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Equipamentos de baixo custo facilitam a vida do agricultor familiar
Foto: Paula Rodrigues
O agricultor familiar Antônio de Carvalho seleciona pimentão com a mesa regulada para sua altura
A pesquisa brasileira desenvolveu equipamentos para facilitar a vida do agricultor familiar, reduzindo custos, perdas com alimentos e oferecendo mais conforto. Esses equipamentos contribuem para as boas práticas na pós-colheita de hortaliças, fase que compreende seleção, classificação, limpeza, armazenamento, transporte e comercialização. Trata-se de um carrinho para transporte, uma mesa para seleção de produtos e uma unidade móvel de sombreamento, que já estão sendo utilizados em lavouras do Distrito Federal. Todos são simples de produzir, possuem baixo custo e oferecem ganhos imediatos, inclusive para a saúde do agricultor.
O aprimoramento ininterrupto dos sistemas produtivos e das técnicas de manejo por meio do aporte de tecnologia de produção é considerado primordial para que os cultivos agrícolas superem, rapidamente, os desafios que ameaçam a produtividade. Se, por um lado, é preciso aumentar a disponibilidade de alimentos, por outro, torna-se fundamental assegurar que os alimentos não sejam desperdiçados nas etapas seguintes à produção, principalmente quando um a cada oito habitantes do planeta passa fome.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de 2011, estima que aproximadamente um terço da produção global de alimentos, ou 1,3 bilhão de toneladas, é perdido anualmente. Se, além da perda do alimento, forem considerados gastos com insumos como água e terras agricultáveis, e as emissões de gases de efeito estufa geradas durante a produção, o problema adquire proporções ainda maiores. Para dar conta de uma população mundial estimada em 9,6 bilhões de pessoas, em 2050, a produção de alimentos teria que aumentar 60%, contudo, se o desperdício fosse reduzido pela metade, um aumento de 25% seria suficiente para atender a demanda mundial por alimentos.
O desperdício de alimentos apresenta causas variadas e o estágio de desenvolvimento de um país interfere no tipo de perda. Em países desenvolvidos, cerca de um quarto dos alimentos comprados pelas famílias vai parar no lixo. Nos países em desenvolvimento, o prejuízo maior ocorre devido à inadequação da infraestrutura de pós-colheita. No caso de hortaliças e frutas, que são perecíveis e geralmente consumidas frescas, os cuidados após a colheita devem ser intensivos tanto para evitar danos mecânicos, que podem servir para entrada de microrganismos causadores de doenças, quanto para garantir as qualidades do alimento relacionadas a sabor, aroma e consistência.
O valor da sombra
"A exposição ao sol, mesmo que por períodos curtos, acelera a desidratação e o amadurecimento, tornando as hortaliças mais suscetíveis à podridão e menos atraentes para o consumidor", explica a pesquisadora Milza Moreira Lana, da Embrapa Hortaliças. Ela explica que a menor durabilidade não reduz somente o tempo disponível para o agricultor escoar a produção, como também prejudica a renda, já que produtos deteriorados possuem menor valor comercial.
A Embrapa desenvolveu uma Unidade Móvel de Sombreamento (UMS) para ajudar os agricultores a proteger a produção. Trata-se de uma estrutura simples e de baixo custo que deve ser instalada próxima à lavoura para receber as hortaliças após a colheita. Ela oferece grande vantagem já que exige muito menos recursos do que a construção de um galpão. Para Gilberto dos Santos, agricultor familiar do Núcleo Rural Pipiripau "A estrutura serve para frutas como maracujá, que estragam rapidamente debaixo do sol. Para os produtores que não têm dinheiro para construir um galpão, acaba sendo uma alternativa muito boa porque não precisamos ficar expostos para selecionar os produtos".
A temperatura interna alta em hortaliças causa danos visíveis como frutos manchados e murchos, o que aumenta as perdas. Para o casal de produtores Antônio e Maria Lucilene Martins, que mantém uma propriedade familiar no Núcleo Rural Rio Preto (DF), a barraquinha (como foi carinhosamente batizada) impede que os produtos estraguem rapidamente. "Só o fato de o sol não bater direto nas hortaliças já protege os frutos", explica Maria Lucilene que também aponta como vantagem poder classificar as hortaliças mesmo quando o tempo está chuvoso. A instalação da UMS acabou com os dias em que a classificação de hortaliças acontecia embaixo do pé de manga. "Essa ideia caiu do céu. Os vizinhos que visitam a propriedade ficam admirados e perguntam onde encontrar a barraquinha", relata Antônio.
Do ponto de vista da saúde do trabalhador rural, a UMS funciona como barreira que diminui a incidência de calor e de raios ultravioletas. "A exposição prolongada à luz solar é um risco físico para o agricultor e pode originar doenças como câncer de pele e catarata. Por isso, a utilização do equipamento repercute na qualidade do trabalho e na proteção da saúde do agricultor", avalia o médico do trabalho Osvaldo de Azevedo Monteiro Neto, especialista em ortopedia. De acordo com ele, a UMS é uma evolução do processo laboral, por ser um equipamento de proteção coletiva (EPC) que beneficia, ao mesmo tempo, vários trabalhadores.
Intervenção ergonômica
A postura inadequada e o carregamento de peso excessivo são outros problemas recorrentes ao agricultor familiar que não dispõe de recursos para a compra de maquinários. Para esse problema, foram desenvolvidos o carrinho para transporte e a mesa para seleção de hortaliças. Os pés da mesa, que são reguláveis, permitem que o agricultor faça ajustes da maneira mais confortável em função da própria altura. As paredes laterais podem ser arranjadas para se obter uma mesa com cocho (depósito de contenção) ou com bica (calha para direcionar os frutos selecionados).
"É mais fácil manusear os produtos na mesa, ao invés de nas caixas", avalia o produtor Márcio Costa, do Núcleo Rural Pipiripau (DF), para quem a regulagem em diferentes alturas facilita o trabalho e oferece mais conforto. "Além disso, podemos adaptar o equipamento de acordo com o usuário", elogia. Este equipamento ergonômico reduz o risco de o agricultor desenvolver lesões ou doenças osteomusculares, também conhecidas por DORT. "A utilização da mesa é uma medida simples, porém altamente eficaz, que adapta o trabalho ao homem e não o contrário. Contribui para o aumento da produtividade e da qualidade do trabalho, já que minimiza a sobrecarga da coluna vertebral", diz o ortopedista Monteiro Neto.
Em relação aos benefícios para as hortaliças, a mesa facilita a visualização dos frutos doentes. "Quando se colhe pimentão, por exemplo, conseguimos separar mais facilmente aqueles acometidos por antracnose. Se um pimentão doente entrar em uma caixa de frutos saudáveis, em algumas horas 80% da caixa se perde", explica o agricultor familiar Antônio de Carvalho, do Núcleo Rural Rio Preto (DF), que acrescenta: "não posso arriscar perder a produção, por isso faço a seleção na mesa".
O carrinho para transporte completa a lista de equipamentos que aprimoram a pós-colheita de hortaliças nas áreas de agricultores familiares do Distrito Federal. Ele facilita o transporte dos frutos no campo e no mercado, e também reduz o estresse físico do agricultor que não precisa carregar caixas pesadas nos ombros. "O carrinho permite colher mais rapidamente, preserva as caixas limpas e, ao evitar o contato com o solo, reduz a contaminação e a transmissão de doenças para as hortaliças", explica a pesquisadora Milza Lana.
O carrinho é considerado prático, fácil de ser transportado e suporta mais caixas empilhadas. "Agilizou o trabalho, é verdade. Mas o que vale mesmo são os três equipamentos utilizados juntos. Para nós, se comparar o antes e depois, está tudo muito bom. Ave Maria!", comenta Maria Lucilene.
Paula Rodrigues
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