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05/12/17 |   Produção vegetal  Fixação Biológica de Nitrogênio

Consórcio com gliricídia dobra produtividade de milho

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Foto: Fernanda Birolo

Fernanda Birolo -

Experimentos recentes realizados pela Embrapa no Semiárido sergipano mostraram aumento da produção de milho quando cultivado em consórcio e adubado com biomassa da leguminosa Gliricidia sepium. Mesmo nas regiões em que as chuvas são escassas, a introdução da leguminosa aumentou em até 100% a produção sem o uso de fertilizante mineral.

A gliricídia tem demonstrado grande potencial como fornecedora de nitrogênio ao solo, podendo substituir total ou parcialmente o uso de fertilizantes nitrogenados. Vinda do México e América Central, essa planta possui elevada concentração de nitrogênio nas folhas e permite a fixação simbiótica desse nutriente ao solo por meio de bactérias existentes em suas raízes.

Trabalhos  desenvolvidos nos últimos anos por pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) têm reforçado essa capacidade da leguminosa de melhorar a fertilidade e fixar nitrogênio ao solo.

A gliricídia apresenta teores de proteína em torno de 23% e produz até 70 quilos de matéria verde por ano. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Cristiane Otto de Sá, a gliricídia é uma espécie de “ouro verde” para as regiões secas. “Ela é resistente a esse clima rigoroso e pode ser usada para recuperar e manter a temperatura do solo, além de servir como cerca viva. Na alimentação de ovinos e bovinos, situações em que é altamente recomendável, essa leguminosa consegue reduzir em 70% o uso do farelo de soja, que representa elevado custo na ração animal.”

Gliricídia com milho

Pesquisas mais recentes buscam verificar a relação da gliricídia como fornecedora de nitrogênio e o seu impacto na produção. Os últimos estudos duraram três anos e foram conduzidos no campo experimental da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) em Nossa Senhora da Glória, no Semiárido sergipano. Nesse período, a adubação com diferentes quantidades da biomassa de gliricídia (0, 25, 50, 75, 100%) foi testada em cultivos consorciados com o milho e comparada sob o efeito de diferentes níveis de nitrogênio (0, 50 e 100 kg N/ha).

Os resultados demonstraram 100% de aumento da produção de milho no experimento consorciado com o milho e adubado com a biomassa de gliricídia sem adição de fertilizante nitrogenado. Nele, a produção de 1.250kg/ha passou para 2.500kg/ha. No experimento solteiro do milho e adubado com 50kg/ha de nitrogênio químico, a produção foi de 4.500kg/ha. Ao acrescentar 100% de gliricidia à adubação química, o ganho foi de 21%, representando incremento de 900 quilos.

De acordo com o pesquisador da Embrapa José Henrique de Albuquerque Rangel, os dois resultados são animadores. “O uso de um ou de outro tipo de adubação vai depender da capacidade de investimento do produtor”, conta o pesquisador que, mesmo fazendo um cálculo conservador, acredita que a inserção do nitrogênio químico compensa em virtude do retorno após a contabilização dos custos com ureia e mão de obra.

Rangel explica que esses dados mostram a eficiência da adubação com a gliricídia em níveis moderados de fertilizações nitrogenadas na cultura do milho. Ele lembra que “despesas com o fertilizante tendem a diminuir porque o nitrogênio vai acumulando no solo com o passar dos anos.”

A pesquisa também mostrou que as plantas de milho mais produtivas estavam localizadas nas fileiras mais próximas das árvores de gliricídia. O pesquisador infere que essa relação entre maior produtividade e proximidade da leguminosa se deve ao nitrogênio agregado ao solo em virtude da morte e incorporação natural das raízes finas da gliricídia.

Importância social

A pesquisa ainda sugere questionamentos. Como a gliricidia pode ser utilizada na alimentação animal como fonte de proteína e no fornecimento de nitrogênio para as culturas agrícolas consorciadas, existe uma situação de conflito que precisa ser analisada diante de cada realidade. Essa análise é necessária para determinar quanto de biomassa de gliricídia deve ser repassado para a alimentação animal e quanto deve permanecer no solo contribuindo para a fertilidade. Apesar dos desafios, a pesquisadora Cristiane Otto de Sá comemora os resultados.

“Vimos que com o plantio consorciado e a inserção da biomassa na adubação é possível aumentar em 100% a produção. Isso é importante porque grande parte dos agricultores familiares não tem condições de utilizar nenhum tipo de fertilizante nitrogenado”, diz Cristiane Sá, ressaltando que para sistemas familiares de base agroecológica é fundamental reduzir a dependência de insumos externos, entre eles, o adubo nitrogenado.

Capacitações no sertão

Para disseminar o uso dessa leguminosa, em paralelo às pesquisas de campo foram organizados cursos e dias de campo para agricultores familiares do Alto Sertão Sergipano. Essas capacitações envolveram desde plantio, cultivo e os diversos usos da gliricídia. “Os agricultores que conhecem a gliricídia usam essa planta prioritariamente na alimentação animal. Estamos tentando diversificar esse uso, mas o importante é que a leguminosa está entrando nas propriedades”, acrescenta a pesquisadora.

Esses agricultores que participaram da capacitação fazem parte do Movimento Pequeno Agricultores (MPA), que é uma organização existente em vários estados brasileiros. A agricultora Elielma Barros de Vasconcelos, 35 anos, faz parte da direção estadual do MPA em Sergipe. Ela diz que os benefícios da gliricídia na alimentação animal já foram comprovados e espera em breve voltar a fazer o plantio consorciado com o milho. Elielma relata que o experimento feito há dois anos não foi satisfatório em virtude da forte seca que prejudicou o milho. “Foi uma pena, mas pretendemos fazer novamente porque estamos tendo bom retorno da gliricídia com a palma. Os agricultores do MPA mantêm um viveiro, em Poço Redondo, no qual foram produzidas 7 mil mudas. “O objetivo é produzir mais e utilizar a gliricídia em todas as suas formas”, explica Elielma.

Gliricídia com coco

O experimento avaliou o crescimento de coqueiros híbridos consorciados com plantas de gliricídia que também foram usadas como adubação verde. A pesquisa durou 34 meses em cultivo de sequeiro no Campo Experimental de Itaporanga D´Ajuda, região centro-sul de Sergipe. O objetivo foi verificar a possibilidade de substituição total ou parcial de fertilizantes nitrogenados na cultura.

Para isso, os pesquisadores optaram pelo plantio da gliricídia em três densidades – 4, 8 e 12 plantas. A adubação verde foi feita após o primeiro ano com a biomassa retirada da gliricídia e as seguintes realizadas a cada seis meses com o depósito da biomassa na zona de coroamento do coqueiro. Nos tratamentos consorciados, o nitrogênio foi fornecido unicamente pela adubação verde. Em relação ao uso da adubação química, foi adotado 33%, 66% e 100% da recomendação de nitrogênio, aplicado na forma de ureia.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Humberto Rollemberg Fontes, os resultados obtidos durante as cinco avaliações semestrais demonstraram superioridade de crescimento dos coqueiros consorciados com 12 plantas de gliricídia. “Nesse caso, a biomassa verde forneceu valor de nitrogênio equivalente àquele fornecido pela ureia, quando se utilizou a dosagem máxima. As demais densidades testadas também apresentaram bons resultados, substituindo parcialmente a adubação nitrogenada”, explica, acrescentando que outros fatores podem ter contribuído para o melhor desempenho dos sistemas consorciados e, por isso, serão objeto de novas avaliações.  

Fontes diz que essa tecnologia é indicada para diferentes segmentos de produtores de coco, principalmente por pequenos, e em sistemas integrados de produção com outras culturas. “O sistema consorciado possibilita o uso das entrelinhas para utilização com culturas alimentícias de ciclo curto, prática esta bastante adotada por pequenos produtores. É possível até mesmo fazer a associação com animais em virtude do alto valor proteico da gliricídia”, acrescenta.

Para ver os detalhes desta pesquisa acesse a publicação “Adubação verde com gliricídia sepium como fonte permanente de nitrogênio na cultura do coqueiro”.

Saulo Coelho (MTb/SE 1065)
Embrapa Tabuleiros Costeiros

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