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Pesquisadores participam de Reunião Técnica e Dia de Campo sobre ILPF nos solos arenosos do Oeste paulista
Foto: Allan Kardec Ramos
Pesquisador João K destacou que os sistemas ILPF são a união das diferentes revoluções na agropecuária brasileira
Uma equipe de pesquisadores Embrapa Cerrados (Brasília, DF) participou da programação da Reunião Técnica e do Dia de Campo sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), realizados respectivamente no campus II da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente (SP) no dia 18 de agosto, e na Fazenda Campina, em Caiuá (SP), propriedade do Grupo Carlos Viacava (CV) no dia 19. Os eventos receberam o apoio financeiro da Rede de Fomento ILPF.
A programação da Reunião Técnica contou com palestras e debates. O chefe geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, participou da mesa de abertura. Mais de 400 produtores rurais, técnicos e estudante estiveram presentes, além de pesquisadores da Embrapa Cerrados, da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) e da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS). O diretor-executivo da Rede de Fomento ILPF, William Marchió, apresentou a palestra "Rede de Fomento ILPF".
O ex-secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Eduardo de Carvalho, abordou o tema "Visão Macroeconômica da ILPF no Brasil". "Os sistemas integrados permitem ao pecuarista utilizar a base territorial de uma forma muito mais intensa durante o ano todo, elevando de forma considerável a sua lucratividade, já que ele pode aproveitar melhor a sua terra", disse. Carvalho acrescentou que a ILPF é um processo lento, que requer interação entre técnicos, produtores, universidade e poder público. "Acho notável a aliança entre Unoeste, Embrapa e Cocamar junto aos produtores, o que pode tornar possível a recuperação dos solos degradados do oeste paulista", afirmou.
Também fizeram apresentações Valdemar Rodrigues, diretor do Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, e Luciano Araújo, consultor sócio da Terra Desenvolvimento Agropecuário.
Dia de campo
O Dia de Campo na Fazenda Campina recebeu mais de 500 produtores, técnicos e estudantes, que conheceram estratégias de manejo sustentável de solos arenosos do Oeste paulista e os resultados da integração na prática.
Responsáveis pela primeira estação técnica, os pesquisadores João Kluthcouski (João K), Lourival Vilela e Luiz Adriano Cordeiro, da Embrapa Cerrados, apresentaram o tema "A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) como alternativas de sustentabilidade agropecuária em solos arenosos". João K falou sobre as diferentes revoluções na agropecuária brasileira e como os sistemas de integração acabam sendo uma união de todas elas. Vilela e Cordeiro enfatizaram os conceitos de solos arenosos, de ILP e de ILPF, bem como a importância do Sistema São Mateus para adoção da ILP em solos arenosos. Por fim, abordaram os benefícios da ILPF e as expectativas em torno do conceito "Carne Carbono Neutro".
Na segunda estação, o coordenador técnico da Cocamar, Renato Hobold Watanabe, apresentou a palestra "Modelo de Parceria Sustentável", com estratégias de parcerias "ganha-ganha" entre pecuaristas e agricultores para a viabilização da adoção de ILP ou ILPF. Um modelo de parceria foi apresentado por Eleandro Zanole, da Cocamar em Altônia (PR). "Não adianta o pecuarista querer explorar o agricultor, cobrando um alto percentual de arrendamento, pois não haverá como seu parceiro investir na recuperação do solo", enfatizou. Zanole explicou que o produtor fez o plantio direto da soja sem revolver o solo e ambos dividiram os custos com aplicação de calcário. Enquanto o arrendatário participou com as sementes, o proprietário forneceu os herbicidas, que foram aplicados pelo parceiro. "Em suma, é uma parceria ganha-ganha que precisa ser interessante para ambos os lados, pois o mais interessante para o pecuarista não é a soja, mas ter um pasto recuperado", afirmou.
As demais estações foram apresentadas por Juliano Roberto da Silva, zootecnista do Grupo CV, que falou sobre "Revolução da Atividade Agropecuária do Grupo CV"; Diogo Cardoso Rojas, engenheiro agrônomo da Cocamar, e Paulo Claudeir da Silva, professor da Unoeste, que falaram sobre como iniciar no Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Na última estação, foi feita a apresentação dos animais do 61º Leilão Nelore Mocho CV, realizado no dia 21 de agosto, em Presidente Venceslau (SP).
Presente no dia de campo, o pesquisador Roberto Guimarães Jr., da Embrapa Cerrados, destacou a oportunidade de conhecer, na prática, a integração em solos arenosos. "Para mim foi uma novidade ver o sistema ILP trazendo benefícios a uma fazenda em solos arenosos, com apenas 7% de argila. E mais do que isso: ver o produtor satisfeito com o uso da tecnologia, mostrando o retorno econômico, que é o que faz a diferença", comentou.
Integração em solos arenosos
Os solos arenosos têm baixa capacidade de retenção de água, além de estrutura simples ou fraca e pouca consistência. Possuem baixa fertilidade natural, baixo pH, toxidez de alumínio no subsolo, baixos teores de matéria orgânica e alta susceptibilidade à erosão. Na região do Oeste Paulista, na maioria dos casos, os solos apresentam textura arenosa e relevo suave-ondulado ou plano, sem impedimentos à mecanização. Predominam sistemas de produção pecuária com baixa capacidade de suporte e com algum grau de degradação nas pastagens.
Segundo o pesquisador João Kluthcouski, a adoção de sistemas de ILP e de ILPF sob sistema plantio direto em solos arenosos pode reincorporar, de forma sustentável, milhões de hectares de solos frágeis ao sistema produtivo de grãos, proteína animal, madeira, biomassa, energia, entre outros, com impactos positivos para a agropecuária brasileira. Entre esses impactos, ele cita o aumento da oferta de postos de trabalho, da renda do produtor rural, do volume de produção da safra nacional e das exportações de alimentos, além da melhoria na balança comercial brasileira e da redução da pressão por desmatamento de áreas com vegetação nativa para expansão e intensificação sustentável da produção agropecuária em áreas já antropizadas.
Em 2013, a Embrapa Cerrados iniciou, em parceria com a Unoeste e a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, a implantação de sistemas de integração na Fazenda Campina, com a finalidade de transformá-la em uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) de ILP e ILPF para solos arenosos.
A implantação de sistemas de ILP no Grupo CV foi iniciada na safra 2013/14, em 447,5 hectares da propriedade, principalmente com cultivo de soja na safra e de milheto na safrinha consorciado com Brachiaria ruziziensis ou milho também consorciado com a braquiária; e, milho consorciado com braquiária (Sistema Santa Fé), destinado à produção de silagem na safra e posterior pastejo no período outono/inverno. Com área total de 2.033,15 hectares, a Fazenda Campina atingiu na safra 2015/16 cerca de 56% da área útil com lavouras de verão, sendo 49% desta em cultura de soja, com rendimento médio de 49 sacas por hectare.
"O principal resultado da adoção da ILP em fazendas de pecuária está na reforma da propriedade autofinanciada, ou seja, a colheita da soja paga todos os custos de produção, (que neste ano representaram 6 sacas por hectare no Oeste Paulista) e nos deixa uma fazenda totalmente reformada, com excelente cobertura vegetal, solos recuperados, sem erosão e com uma produção fantástica de capim, o que permite um expressivo aumento na lotação animal", explica o proprietário Carlos Viacava.
Entre os fatos mais importantes da ILP, segundo o produtor, está a formação dos "pastos de inverno", aqueles cultivados imediatamente após a colheita da soja, em consórcio com milho, milheto ou guandu, que abrigam todas as desmamas em pastos novos de elevado teor proteico, evitando totalmente o estresse normal do período seco que ocorre nos meses da desmama. "Com as bezerras bem nutridas nos pastos de inverno, conseguimos o peso médio de 294 kg, o que possibilitou submetê-las à estação de monta com idades entre 10 a 14 meses. Resultados dos toques realizados em abril indicam índice de 53,34% de prenhez para todas das bezerras da safra (680), o que significa um adicional de 367 crias a mais em 2016", aponta.
Em 2015, foi realizada a introdução da ILPF em uma área de 34 hectares em solo com 5% de argila. A espécie florestal selecionada foi o eucalipto, com arranjo espacial em renques de uma a quatro fileiras, com espaçamento de 28 metros entre renques, em alinhamento Leste-Oeste. Entre os renques, foram cultivados milho, sorgo, girassol, feijão guandu, feijão caupi e soja (solteiros e consorciados com braquiária).
A ação mais recente foi a implantação, em uma área adjacente, de outros arranjos de ILPF com mogno, cedro australiano, nim, ipê, teca, acácia e leucena, visando à exploração futura de madeira consociada com pastagens e pecuária.
Rede de Fomento ILPF
A Rede de Fomento ILPF, que é uma parceria público-privada formalizada entre a Embrapa e empresas privadas com foco em ações de transferência de tecnologia de sistemas de integração. Atualmente, compõem a Rede de Fomento ILPF as empresas Cocamar, Dow AgroSciences, John Deere, Parker e Syngenta.
Colaboração: Luiz Adriano Cordeiro
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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