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Pesquisa comprova extensa variabilidade genética de cavalo Pantaneiro
Uma análise de pedigree realizada pela Embrapa em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Pantaneiro (ABCCP) revelou que a raça possui uma grande diversidade genética quando comparada a outras do país. De acordo com o pesquisador Samuel Paiva, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a equipe avaliou por três anos os dados de pai, mãe e prole de cavalos registrados na Associação desde sua criação até 2009 para chegar a essa conclusão.
“A análise de pedigree é uma das mais simples do ponto de vista genético. Avaliamos a genealogia dos animais e, a partir desses dados, conseguimos ver o quanto eles são mais próximos ou mais distantes entre eles. Dessa forma, a gente consegue visualizar quais seriam as principais famílias, as que são fundadoras da raça, atualmente. Essa questão é fundamental para discutir a endogamia (acasalamento entre indivíduos aparentados, geneticamente semelhantes) dentro do rebanho”, diz o pesquisador.
Com a análise de pedigree feita em mais de 11 mil animais, Paiva afirma que o cavalo Pantaneiro possui baixos graus de consanguinidade, de forma geral. De acordo com o pesquisador, os estudos identificaram 11 “famílias” dentro da ampla variabilidade genética verificada na raça. Paiva ressalta que, neste momento, a empresa de pesquisa discute com criadores as possibilidades para a cessão de sêmen de garanhões de cada uma das famílias identificadas para o banco genético da Embrapa com o objetivo de subsidiar pesquisas futuras.
Contato com criadores
Os dados das pesquisas foram discutidos durante um encontro com cerca de 30 produtores rurais e representantes da ABCCP na cidade de Campo Grande (MS). A pesquisadora Sandra Santos, da Embrapa Pantanal, conversou com o grupo sobre a criação de um núcleo de reprodução que reúna garanhões dos 11 grandes grupos genéticos da raça. “Essa ideia surgiu a partir da demanda de um criador, que nos procurou para falar sobre a preocupação com o ‘afunilamento’ da raça. Isso mostra que eles têm interesse em manter a diversidade”, afirma.
Para Santos, a consanguinidade entre os animais gera perdas de características relacionadas a desempenho, produtividade e adaptação, entre outros fatores. “Esse trabalho de investigação genética e análise de pedigree é a base para realizarmos cruzamentos planejados e melhoramentos futuros. Podemos buscar formas de levar a raça a uma grande produtividade, mas temos que respeitar a diversidade ao mesmo tempo. Acho que podemos aliar as duas coisas”.
Entre os participantes do encontro estava Paulo Freitas, presidente da ABCCP, que abordou o estágio em que está a criação do núcleo de reprodução. “Nós temos uma estrutura bastante razoável em Poconé (MT), com baias, espaço para pastar e pessoas para cuidar dos animais”, afirma. “A ideia seria conversar com os criadores para disponibilizar esses garanhões e trabalhar com recomendações técnicas sobre os melhores cruzamentos para cada caso, buscando genéticas mais distantes do criatório de cada um”.
Reunião de informações
Como forma de facilitar o armazenamento e o acesso à documentação dos programas de recursos genéticos animais, vegetais e microbianos da Embrapa, foi criado o sistema Alelo – um software desenvolvido para armazenar de maneira conjunta as informações coletadas pelo Brasil, Canadá e Estados Unidos. “A partir dessa ferramenta, os criadores podem selecionar o material genético adequado para o acasalamento dos seus animais e diminuir a possível consanguinidade da raça”, diz Paiva.
“O software mostra em que tubo, freezer e sala está o material coletado pelos pesquisadores, por exemplo, como se fosse um depositório de informações. Não se pode ter um programa de conservação de recursos genéticos eficiente sem um sistema inteligente de apoio. Com o Alelo, queremos otimizar o programa de conservação de forma que ele seja aberto ao público: qualquer um pode entrar no sistema e ajudar os curadores, incluindo dados. A ideia é fazer com que as informações estejam sempre disponíveis para quem precisa”, completa o pesquisador.
Utilizando outra alternativa com um objetivo semelhante – o de reunir e disponibilizar informações sobre o patrimônio genético brasileiro – a Embrapa Pantanal lançou o livro “Cavalo Pantaneiro: rústico por natureza”. A publicação é uma enciclopédia com dados de quase 30 anos de pesquisas sobre o animal. “A raça hoje tem todo esse trabalho documentado e isso não vai se perder. Daí para a frente, muitos poderão usar essas informações como base e dar sequência aos trabalhos”, afirma José Comastri Filho, pesquisador da unidade e um dos editores, assim como as pesquisadoras Sandra Santos e Suzana Salis, do material.
Segundo Paulo Freitas, o diálogo mais recente entre os criadores e os pesquisadores envolvidos nessas iniciativas resultou em um valioso intercâmbio de informações entre todos. “Nós estávamos achando que esses animais estavam em um processo de retrocruzamento. Agora, vemos o contrário. Há uma variabilidade genética que oferece centenas de milhares de cruzamentos possíveis em uma raça genuinamente nacional, forjada por séculos no Pantanal. É preciso preservar, guardar, desenvolver”.
Nicoli Dichoff (Mtb 3252/SC)
Embrapa Pantanal
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