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Inoculante feito na propriedade rural aumenta produtividade de feijão-caupi em até 33%
O agricultor pode produzir seu próprio inoculante bacteriano que promove a fixação biológica de nitrogênio, gerando economia e aumento na produtividade da lavoura de feijão-caupi. Desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Agrobiologia (RJ), a prática permite a fabricação na própria fazenda a partir de raízes das plantas. O estudo conduzido ao longo de três anos mostra que é possível alcançar um aumento de até 33% na produtividade das lavouras de feijão-caupi, ficando no mesmo patamar que a produção alcançada com o uso do inoculante comercial. “Nosso objetivo é levar ao agricultor familiar as vantagens da fixação biológica de nitrogênio”, esclarece a pesquisadora Norma Rumjanek, que coordenou a pesquisa.
A inoculação é uma técnica consagrada no Brasil para a cultura da soja, gerando economia da ordem de sete bilhões de dólares por ano. Para outras culturas de grãos, no entanto, está longe de atingir um patamar significativo, especialmente na agricultura familiar. A nova técnica não pretende substituir a utilização dos inoculantes comerciais, mas é uma alternativa para o pequeno agricultor que usualmente não tem acesso a esses produtos.
A vantagem proporcionada pela pesquisa é que, em vez de o produtor adquirir o inoculante comercial, ele pode fazer o seu próprio a partir de raízes noduladas. A técnica é simples: com o uso de um liquidificador doméstico, extrai-se o líquido das raízes finas noduladas de feijão-caupi e depois aplica-se esse extrato nas sementes antes do novo plantio. A proporção é de um para quatro, ou seja, com um copo do tipo americano (250 ml) de raízes, é possível inocular cerca de 800 gramas de sementes.
Além da vantagem de não haver custos para o produtor, como a prática aproveita as bactérias que já estão bem adaptadas às condições da área de produção, a possibilidade de sucesso é ainda maior, segundo os pesquisadores. “Esse tipo de preparação, ao conter nódulos ativos e raízes, veicula, além das estirpes que realizam a FBN, outros microrganismos localmente adaptados às condições de solo e clima, bem como às variedades locais”, explica a pesquisadora.
Norma Rumjanek enfatiza que o extrato deve ser obtido a partir de plantas cultivadas em solo com histórico de boa nodulação. “Em um solo rico em matéria orgânica, há mais chance de se encontrar maior quantidade de microrganismos”, pontua a pesquisadora. Ela explica que a eficácia da inoculação alternativa é decorrente do processo natural de seleção e também da presença da diversidade microbiana que desempenha uma série de funções benéficas para a planta como a solubilização de fosfato e o aumento da superfície radicular.
Outra recomendação é que a aplicação se restrinja à unidade produtiva da qual tais nódulos são retirados, para evitar uma possível disseminação de microrganismos patogênicos. “Não se deve coletar raízes de áreas que tenham tido problemas de doença de solo, para evitar a disseminação de patógenos. Deve ser selecionada uma área sem histórico de quaisquer dessas doenças”, recomenda Rumjanek.
Em três anos de estudos, os pesquisadores montaram oito experimentos com feijão e feijão-caupi e nunca foram encontrados organismos causadores de doenças que pudessem ter vindo dessa inoculação. “Pelo contrário, as plantas de um modo geral foram mais saudáveis nesses plantios”, complementa a pesquisadora.
Auxílio no crescimento da planta
O processo de fixação biológica de nitrogênio é importante para suprir total ou parcialmente a demanda da cultura por nitrogênio, diminuindo a necessidade de utilização de adubo nitrogenado. Com o inoculante alternativo, o agricultor familiar vai poder potencializar este processo que ocorre naturalmente nas lavouras de feijão-caupi. “Além disso, o inoculante alternativo feito com extrato de raízes noduladas traz outros benefícios para a lavoura, como, por exemplo, a promoção de crescimento vegetal desempenhada pelos microrganismos”, explica Rumjanek.
A agricultura familiar é responsável por 60% da produção de alimentos no Brasil. Porém, em função do acesso limitado às tecnologias e do uso reduzido de insumos externos, os níveis de produtividade alcançados são, em geral, mais baixos do que os obtidos pela agricultura empresarial. Norma Rumjanek salienta que a aplicação de microrganismos benéficos, como os do grupo rizóbio encontrado no feijão-caupi, pode favorecer a reversão desse quadro, melhorando a produtividade sem elevar os custos de produção.
Produtores se entusiasmam com a técnica
Os produtores que conheceram a técnica ficaram entusiasmados. É o caso do agricultor familiar Umberto Barroso, da localidade de Santa Rosa, em Itaguaí (RJ). “Nunca tinha ouvido falar, mas vou experimentar. Todo conhecimento vale para aplicar e obter um produto mais natural e aumentar a produção”, afirmou. Barroso participou de um treinamento com outros 30 agricultores dos municípios fluminenses de Seropédica, Nova Iguaçu, Paracambi, Itaguaí e Magé.
O produtor rural Luiz Carlos Santos, sergipano que se instalou em Paty do Alferes (RJ) e lá mantém um sítio para produção de maracujá, aipim e algumas hortaliças, ainda não testou a inoculação alternativa, mas está entusiasmado com a possibilidade de aumento da produção. Ele já trabalhou com a cultura anteriormente e está confiante na nova técnica. “Eu vim da terra do caupi e já plantei aqui, mas nunca tinha ouvido falar desse inoculante. Vou testar para ver se funciona mesmo”, conta.
Em dois experimentos realizados durante a pesquisa com aplicação de raízes finas noduladas de feijão-caupi da variedade Costelão, em Seropédica e em Paty do Alferes, foram obtidas produtividades de 780 quilos por hectare e 1.360 quilos por hectare, respectivamente, com aumento médio de 20% em relação ao tratamento controle (sementes não inoculadas). As aplicações de inoculante ou de preparados à base de raízes finas noduladas resultaram em aumento de cerca de 70 caixas de vagens verdes (padrão Ceasa-RJ) para a região de Seropédica na colheita de inverno e de quase 200 caixas a mais, na região de Paty do Alferes, na colheita de verão.
Como obter o preparado de raízes finas noduladas
A prática desenvolvida pelos pesquisadores é simples. Porém, o agricultor precisa estar atento a algumas etapas do processo, como a seleção da área de onde serão obtidas as raízes finas noduladas, pois devem possuir bom histórico de ocorrência de nódulos e não ter registro de doenças.
Para obter o extrato de raízes finas, o ideal é fazer um pré-plantio das sementes em vasos ou canteiros com solo da área que será cultivada. A partir dessa nova planta é que será feito o inoculante alternativo. “É importante utilizar nos canteiros ou nos vasos as sementes da mesma cultivar ou variedade de feijão-caupi que serão empregadas na lavoura programada”, explica Rumjanek.
Uso de inoculantes no Brasil O inoculante é um produto que contém grande quantidade de bactérias que fazem muito bem às lavouras. Ele intensifica o processo natural da fixação biológica de nitrogênio (FBN), através do qual bactérias que vivem no solo se associam às plantas, captam o nitrogênio do ar e o transformam em alimento para a planta. Num pacote de inoculante, as bactérias estão em grande quantidade e este processo da FBN se torna ainda mais intenso. Segundo a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII), são comercializadas anualmente aproximadamente 40 milhões de doses de inoculantes no Brasil. Deste total, 34 milhões de doses são para a cultura da soja e outros dois milhões para gramíneas (entre elas o milho e o trigo). |
Ana Lucia Ferreira (MTb 16.913/RJ)
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