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05/05/15
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Gestão ambiental e territorial
A dinâmica das inundações do Pantanal em tempo real
Dois sistemas desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa na região do Pantanal estão popularizando informações técnicas, incentivando a sociedade a se familiarizar com os dados científicos e ajudando-os a tomar decisões de forma mais completa e segura.
O trabalho coordenado por Carlos Roberto Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, desenvolvido pela Unidade e parceiros oferece uma série de alternativas para auxiliar a tomada de decisão de quem é influenciado diretamente pelas cheias.
O Sismopan e o GeoHidro-Pantanal foram criados dentro do projeto AgroHidro, da Embrapa, que investiga os impactos da agricultura, pecuária e mudanças climáticas sobre os recursos hídricos. Eles disponibilizam informação sobre a hidrologia local de forma amigável, usando mapas, imagens de satélite, figuras, desenhos e animações para que o público leigo possa assimilar essa informação.
"Por meio dessas ferramentas também é possível interagir com o público, incorporando esse retorno à pesquisa para torná-la mais participativa e prática, " explica Carlos Roberto Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal.
Essas iniciativas envolvem formas de monitoramento, interpretação e disponibilização de dados hidrológicos e meteorológicos (do ponto de vista geográfico) para a bacia do Alto Paraguai – Pantanal. A base das análises é feita pelo Sistema de Monitoramento do Pantanal (Sismopan). A equipe da Embrapa também utiliza as mídias sociais e um visualizador de mapas interativo, chamado GeoHidro-Pantanal, para exibir essas informações e disponibilizá-las gratuitamente na internet.
Entre longos períodos de seca e cheia, moradores ribeirinhos e criadores de gado ficam sujeitos a extremos ambientais pelos quais passam todos os anos no Pantanal. Ainda que as inundações e estiagens da região aconteçam de forma natural e os moradores locais estejam familiarizados com essa dinâmica, o conhecimento científico antecipa informações sobre eventos extremos, ajudando a adaptar as atividades humanas às terras pantaneiras.
De acordo com Padovani, essas ferramentas são pioneiras na leitura, análise e disponibilização de informações hídricas para esta bacia hidrográfica. "Os modelos hidrológicos em geral não são feitos para regiões como o Pantanal, são feitos para outras áreas – e são áreas bem drenadas, com rios que sempre recebem água, localizados em vales. O Pantanal é totalmente inverso: os rios mudam de lugar, às vezes estão mais altos que a planície. É uma área alagada muito grande, com diversos processos hidrológicos que não acontecem em outras regiões", afirma.
Sismopan
O Sistema de monitoramento do Pantanal (Sismopan) integra dados de chuva, nível dos rios e áreas inundadas (obtidos a partir de imagens de satélite) para entender a dinâmica das cheias pantaneiras em tempo real. O sistema também considera previsões climáticas. "Ele gera informação para podermos emitir os alertas de nível do rio que elaboramos e acompanhar a cada ano as inundações", diz Padovani.
Segundo o pesquisador da Embrapa Pantanal, esses alertas são conhecidos e esperados pela população local. Por isso, são lançados pela instituição a cada novo ciclo de cheia, disponibilizados com mapas e previsões sobre o nível do rio Paraguai – por motivos que vão da segurança das populações ribeirinhas à manutenção da produção agrícola, pesqueira e pecuária local.
Como parte do Sismopan, Padovani afirma que um sistema informatizado de previsão de níveis dos rios da bacia do Alto Paraguai está em desenvolvimento por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
De acordo com Edson Matsubara, professor da Faculdade de Computação da universidade, a equipe utiliza o modelo de aprendizagem de máquina, "treinando" o algoritmo do sistema com dados atuais para garantir uma resposta satisfatória sobre os níveis dos rios no futuro. "Quanto mais próximo dos rios maiores, como o Paraguai e o Cuiabá, mais precisa é a nossa previsão (...). A gente consegue prever o nível com uma variação de até 5 centímetros em alguns pontos do rio", afirma Matsubara.
GeoHidro-Pantanal
Outro componente do Sismopan é o visualizador de mapas GeoHidro-Pantanal, que divulga as informações emitidas pela Embrapa Pantanal e outras instituições de pesquisa.
O GeoHidro, desenvolvido em parceria com o Centro Internacional de Hidroinformática (CIH), da Fundação Parque Tecnológico Itaipu, é um software gratuito, online e interativo que disponibiliza dados geográficos e hidrológicos da região pantaneira por meio de mapas e imagens. O GeoHidro-Pantanal é semelhante ao Google Earth e permite o acesso às informações técnicas de maneira simples e personalizada, segundo Fagner Oliveira, analista de sistemas do CIH que desenvolveu a plataforma.
Para isso, Fagner explica que as informações são exibidas em um sistema de camadas, em que o usuário escolhe o que deseja visualizar. Essas camadas estão divididas em quatro temas principais: vegetação e uso da terra, precipitação (com informações sobre as principais chuvas que influenciam as cheias locais), inundação e camadas de referência (com dados sobre estradas principais, municípios e localização de fazendas).
Também é possível visualizar mais de um tema ao mesmo tempo para uma compreensão completa e integrada dos dados. Além disso, algumas das informações da ferramenta são divulgadas em uma página do Facebook (também chamada de GeoHidro-Pantanal), criada em parceria com a Embrapa Informática Agropecuária e a Embrapa Meio Ambiente.
"Essa é uma vantagem das aplicações de informação geográfica: elas permitem que você perceba coisas que não conseguiria ver quando olha uma planilha ou uma tabela. Você tem percepções que poderia não ter se estivesse apenas lendo um texto, por exemplo", diz Fagner Oliveira.
Segundo o analista de sistemas, o GeoHidro-Pantanal foi criado a partir de um conjunto de tecnologias e softwares livres, podendo ser adaptado a outras regiões do País ou áreas de pesquisa. Para Oliveira, essa é uma forma de aproveitar os recursos computacionais para atender às demandas da sociedade.
Informação para quem?
Diante de condições ambientais muito particulares, a população ribeirinha pantaneira e os criadores de gado da região precisam adaptar suas vidas, moradias e atividades comerciais às drásticas mudanças pelas quais o bioma passa a cada novo ciclo de seca e cheia. A maior planície alagável do planeta fica inundada, aproximadamente, de fevereiro a maio no Pantanal norte e de março a agosto na porção mais ao sul do bioma. Próximo à cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, existem diversas comunidades ribeirinhas e várias propriedades rurais que contam com a divulgação de informações sobre a dinâmica das águas nesse período.
No caso dos ribeirinhos, por exemplo, os dados ajudam a viabilizar a permanência nos locais tradicionalmente ocupados por essas comunidades. Denir Marques, presidente da Associação dos Ribeirinhos da Barra do São Lourenço, nasceu e foi criado na comunidade que abriga 26 famílias e fica a cerca de 210 km de Corumbá. Ele diz que fica atento aos alertas de nível de rio lançados pela Embrapa Pantanal porque, mesmo com a experiência adquirida por quem vive há muitos anos na região, é preciso considerar as informações geradas pela pesquisa. "A gente tem um conhecimento de vida, mas existem muitas coisas em que os estudiosos podem ajudar ou melhorar o conhecimento que a gente tem. Então, para nós, isso é bem-vindo".
Já os pecuaristas precisam decidir se irão movimentar os rebanhos para locais mais altos, longe da inundação, quando e por quais caminhos irão levá-los. Antônio Barroso de Castro, que possui cerca de 1.200 animais no Pantanal do Nabileque, diz que pagou em média R$ 50,00 (por cabeça de gado) para levar esse rebanho até sua propriedade na região de Aquidauana (MS) durante a última enchente. Para não perder dinheiro, Antônio afirma que procura informações sobre a dinâmica das águas pantaneiras frequentemente. "Na época, com 30 dias de antecedência, eu tinha certeza absoluta que ia dar alagamento", diz o pecuarista. "O camarada tem que estar informado. Você não pode ter preguiça de ter um computador e olhar na internet o que está acontecendo".
Acesse o visualizador de mapas GeoHidro-Pantanal pelo link sigpantanal.cpap.embrapa.br.
Nicoli Dichoff (MTb 3252/SC)
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