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Melhoramento genético desenvolve batata-doce para produção de chips
O desenvolvimento de cultivares de batata-doce mais apropriadas para uso industrial, destinadas à produção de chips é um dos focos do programa de melhoramento genético da Embrapa Hortaliças (DF). Com as novas oportunidades de mercado, a pesquisa busca obter materiais genéticos recomendados para o processamento industrial e, assim, agregar valor e fomentar o consumo com base na versatilidade desse alimento.
Além de mirar o incremento do potencial produtivo e a obtenção de maior percentual de raízes com valor comercial − aspectos que interessam o setor produtivo, o programa também prevê análises de viabilidade para uso industrial, como testes de pós-colheita, e sensoriais para avaliar a aceitação das cultivares pela indústria e pelos consumidores, como explica a pesquisadora Larissa Vendrame, líder do programa de melhoramento: “os nichos de mercados também devem ser considerados, a exemplo da tradição do doce de batata-doce roxa nos estados de Minas Gerais e São Paulo, e dos suplementos alimentares à base desse produto”. Nesse sentido, cada vez mais o aspecto nutricional da batata-doce conquista segmentos de público, principalmente por conter carboidratos de baixo índice glicêmico com liberação lenta no organismo, que mantém, por mais tempo, a sensação de saciedade.
O espaço conquistado pela batata-doce pode ser observado nas gôngolas dos supermercados, em algumas poucas marcas nacionais, geralmente do interior paulista, que apostaram no apelo desse alimento e no crescimento desse nicho. Além do marrom-glacê, atualmente o consumidor já encontra a batata-doce processada na forma de palha e chips. “No mercado norte-americano, também há ofertas de batata-doce palito e essa tendência deve chegar em breve ao Brasil”, vislumbra Larissa, ao mencionar que o processamento industrial também é uma forma de diminuir as perdas no campo e aproveitar raízes que seriam descartadas por não atingir o padrão comercial para a venda a granel.
A pesquisadora acredita que o próprio programa de melhoramento genético vai fornecer subsídios e informações necessárias para a seleção das características mais importantes para a qualidade do processamento industrial. Contudo, ela adianta: “a cultivar deverá apresentar produtividade, resistência às pragas, capacidade de armazenamento, uniformidade de formato e tamanho, resistência ao esfolamento na colheita e na lavagem e, principalmente, bom desempenho nos seguintes aspectos − matéria seca, cor da polpa, sabor e textura”.
Para atender as carências do setor produtivo, em paralelo ao desenvolvimento das novas cultivares, está no escopo do programa a realização de testes para propor ajustes no sistema de produção da cultura em favor da obtenção de melhores produtividades.
Embora a espécie seja originária das Américas, na época do descobrimento do continente e das grandes navegações, a batata-doce ganhou o mundo e, atualmente, são os países asiáticos que despontam com altos índices de produtividade, em virtude, principalmente, do nível tecnológico adotado pelo setor produtivo. Nos últimos anos, a média brasileira tem girado em torno de 13 toneladas por hectare, enquanto na Ásia, especialmente na China, os números atingem valores até três vezes maiores.
Segundo a pesquisadora Larissa, esse cenário é retrato de dois fatores centrais: material genético e manejo da cultura. “Uma cultivar com alto potencial genético pode causar um impacto direto na produtividade, mas há também necessidade de propor ajustes nos tratos culturais para obter um melhor desempenho”, assinala a agrônoma ao enumerar as áreas que serão contempladas na execução do projeto: adubação, irrigação, sistema de plantio, controle de plantas espontâneas, tecnologias para colheita mecanizada e produção de mudas.
Melhorias no sistema de produção
A batata-doce é considerada uma cultura rústica, por ser pouco exigente em adubação e apresentar boa tolerância ao deficit hídrico. Essa característica é uma virtude, especialmente em tempos de alterações climáticas que sinalizam longos períodos de aridez. Entretanto, se conduzida com recomendações técnicas específicas, a cultura pode apresentar rendimentos ainda melhores neste ou em outros cenários.
Por isso, a expectativa do programa de melhoramento genético é que, com a adoção de práticas de manejo adequadas, somada a novas cultivares mais produtivas e resistentes, haja incremento na produção brasileira de batata-doce que, atualmente, alcança cerca de 500 mil toneladas por ano, valor mediano na cena mundial, mas muito distante da cifra chinesa de 70 milhões de toneladas. Em termos percentuais, por continente, a Ásia responde por quase 87% da produção mundial, seguida da África com 10%, da América com pouco mais de 2% e da Oceania com 0,5% − os países europeus não apresentam produção significativa.
Vincular o desenvolvimento e a validação de novas cultivares com estudos dos melhores parâmetros para o sistema de produção também favorece o estabelecimento de novas áreas de cultivo e a melhoria do nível tecnológico dos produtores rurais. “Hoje, apesar de o Rio Grande do Sul atingir a maior produção, o estado de Mato Grosso possui melhor produtividade, com índice três vezes superior à média nacional, devido ao maior nível tecnológico empregado nas lavouras”, contextualiza a pesquisadora.
Além da busca por maior produtividade, demanda primária de todo e qualquer produtor rural, a aprovação de um programa de melhoramento genético também favorece a geração e a manutenção da variabilidade genética e novas combinações, a partir do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de batata-doce, que tem o objetivo de coletar, conservar e caracterizar diferentes materiais. “Essa atividade é importante para assegurar a diversidade da cultura e reduzir os riscos de epidemias de pragas e doenças, principalmente porque a propagação ocorre de forma vegetativa, por meio de ramas de lavouras anteriores”, explica o pesquisador Alexandre Mello, da área de Virologia da Embrapa Hortaliças, ao sinalizar a preocupação com a origem e sanidade das ramas utilizadas em novos plantios.
Outro ponto importante da propagação vegetativa é que ela dispensa o agricultor de comprar novas mudas a cada safra, o que deixa a batata-doce à margem dos interesses privados de empresas multinacionais de sementes e demais insumos agrícolas, e torna ainda mais relevante a existência de um programa público de melhoramento genético de batata-doce.
Múltiplos usos
A principal forma de consumo de batata-doce entre os brasileiros são raízes compradas frescas e preparadas de diferentes maneiras: cozida, assada, frita, entre outras. Estima-se que anualmente, no Brasil, o consumo supere pouco mais de 600 gramas por habitante, valor muito baixo quando comparado ao vizinho Uruguai que, inclusive, importa o produto para vencer o consumo médio de cinco quilos por habitante a cada ano.
Para favorecer o aumento do consumo, a pesquisa na área de melhoramento genético de batata-doce também visa à melhoria do formato e à qualidade das raízes, fatores que estão diretamente relacionados ao mercado consumidor. “Durante visitas técnicas a países com programas consolidados, como Estados Unidos e Uruguai, foi possível observar a demanda por cultivares com uma dupla camada de pele para proteger as raízes contra danos nos processos de colheita e lavagem”, conta Larissa que relaciona esse atributo à garantia de um melhor padrão comercial.
No geral, a expectativa é que o programa de melhoramento genético de batata-doce ofereça contribuições significativas para o desenvolvimento sustentável da produção da batata-doce no Brasil, com aumento da produtividade, da rentabilidade do agricultor, especialmente de base familiar, e da segurança alimentar nas diversas regiões brasileiras.
“Com a disponibilização de novas cultivares, poderá haver melhoria na produtividade e na qualidade do produto, adequação de características para fins de processamento, presença de genes de resistência a doenças e pragas, entre inúmeros outros fatores benéficos à consolidação da importância socioeconômica da batata-doce no País”, assinala a pesquisadora.
Nova publicação
Foi lançado, recentemente, o livro “Hortaliças de propagação vegetativa: tecnologia de multiplicação” que, além de informações sobre espécies como batata, morango, alho e mandioquinha-salsa, reúne as recomendações agronômicas e os avanços tecnológicos relacionados à multiplicação e à produção comercial de ramas sadias de batata-doce, bem como detalhes para o estabelecimento da lavoura. A publicação é uma base de consulta para a cadeia produtiva dessas hortaliças e está disponível na Livraria Embrapa.
Paula Rodrigues (MTb 61.403/SP)
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Mais informações sobre o tema
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