação dos professores
Fábio Holney, que supervisionou as atividades relacionadas ao manejo de bovinos de corte durante a visita, afirma que a troca de experiências é muito importante para enriquecer o aprendizado dos alunos – sejam brasileiros ou bolivianos. "Eles trazem um pouco das informações deles, a gente complementa com as nossas e com a realidade do nosso cotidiano, do manejo realizado por aqui. Para nós, essa troca é interessante, principalmente, para os alunos do curso técnico, que podem conversar com outros estudantes e discutir entre eles o trabalho realizado nos dois países", diz. "O trabalho desempenhado aqui, junto aos estudantes, é muito gratificante. São pessoas, em sua maioria, de origem humilde que realmente precisam de um direcionamento profissional".
O pesquisador Frederico Lisita, da Embrapa Pantanal, também participou da visita para conversar com os alunos sobre o uso da bocaiuva, mandioca e moringa na alimentação de aves poedeiras – um trabalho de pesquisa desenvolvido por ele e pela pesquisadora Raquel Soares, da mesma instituição, em parceria com a Fundação Bradesco. Ele conta que a maioria dos estrangeiros conhecia apenas o uso da mandioca para essa finalidade e que as diversas propriedades da moringa foram novidade para eles. "A moringa é rica em alguns minerais, como o ferro e cálcio, por exemplo. Ela também é uma fonte muito importante de algumas vitaminas. A moringa tem sete vezes mais vitamina C que a laranja e quatro vezes mais betacaroteno que a cenoura, além de um teor de até 30% de proteína – uma proteína de alto valor biológico, com um balanço de aminoácidos bem parecido com o da proteína animal".
Para Frederico, o contato entre pesquisadores e estudantes cria possibilidades para o aprimoramento das informações geradas pela pesquisa, aproveitando diferentes circunstâncias, ambientes e pontos de vista no processo. "É interessante que a pesquisa seja difundida para ser testada em outras localidades, para que mais pessoas a conheçam. Assim, podemos ter mais certeza do que fazemos. Quanto mais gente pesquisa, melhores são os resultados que obtemos".
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
Embrapa Pantanal
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