Apresentar os resultados da implantação do sistema de integração lavoura pecuária (ILP) nas condições do litoral paraibano. Esse foi o objetivo da visita técnica realizada pela Embrapa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no último dia 4 de agosto, na Fazenda Santana, em João Pessoa, PB, com a participação de produtores rurais, pesquisadores e técnicos da Embrapa Algodão e Embrapa Solos, representantes do Mapa e de instituições financeiras. Segundo o proprietário da Fazenda Santana, Maurício Hardman, há 20 anos a pecuária e o cultivo da cana-de-açúcar têm sido as atividades principais da fazenda, mas com a crise hídrica que a região Nordeste vem enfrentando nos últimos anos ele decidiu diversificar as atividades e procurou apoio técnico para inserir o sistema ILP na propriedade. "Não há mal que não traga um grande bem. Nós começamos com a integração milho e sorgo apenas para melhorar a pecuária e para aumentar a diversificação. A ideia era aumentar as arrobas de gado por hectare e termos mais culturas na propriedade. E o resultado foi surpreendente mesmo registrando o pior volume de chuvas desde 1938". A área demonstrativa com o consórcio de milho-sorgo e gramíneas foi instalada em seis hectares de solo de textura média e arenosa e recebeu menos 400 milímetros de chuvas mal distribuídas durante o ciclo das culturas. Entre os fatores limitantes para a introdução do sistema ILP na propriedade ele destacou o solo arenoso e a escassez de chuva. "Se com tudo isso, nós tivemos esse resultado, então acreditamos que essa tecnologia tem tudo para se expandir para os agricultores da região", declarou. Hardman salienta que introduzir novas culturas no Nordeste é uma tarefa ousada, mas não impossível. "Se outras regiões têm o privilégio de fazer essas coisas, porque nós também não? O que precisamos é de uma mudança de paradigma", afirmou. "O sorgo, por exemplo, não é uma cultura comum no Nordeste, mas produz com menos chuvas que a necessária para a produção do milho. Então porque não temos sorgo nas fazendas do Nordeste? Na minha propriedade, agora o sorgo tem lugar garantido", acrescentou. O chefe substituto da Divisão de Produção, Política e Desenvolvimento Agropecuário, Superintendência Federal de Agricultura no Estado da Paraíba (SFA/PB), Hermes Ferreira Barbosa, destacou que a propriedade é um grande exemplo para o Plano ABC na região. "Nós temos dois termos de cooperação técnica envolvendo a Embrapa Algodão e a Emater/PB para a pesquisa e a capacitação de técnicos para a divulgação do Programa ABC na Paraíba", informou. O chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão, Valdinei Sofiatti, enfatizou a importância da ILP para a melhoria da fertilidade e das condições físicas do solo e também na produção de alimentos para os animais. "O produtor precisa aprender a produzir alimento para os animais na época da chuva para evitar ou minimizar a compra de alimentos na época da seca" disse. "E essa área demonstrativa foi muito importante para o produtor ver que é possível produzir alimento para os animais mesmo com chuvas muito abaixo da média e ainda deixar gramíneas para alimentação animal e para a formação de palhada para o plantio direto", avaliou. Sofiatti também destacou os benefícios indiretos do sistema ILP a exemplo da melhoria do perfil do solo. "Com esse sistema, a cada ano há melhorias na estruturação física do solo e também aumento gradativo da matéria orgânica do solo, aumentando assim a produtividade." Plano ABC Coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) busca contribuir com a redução e a adaptação às mudanças do clima junto ao setor agropecuário e a ILP é uma das seis tecnologias recomendadas. Na Paraíba, o Plano ABC tem como metas recuperar uma área de 42 mil hectares de pastagens degradadas por meio do manejo adequado e adubação, aumentar a adoção de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em mil hectares e de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 5 mil hectares e ampliar a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) em 6,5 mil hectares.