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Software auxilia produtor a economizar na aplicação de defensivos
Os prejuízos com a má aplicação dos agrotóxicos podem resultar em perdas dos produtos da ordem de 40%, afirma o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) Aldemir Chaim. Para ajudar, a Embrapa criou o Gotas, um software gratuito, que auxilia a calibrar a deposição de pulverizações dos produtos fitossanitários. Ele possibilita a análise da distribuição de gotas no processo de pulverização e apresenta parâmetros para que o agricultor decida sobre a melhor combinação de bicos de pulverização, consumo de calda, velocidade de aplicação, entre outros fatores, que vão permitir aplicar adequadamente a deposição no alvo desejado.
O problema de má aplicação ocorre devido à falta de calibração dos pulverizadores ou por deriva e evaporação de gotas. Calibrar a aplicação é importante para evitar o desperdício e obter a máxima eficiência nessa atividade. "O objetivo é promover a melhoria na deposição e distribuição do defensivo nas plantas. Com a técnica, é possível reduzir o volume de aplicação, pois será utilizada apenas a quantidade exata para exterminar pragas e doenças. Assim, o produto não é desperdiçado e reduz os gastos", explica Chaim, um dos desenvolvedores da tecnologia.
A técnica adequada também garante maior segurança. Ela envolve desde a seleção do alvo da aplicação, verificação de padrão de deposição, regulagem do pulverizador e o cálculo da quantidade de agrotóxico a ser colocada no tanque de pulverização. O agricultor também deve observar as condições ambientais, como excesso de vento, previsão de chuva, além de verificar os prazos de carência dos produtos, respeitando os intervalos entre a aplicação e a colheita.
Para o piloto agrícola Eduardo Azambuja Jr., que também é proprietário de uma empresa de aviação agrícola, o Gotas é útil tanto para a melhor análise da aplicação como para obter mais eficiência. Outra vantagem, segundo Azambuja, é a possibilidade de entrega de um relatório de aplicação mais bem elaborado, juntando o relatório de voo do sistema de posicionamento global diferencial (DGPS, na sigla em inglês) e o da deposição de gotas.
Como funciona
O processo é bastante simples. O agricultor fixa cartões feitos de papel sensível na parte alta, média e baixa das plantas. Após a pulverização, os cartões são recolhidos e digitalizados para uso em computador pessoal - PC, ou fotografados para processamento por celular ou tablet. As gotas depositadas no cartão são então medidas pelo software Gotas, que verifica a quantidade que atingiu o alvo.
Os produtores devem usar um cartão comercial sensível à água para alvo de amostragem porque o programa tem um sistema de correção de fator de espalhamento específico, orienta o pesquisador João Camargo Neto, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Informática Agropecuária (SP). Os cartões sensíveis podem ser facilmente adquiridos no mercado.
O Gotas processa as imagens digitais dos cartões pulverizados, calculando parâmetros de deposição de substâncias químicas. Entre eles estão o número de gotas encontradas na amostra; número de diâmetro de gota; dispersão relativa, que é uma medida de quão diferentes são as dimensões de gotículas de uma determinada pulverização; volume de calda da amostra em litros por hectare; densidade de gotas, que representa o número de gotas por centímetro quadrado; e porcentagem de cobertura (relação entre a soma das áreas das manchas e a área total da amostra).
O programa para uso em computadores conta com ferramenta para recortar uma área da amostra e comando para salvar o experimento em formato compatível para uso dos resultados em planilhas de cálculo. Além disso, possui comandos para salvar e recuperar o experimento inteiro, com todas as imagens das amostras analisadas. Também foi desenvolvido um aplicativo em versão mais simplificada para dispositivos móveis que funcionam na plataforma Android.
Entre as várias funcionalidades, é possível observar informações de todas as manchas de gotas encontradas nas amostras e ainda eliminar as amostras indesejadas. O software inclui parâmetros de tamanho de gotas como diâmetro volumétrico 10%, diâmetro volumétrico 50% e diâmetro volumétrico 90%. Em caso de dúvidas, há um manual de utilização oferecido com o sistema.
Após obter a deposição adequada, é necessário verificar o volume de calda gasto para se colocar a dose correta de agrotóxico no tanque do pulverizador, esclarece Chaim. "Com a utilização das técnicas recomendadas pela Embrapa, o agricultor beneficiará sua propriedade, com a economia de recursos e insumos e também protegendo o meio ambiente", ressalta.
Para Allan Fell, que atua na indústria de fertilizantes foliares General Chemicals, localizada em Campo Mourão (PR), essa tecnologia é fundamental para quem precisa calibrar os pulverizadores de modo correto, evitando poluir o meio ambiente e perder dinheiro. "É uma excelente ferramenta, ainda mais sendo gratuita", destaca Fell. Segundo ele, a empresa pretende recomendar o software para seus clientes produtores de cereais, como soja, milho e trigo, por exemplo. "O manual está bem detalhado e fica bem fácil entender o funcionamento do software", acrescenta.
Como obter
As orientações sobre calibração de pulverizadores estão na publicação Manual de tecnologia de aplicação de agrotóxicos, disponível para compra na Livraria da Embrapa. Há orientação gratuita disponível na Infoteca da Embrapa, denominada Método para calibração de pulverizadores utilizados em videiras. A tecnologia Gotas pode ser obtida pela internet, sem nenhum custo. As duas versões, para PC e Android, estão disponíveis no repositório da Rede AgroLivre, a Rede de Software Livre para a Agropecuária. No site, o usuário tem acesso aos arquivos para baixar em seu computador e também na Play Store, a loja da Google onde se encontra a versão para tablet e smartphones chamada Gotas. Além dos programas, também está disponível um manual de utilização, que orienta sobre as especificações técnicas necessárias para o funcionamento do software.
Risco de contaminação
Hoje o Brasil é o líder mundial do uso de agrotóxicos, por isso é de extrema importância para o País que exista uma conscientização sobre os riscos desenvolvidos por possíveis contaminações advindas desse tipo de produto químico. As consequências estão diretamente relacionadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente e, apesar das diversas indicações de controle do uso, ainda existem incertezas a respeito dos impactos causados. Devido a esse fato, muitas pesquisas têm se voltado para a análise e monitoramento desses impactos, de maneira a garantir a sustentabilidade dos sistemas de produção agropecuários que utilizam agrotóxicos.
Um dos principais modos de estabelecer um nível de segurança aceitável para o uso de agrotóxicos é por meio de reavaliações, realizadas periodicamente pelos órgãos reguladores, baseadas em informações toxicológicas e ambientais geradas ao longo do período de uso dessas substâncias na agricultura. As reavaliações conduzidas pelos órgãos reguladores são importantes, pois permitem identificar riscos associados ao uso dos pesticidas que não foram observados no momento do registro destes produtos.
Assim, possíveis efeitos adversos gerados por processos de transporte como a lixiviação, atingindo águas subterrâneas, e o escoamento superficial podem ser avaliados com base na ciência atual e medidas de controle e mitigação podem ser tomadas evitando maiores impactos sobre a saúde humana e o meio ambiente.
Algumas culturas específicas merecem maior atenção, seja pela intensidade de uso de agrotóxicos ou pelo tamanho da área agrícola. No caso do milho, da soja e da cana-de-açúcar, por exemplo, o risco está mais associado à grande extensão dessas áreas, o que faz com que se apresentem como fontes potenciais de contaminação. Já culturas como a de tomate e batata, apesar de ocuparem áreas pouco extensas, usam produtos químicos de maneira intensiva no cultivo, o que também as coloca numa posição de destaque.
"Para o uso adequado de agrotóxicos é de extrema importância que o produtor siga as instruções contidas na bula do produto. Respeitar o intervalo de segurança entre a última aplicação e a colheita, as distâncias mínimas entre a área aplicada e os cursos d´água, são medidas que trazem segurança à saúde humana e ao meio ambiente. Também é importante que o produtor rural siga um programa de manejo integrado de pragas, incorporando práticas culturais e insumos com menor toxicidade, como no controle biológico. O uso de agrotóxicos deve ser feito de forma criteriosa e somente nas situações em que outras práticas não podem ser adotadas", alerta o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Robson Barizon.
Eliana Lima (MTb 22047/SP)
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